São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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3º FESTIVAL VARILUX DE CINEMA FRANCÊS

Em "Nossa Música", diretor explora três reinos divididos em Inferno, Purgatório e Paraíso

Godard põe cinema e público em xeque

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"Nossa Música" é um filme em três capítulos, em três tempos ou ainda em três reinos, como propõe seu autor: Inferno, Purgatório e Paraíso.
O Inferno é composto de imagens de conflito, quase todas bélicas. Imagens de um século de cinema que tanto testemunham o apego humano à destruição mútua, como a atração que ela exerce no espectador. No cinema, guerra e heroísmo quase sempre se confundem. Não haja dúvida, portanto, de que tanto o cinema, como nós mesmos, espectadores, estão em xeque.
No segundo e mais longo dos reinos, estamos na Sarajevo do pós-guerra, que tenta reencontrar um modo de convivência entre povos que se digladiaram duramente há apenas alguns anos. Todos hão de se lembrar do suplício de Sarajevo, na guerra que há uma década mais ou menos aconteceu nos Bálcãs.
Bem, agora é uma cidade pacificada, em reconstrução, recebendo um congresso literário ou algo assim. Lá está também Jean-Luc Godard para falar a um grupo de jovens. Ele tocará em alguns aspectos recorrentes de suas idéias: a de que as imagens foram recobertas pelas palavras é uma delas. Não é a única. Na cabeça de Godard, o mundo é um constante encontro de imagens redundando em idéias.
É um problema dos filmes de Godard, é inegável: as coisas que se dizem ali são tão inteligentes que dá vontade de parar o filme para anotar, como quando lemos um livro. Outro problema é o da história que nunca se conta.
Nessa parte, coloca em tensão palavras e imagens, como a não aceitar a supremacia de um sobre outro. E, de pensamento em pensamento, termina por nos propor um filme de aventura.
Não bem o filme de aventura a que estamos acostumados. A aventura se dá entre nós e a tela, na permuta constante de idéias que Godard nos propõe.
Talvez esse seja o menos inquieto dos filmes recentes de Godard. Como se o velho rebelde houvesse aceito que do inferno ao purgatório, da guerra à paz, do massacre à reconstrução, da arma ao livro, é nesses tempos que se desenvolvem nossa música e nosso martírio.


Nossa Música
Notre Musique

    
Direção: Jean-Luc Godard
Quando: dia 10, às 21h, no MIS (av. Europa, 158, tel. 0/xx/11/3062-9197); e dia 12, às 18h30, e dia 13, às 21h, no HSBC Belas Artes (r. da Consolação, 2.423, tel. 0/xx/11/3258-4092)



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