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3º FESTIVAL VARILUX DE CINEMA FRANCÊS
Em "Nossa Música", diretor explora três reinos divididos em Inferno, Purgatório e Paraíso
Godard põe cinema e público em xeque
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Nossa Música" é um filme em três capítulos, em
três tempos ou ainda em três reinos, como propõe seu autor: Inferno, Purgatório e Paraíso.
O Inferno é composto de imagens de conflito, quase todas bélicas. Imagens de um século de
cinema que tanto testemunham
o apego humano à destruição
mútua, como a atração que ela
exerce no espectador. No cinema, guerra e heroísmo quase
sempre se confundem. Não haja
dúvida, portanto, de que tanto o
cinema, como nós mesmos, espectadores, estão em xeque.
No segundo e mais longo dos
reinos, estamos na Sarajevo do
pós-guerra, que tenta reencontrar um modo de convivência
entre povos que se digladiaram
duramente há apenas alguns
anos. Todos hão de se lembrar
do suplício de Sarajevo, na guerra que há uma década mais ou
menos aconteceu nos Bálcãs.
Bem, agora é uma cidade pacificada, em reconstrução, recebendo um congresso literário ou
algo assim. Lá está também
Jean-Luc Godard para falar a um
grupo de jovens. Ele tocará em
alguns aspectos recorrentes de
suas idéias: a de que as imagens
foram recobertas pelas palavras
é uma delas. Não é a única. Na
cabeça de Godard, o mundo é
um constante encontro de imagens redundando em idéias.
É um problema dos filmes de
Godard, é inegável: as coisas que
se dizem ali são tão inteligentes
que dá vontade de parar o filme
para anotar, como quando lemos um livro. Outro problema é
o da história que nunca se conta.
Nessa parte, coloca em tensão
palavras e imagens, como a não
aceitar a supremacia de um sobre outro. E, de pensamento em
pensamento, termina por nos
propor um filme de aventura.
Não bem o filme de aventura a
que estamos acostumados. A
aventura se dá entre nós e a tela,
na permuta constante de idéias
que Godard nos propõe.
Talvez esse seja o menos inquieto dos filmes recentes de
Godard. Como se o velho rebelde houvesse aceito que do inferno ao purgatório, da guerra à
paz, do massacre à reconstrução, da arma ao livro, é nesses
tempos que se desenvolvem
nossa música e nosso martírio.
Nossa Música
Notre Musique
Direção: Jean-Luc Godard
Quando: dia 10, às 21h, no MIS (av.
Europa, 158, tel. 0/xx/11/3062-9197); e
dia 12, às 18h30, e dia 13, às 21h, no
HSBC Belas Artes (r. da Consolação,
2.423, tel. 0/xx/11/3258-4092)
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