São Paulo, Sexta-feira, 08 de Outubro de 1999
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"O MOMENTO DE MARIANA MARTINS"

Espetáculo se leva muito a sério

da Reportagem Local

Não se deve esperar a Leilah Assumpção cortante de "Adorável Desgraçada", uma peça de cinco anos atrás, ou mesmo de "Fala Baixo Senão Eu Grito"", sua estréia no teatro, três décadas atrás. Aqui o terreno é, com alguma boa vontade, a comédia de costumes -ou algo próximo, em muitos pontos mais para um drama de costumes.
Em "O Momento de Mariana Martins", no teatro Cultura Artística, fala-se da mulher amadurecida que é traída depois de anos de casamento e filhos, sua luta para reagir, seus temores e inseguranças -e do seu encontro, afinal, com o orgasmo do "ponto g".
Em suma, o terreno não é distante daquele das revistas femininas, no tema, nas situações e conflitos.
Como numa publicação do gênero, seu público pode ser descrito como um nicho de mercado, com interesse e repercussão restritos. O que salva o espetáculo "Mariana Martins" de tal armadilha, em parte ao menos, é o talento, a "carpintaria", como se diz, de Leilah Assumpção.
Tema e forma sendo restritivos, a autora se volta para o humor, para criar livremente suas tiradas de grande efeito cômico, situações vexatórias diversas, até algum despudor.
"O Momento de Mariana Martins", com isso, não fica devendo nada a um pequeno fenômeno da comédia de costumes mais popular como é "Qualquer Gato Vira-Lata Tem uma Vida Sexual mais Sadia Que a Nossa", de Juca de Oliveira.
Da nudez feminina ao triângulo amoroso, passando pelos ensinamentos sobre sexo e pelos atores de televisão, está tudo lá ou quase.
Falta a "Mariana Martins" uma encenação sem constrangimentos como a de Bibi Ferreira para "Gato Vira-Lata". Uma encenação que tomasse a nudez sem o menor recato e que não se perdesse em supostos refinamentos com figurino e cenário.
Em síntese, falta a "O Momento de Mariana Martins" assumir-se como o espetáculo comercial que é.
O bom elenco, de sua parte, não parece temer as caricaturas quando elas se impõem, até pelo contrário. Estão inteiramente à vontade em cena atores tão diferentes quanto a comediante Stela Freitas, cuja personagem vai para a cama até com o filho da amiga, e o galã Oscar Magrini, este em papéis diversos que retratam, em suma, o machista anacrônico e meio ridículo.
A protagonista Cláudia Alencar, que faz Mariana Martins, tem algumas das melhores tiradas da peça e se sai muito bem em tais passagens farsescas. Mas, dirigida ou não para tal por Luiz Arthur Nunes, a atriz leva seu personagem muito a sério.
Acredita lacrimosamente nos seus dramas -e aí o espectador comum precisa de muita boa vontade para acompanhar.
(NS)


Avaliação:  


Peça: O Momento de Mariana Martins
Texto: Leilah Assumpção
Direção: Luiz Arthur Nunes
Elenco: Cláudia Alencar, Stela Freitas, Oscar Magrini, Aracy Cardoso, Ivo Fernandes e outros
Quando: sex. e sáb, às 21h; dom., às 18h
Onde: Teatro Cultura Artística, sala Rubens Sverner (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/258-3616)
Quanto: R$ 20 (sex. e dom.) e R$ 25 (sáb.)


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