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MEMÓRIA
Tereza Albues era dona de uma verdade assustadora
GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Faleceu, aqui em Nova York, na
quarta-feira passada, a escritora
fabulosa Tereza Albues. Mas esse
artigo não será factual, pois mal
consigo conter as lágrimas e não
sei se conseguirei ser coerente. É
que Tereza era uma das minhas
melhores amigas. Minto. Ela era
mais do que isso. Conselheira e
dona de uma verdade assustadora, nos nos tornamos íntimos logo
depois do primeiro encontro, no
"L Cafe" em Williamsburg,
Brooklyn.
Falávamos por telefone pelo
menos uma vez por dia. Conversas longas, que iam desde a literatura até a política e nossos dramas
diários. Seu livro mais conhecido
(não se pode chamá-lo de romance, apesar de sê-lo: trata-se de
uma autobiografia "em disfarce")
é "O Berro do Cordeiro em Nova
York".
Mas tem outros que não gostaria de listar ou comentar, pois estou em frangalhos e não sou crítico literário.
Passei a tarde com seu viúvo,
Robert Eisenstat. Arquiteto, ele
sobreviveu aos ataques ao World
Trade Center, onde trabalhava.
No terraço da casa, em Park Slope, Brooklyn, ele me contou de
forma pausada como foram as últimas semanas da vida de Tereza.
Acho que vale a pena falar um
pouco sobre isso, porque é nesse
processo que se pode enxergar
melhor a autora, a poeta em toda
a sua certeza de tudo, apesar de
tão vulnerável e completamente
fragilizada.
Radicada aqui havia 25 anos,
Tereza Albues vivia em dois mundos distintos. Era uma autoproclamada solitária e, no entanto,
distribuía alegria a todos, literalmente todos. Interessava-se por
tudo, mas se desligava com a mesma rapidez. Difícil explicar. Escrevo no dia em que ela faleceu e
estou inconformado com essa
morte. Foi tudo muito rápido. Ela
me dizia que o tratamento estava
indo bem. Não estava. Hoje, o Robert me disse que a decisão de
suspender tudo foi dela. Oh, Tereza! O que dizer de você? Você era
um touro de pessoa lá do Mato
Grosso, ou aqui de Nova York, sei
lá. Fomos tão íntimos. E agora?
Vou deixá-los com o último texto que ela deixou guardado em
seu computador (editado por
questão de espaço), já que eu estou sem condições.
"Se pudesse fazer de conta, deixaria de lado a encomenda pesada
de seus desejos. Cobranças. Lembranças. Coisas que tinha de varrer do espírito. Limpar a casa. Dia
de faxina. Ares novos. Quero viver em paz. Novas perspectivas.
Novas diretrizes e "goals" para a
minha vida. Fazer mais para os
outros (...).
(...) Obrigada, Senhor, pela
oportunidade deste aprendizado.
Sei que Deus vai me conceder esta
graça."
Gerald Thomas é diretor de teatro
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