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MULHERES NO TEATRO "SAVANNAH BAY"
Peça de Duras reencontra o "amor singular"
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
É Madeleine, uma atriz "com a
memória em desordem", quem
recorda e narra a história de um
grande amor para a Mulher Jovem. Mas é Helena Ignez, a atriz
de lenda do cinema brasileiro,
quem está ali, narrando e atuando
ao lado de Djin Sganzerla, sua filha, jovem atriz.
A conjunção plena das duas na
estréia do espetáculo anteontem
no Sesc Belenzinho, para uma
platéia pequena, mas deliciada,
fez de "Savannah Bay" um espetáculo de sonho, em sua primeira
apresentação.
Um espetáculo que se passa antes de mais nada entre as duas
atrizes ou personagens em cena
-que dialogam e guiam uma à
outra, seja como intérpretes na
estréia, seja como Madeleine e a
Mulher Jovem no reencontro do
passado.
Mal se percebe a diferença de
experiência de Helena Ignez e
Djin Sganzerla, ou ainda, das duas
personagens, de tal maneira estão
elas concentradas uma na outra,
vinculadas uma à outra. O que
não quer dizer, até pelo contrário,
que alienem a platéia.
Chegam a falar diretamente ao
público, a dirigir-se a ele, até porque muito da peça trata do teatro,
daquilo que ele representa como
uma alegoria da existência.
No drama poético de Marguerite Duras, a própria idéia da "atriz
de teatro", como repete tantas vezes Madeleine, confunde-se com
a imagem de alguém que ama,
ama demais. "Savannah Bay",
aliás, descrita no programa da
montagem como "a região do
amor e a história de um grande
amor", se passa num ambiente
sem desenho concreto, definido.
Faz sugestões vagas, por exemplo, quanto ao amor da história
ter gerado "uma garotinha", a
Mulher Jovem. Esta chama a suposta mãe, a certa altura, de "minha filha". Mas talvez elas sejam
mais a mestra e a aprendiz, ao tratarem do amor.
O texto é todo assim -até o final- carregado de idéias e expressões que vêm e vão, como as
ondas que o diretor Rogério
Sganzerla transformou na imagem recorrente do espetáculo.
Como era esperado, em se tratando de cineasta, "Savannah Bay"
até prioriza a atuação envolvente
de mãe e filha, mas não perde
chance para carregar o palco de
cenas de deslumbramento.
Tem projeções, como num engenhoso leque ou vela de barco
oriental -como em diversas outras sugestões de mesma origem- em que surgem as imagens do mar. Tem uma iluminação desenhada, cortante. Seu cenário, assinado por Fernando
Mello da Costa, é de poucos elementos, também de inspiração
oriental e também geometricamente marcados.
Mas importam mais que tudo,
de fato, Helena Ignez e Djin Sganzerla -a primeira expressando
nos gestos e na fisionomia arrebatada a "memória em desordem" e
a gradual lembrança da paixão; a
segunda mais contemplativa,
mais serena. Ambas inteiramente
levadas por Marguerite Duras.
São as duas atrizes que, para
além de narrar ou simplesmente
interpretar, espelham o "amor
singular", amor único que é origem e fim da peça. "Singular",
único e, como qualquer amor, é o
que parece dizer o texto, trágico:
"Alguém chora de felicidade ao
vê-los. Alguém chora porque eles
vão morrer de amor".
Pode ser todo e qualquer amor,
esse de "Savannah Bay". Savannah Bay é uma baía no Sião em
que Madeleine teria vivido ou não
esse amor "sem passado e sem futuro" de que ela tanto fala. Ou ainda, como quer o texto que abre a
peça, "Savannah Bay é você".
Avaliação:
Peça: Savannah Bay
Texto: Marguerite Duras
Direção: Rogério Sganzerla
Elenco: Helena Ignez e Djin Sganzerla
Concepção cênica: Helena Ignez
Quando: hoje e amanhã, às 21h, únicas
apresentações
Onde: Sesc Belenzinho (r. Álvaro Ramos,
991, Belenzinho, tel. 0/xx/11/6096-8143)
Quanto: R$ 2 (comerciários) R$ 5;
estacionamento grátis
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