free-lance para a Folha

O Centro Cultural São Paulo apresenta, a partir de hoje, a história do último condenado à morte do país, no musical tragicômico "Caxico", escrito e dirigido por Zé Eduardo Amarante.
Caxico era o apelido do farmacêutico e fiscal fazendário Francisco Batista Ribeiro, condenado à forca em 1857, na cidade de Caldas, interior de Minas Gerais, acusado de latrocínio num julgamento arbitrário.
O caso, que não consta da história oficial, é preservado como uma espécie de folclore pela memória de pessoas que vivem na região.
Suspeita-se de que Caxico foi vítima de um complô por denunciar o tráfico de ouro na região, com o qual lucrariam os envolvidos em sua condenação, Luís Nascimento, também fiscal da fazenda, e a Corte do Império.
Nascimento teria se passado por sócio de Caxico para negociar a compra de cabeças de gado de Inocêncio de Nogueira. A dívida não foi paga e a informação de que haveria vingança foi divulgada. O comerciante de gado chegou à cidade de Caldas e, dias depois, foi encontrado morto. Nascimento entregou-se prontamente à polícia, dizendo que Caxico fora seu cúmplice no assassinato. Este então fugiu, permanecendo escondido na região.
Um ano após sua fuga, Francisco Batista Ribeiro foi preso e Luís Nascimento solto.
O espetáculo é fruto de uma pesquisa minuciosa de oito anos elaborada pelo diretor Zé Eduardo Amarante. O material foi colhido com dificuldade, a começar pelo registro da morte de Caxico, documentado na igreja e no cartório de Caldas.
O autor só teve acesso ao atestado de óbito de Francisco mediante apresentação de um mandado de segurança. O caso também não foi estudado por historiadores e especialistas. Parentes do personagem e familiares de seus algozes dificultaram o acesso aos escritos, que só puderam ser lidos sob a vigilância dos detentores.
No elenco da tragicomédia musical, que também tem autoria de Clayre Gallizzi, estão Cacá Amaral, Lizete Negreiros, Maria Rita de Melo, Gustavo Engrácia, Márcia Dolcci, João da Silva, Márcio Marques, Felipe Di Palma e Cléo Moraes. As composições e a direção musical são de Antúlio Madureira e Abigail Wimer.
(ELS)