São Paulo, Sexta-feira, 08 de Outubro de 1999
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TEATRO "A RAINHA DA BELEZA DE LEENANE"

Estréia hoje versão brasileira de hype inglês


CRISTIANO CIPRIANO POMBO
das Regionais

Um mito: a figura materna. Um caso de cumplicidade: a relação mãe e filha. E, para completar, humor negro.
Assim o jovem dramaturgo inglês Martin McDonagh construiu "The Beauty Queen of Leenane", ou "A Rainha da Beleza de Leenane", peça que jogou a seus pés a crítica teatral em Londres e Nova York e que chega hoje a São Paulo, sob direção de Carla Camurati -que sua estréia no comando de uma peça de teatro.
Escrita há cinco anos, já traduzida para 27 línguas, segundo o autor, "A Rainha da Beleza de Leenane" apresenta uma história simples com personagens fortes atrelados a questões sociais -desemprego, violência e drogas.
Ambientado dentro de uma pequena casa na cidade de Leenane (Irlanda), o espetáculo centra-se na história de Mag Folan, a mãe, e sua filha, Maurren, que, após a morte do marido/pai e o casamento das duas filhas/irmãs, passam a viver uma situação de autodependência e cumplicidade.
A mãe -já sem perspectiva de vida- usa a condição física para fazer valer suas vontades e manter a filha junto de si, enquanto a filha se entrega ao jogo da mãe e mantém inerte seu sonho de conquistar o mundo (lê-se aqui: Londres).
"A história se passa na Irlanda, mas os temas são universais: a relação familiar e a perspectiva de futuro. O que difere da nossa realidade é a forma como os personagens se expressam, falando o que vem na mente, sem a camuflagem que há no mundo civilizado", diz a atriz Xuxa Lopes.

Xeque
Em meio a pratos de mingau, programas de TV e músicas no rádio (de clássicos a U2), a atual relação entre Maurren e sua mãe é colocada em xeque com a chegada dos irmãos Dooley.
A presença dos irmãos divide a cena e o público em torcidas. De um lado, Maurren, que se apaixona por Pato Dooley e vê a chance de mudar de vida. De outro, a mãe lutando com todas as armas para manter a filha em casa.
O clima e as atitudes se tornam tão radicais a ponto de tornar o espetáculo uma tragicomédia, despertando o sentimento de "last chance" nas duas mulheres.
A mãe chega a esconder cartas, simular o agravamento de saúde e até a dizer que prefere morrer antes que a coloquem num asilo.
"Não é uma relação de ódio, mas de sobrevivência. O autor mexe com o mito da mãe, sem pieguice ou ultra-romantismo. Há realidade, cada um buscando o que é melhor para si", diz Xuxa.
A questão mítica e a cumplicidade mãe e filha ganha o peso da realidade na figura de Ray Dooley, um jovem que leva para o interior da casa "o mundo da cidade", a necessidade da busca por emprego, a violência e as drogas.
Já Pato, o mais ingênuo da trama, é quem revela o nome da peça ao conferir a Maurren o título de "rainha da beleza".
Quanto ao desfecho, fica a seu critério, ou melhor, sua torcida.


Colaborou Fábio Chiossi, das Regionais

Peça: A Rainha da Beleza de Leenane
Quando: estréia hoje, às 21h; sex., às 21h; sáb., às 19h e 21h30; dom., às 19h
Onde: Teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000)
Quanto: R$ 30 e R$ 35 (sábado)
Patrocinadores: OPP Petroquímica S.A. Petróleos, Organizações Odebrecht Ipiranga e Rio Sul


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