São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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CINEMA/ESTRÉIA

"TUDO POR UM SEGREDO"

George Clooney produz refilmagem de comédia

Por que já não existem mais "socialistas" no cinema?

DE NOVA YORK

Cinco caras. Um cofre. Nenhum cérebro. Nunca um slogan definiu tão bem o enredo de um filme quanto o deste "Tudo por um Segredo" (Welcome to Collinwood), que estréia hoje, ótima refilmagem de "Os Eternos Desconhecidos" (I Soliti Ignoti), comédia de 1958 do cineasta italiano Mario Monicelli.
A versão 2002, que estréia no Brasil, só saiu do papel por empenho de George Clooney, que levantou o dinheiro, produziu e faz uma ponta.
Assim como seu amigo Steven Soderbergh e outros poucos, o ator é adepto do "socialismo cinematográfico": dá seu nome e uma porcentagem dos milhões que ganha em Hollywood para bancar filmes nanicos.
Agora, em vez da Itália, tudo se passa no subúrbio de Cleveland que tem o nome do título em inglês (Collinwood).
Ali, um lutador de boxe de origem croata (Sam Rockwell) se vê colocado à frente de um bando de perdedores que se preparam para arrombar um cofre, ao mesmo tempo em que se envolve com a doméstica Carmela (a bela e farta Jennifer Esposito).
O grupo é formado por um velhinho quase mendigo (Michael Jeter), um fotógrafo irlandês falido (William H. Macy), dois malandros (Isaiah Washington e Andrew Davolie) e a trambiqueira Rosalind (Patricia Clarkson), que roubou o plano original de seu namorado, Cosimo (Luis Guzman), ainda na prisão.
Todos serão treinados por um arrombador paraplégico (o ator George Clooney) procurado pela polícia.
À exceção da ponta de Clooney, o elenco não tem nenhuma estrela e talvez por isso mesmo funcione tão bem junto.
Principalmente Rockwell, mais conhecido do grande público como o vilão da versão para cinema de "As Panteras" (Charlie's Angels, 2000), que vem se especializando no papel de perdedor.
Jeter também brilha, ele que já havia marcado presença como o prisioneiro condenado à morte que cria um ratinho em "À Espera de um Milagre" (The Green Mile, 1999), adaptação de Stephen King com Tom Hanks.
Jennifer Esposito, uma espécie de versão acessível de Madonna, que poderia ser prima da gente, completa a trinca de ótimas interpretações.
Que se dê o mérito aos irmãos diretores Anthony e Joe Russo, moradores de Cleveland (daí a locação) e filhos de imigrantes italianos (daí a refilmagem).
A dupla de cineastas desconhecidos estréia no longa para cinema com este filme e teve recepção calorosa em uma das mostras paralelas do Festival de Cannes deste ano.
Ao final de 86 minutos de risadas, você sai do cinema com duas perguntas na cabeça: 1. Por que não há mais Clooneys, Soderberghs e "socialistas cinematográficos" no mundo?; 2. Que cazzo quer dizer "bellini"?
(SÉRGIO DÁVILA)

Tudo por um Segredo
Welcome to Collinwood


   
Direção: Anthony e Joe Russo
Produção: EUA, 2002
Com: George Clooney, Sam Rockwell, Michael Jeter
Quando: a partir de hoje nos cines Eldorado, Interlagos, SP Market e circuito




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