São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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ERIKA PALOMINO

VERÃO 2005 DECOLA COM INCRÍVEL MODA DE PARIS

Depois de uma temporada morna em Milão, em que os principais desfiles foram mesmo o da Prada e o da Jil Sander -em seu novo minimalismo feminino-, Paris começou na segunda-feira dando mais esperança aos fashionistas. A grande injeção de ânimo foi dada na tarde de quarta-feira, com o teatral e divertido desfile de Viktor & Rolf. Trata-se da mais bem-feita peça de marketing dos últimos tempos, na moda. Primeiro, entravam na passarela modelos com roupas pretas, trilha sonora dramática, em clima apocalíptico, porém urbano e chique. Smokings, trench-coats, tudo desfilado com capacetes de motoqueiro, também pretos. Lacinhos aparecem nos detalhes das roupas, até se transformarem em megalaços, praticamente em mulheres-embrulhos. Uma a uma, elas foram compondo um tableau ao fundo, com poses junto a duas escadas. O final? Que nada. Uma explosão pirotécnica acontece ali, e o palco se vira, dando lugar a uma visão semelhante, mas onde modelos usavam roupas cor-de-rosa, vermelhas e beges, otimistas e suaves, ao som de música doce e a frase, ecoando: "Love bomb". Fitas de presente e flores enfeitam vestidos e looks em pink, atingindo momentos climáticos como Karen Élson num look debutante, saia rodada rosa, até uma modelo com a cabeça coberta como a ponta de uma embalagem de rosa, chegando a Karolina Kurkova como um grande embrulho de cetim.

GALLIANO MUDA TUDO NA DIOR
Viktor & Rolf são hoje os grandes iconoclastas da moda e neste momento até debocham dessa onda de pink e otimismo tomando conta das passarelas. Na saída do desfile da dupla, já satisfeitos por esse tipo de apresentação valer a vinda a Paris, recebemos uma sacola pink com o perfume da dupla, lançado nesta ocasião. O nome? Love Bomb. E ninguém me fale mais em marketing de moda e PR até a próxima São Paulo Fashion Week!
Na Dior, John Galliano mais uma vez é notícia. Chegou às primeiras páginas dos jornais internacionais vestido de Charles Chaplin, no encerramento do desfile da maison, na tarde de terça-feira. Sua moda para a tradicional casa francesa também ganhou as manchetes, pela mudança de rumos. O estilista se limpou dos excessos de seu estilo ali, que vinha dando sinais de esgotamento de um ano para cá -ainda que com ótima resposta de vendas globais. Respondendo às críticas em relação a silhuetas e volumes fora da realidade -justo num momento de pé-no-chão para a moda-, Galliano dividiu o desfile em quatro partes, bem jovial nas duas primeiras, mais adulto nas últimas. Teve a cara-de-pau de abrir o desfile com uma modelo adolescente, sem maquiagem e cabelo solto, que diferença dos looks rebuscados criados pela genial Pat McGrath. Galliano encheu a passarela de... produto. Todos os looks tinham bolsas ("n" variações da famosa forma da sela), e tudo usável, mas meio solto, em termos de estilo. O mais forte, em termos conceituais, foi o momentinho pacifista, em que, ao som de "Imagine", cantada por Madonna no show, as modelos desfilavam vestidos cortados no viés em estampa camuflada de flores, t-shirts em que se lia "Dior not war". Ahn.

NATUREZA É TENDENCINHA DA HORA
Quer saber de uma tendencinha que já dá para detectar? Essa coisa da natureza. Mar, água, praia, náuticos... Das cores lavadas da água aos corais, até mesmo uma roupa inspirada nos looks para a areia, o natural e o suave aparecem todos os dias aqui em Paris. Helmut Lang colocou nós e cordas e pérolas pratas e pretas nos seus belos e femininos vestidos. Na Balenciaga, o sempre-exótico Nicolas Ghesquiere acionou um repertório de uniformes de Marinha para um verão conceitual e seco. A grega Sophia Kokosalaki também fez natureza, inspirada por conchas e elementos do fundo do mar, numa boa estréia em Paris. Na Ungaro, Giambatista Valli fez sereias e folk grego (numa coleção com babados de mais, é verdade). Mas está tudo lá. É a busca por uma atmosfera mais harmoniosa e tranqüila, na moda, o mood do momento.

TRILHA SONORA DE PARIS
O que é uma temporada de moda sem os CDs da estação, não é mesmo? Depois de uma passadinha rápida na Colette, me abasteci com uma pilha de sons novos. Do que mais gostei: a dupla Munk. Estou adorando esse projeto, da turma de Gonzáles (que também lançou disco novo), eles lançam pela Gomma Records, e uma das faixas tem a inconfundível participação do meu ídolo James Murphy (LCD Soundsystem, que você conhece aí do sonarsound). Adquiri também a nova coletânea da série Kill the DJ, a parte 2, mixado pela dupla JG Wilkes e JD Twitch (eu também não conhecia). É bem legal, eles misturam bastante e colocam até Os Mutantes ("Minha Menina"). Doidão. Claro, a Colette número 6, com Franz Ferdinand, The Rapture, TV on the Radio, bem legal. Tipo rádio. Ah, e por falar em rádio, sempre gosto de comprar o Nova Tunes da hora, desta vez o número 10, seleção da rádio que gosto de ouvir por aqui. Tem a diva Feist e nomes interessantes da música francesa cool. Ah, comprei VHS ou Beta, sensacional, com o vocalista Mark Palgy cantando IGUAL ao Robert Smith, que tal? O The Faint também é legal, com os dois pés no punk, e o Dead Combo, do Output, é bom, mas bem barulhento, ainda não rolou muito.

STELLA SOLTA A MÃO
Stella McCartney também entrou nessa onda mais suave. Ainda brincando com elementos do guarda-roupa masculino, estilo de que ela tanto gosta, a filha de Paul se jogou em proporções soltas e também mais esportivas, tudo solto e quase jogado, sempre em tons lavados no azul e no verde, e o branco apareceu muito em saias tipo ciganas (atenção: outra tendência desta temporada). Os vestidões hippies ganharam estampa batik. Legal, comercial, acessível, mas o desfile se tornou repetitivo depois das mil entradas de moda praia. De toda forma, é roupa para as meninas de hoje. Eu adoro. Adorei o cabelo também, solto, só com textura. Viu que acabou também a era da chapinha??


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