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CINEMA/ESTRÉIA
Longa baseado na autobiografia "Eu Nua", de Odete Lara, é a primeira direção de Ana Maria Magalhães
"Lara" aborda atriz-fetiche dos anos 60
DA REPORTAGEM LOCAL
"Um filme para decifrar Odete,
a atriz brasileira e me decifrar" é
como a atriz Ana Maria Magalhães, 52, define "Lara", primeiro
longa que dirige e que estréia hoje.
A cinebiografia de Odete Lara,
73, atriz-fetiche do cinema nacional nos anos 60, é baseada no livro
de memórias "Eu Nua", publicado em 1975 e relançado este ano
pela editora Rosa dos Tempos, na
carona da conclusão do longa.
Odete Lara não quis participar
da preparação do roteiro do filme.
"Escrevi sobre essa parte da minha vida como uma catarse. É um
período que já não me motiva
mais a falar nele. Estou empenhada em outras fases. Essa é uma página virada. Expliquei isso a Ana,
e ela compreendeu", disse Lara à
Folha, por telefone, de seu sítio
em Nova Friburgo (RJ).
Livro e filme relatam (com as
distinções próprias de seus formatos) recordações de infância
da atriz -como a do suicídio da
mãe; sua adolescência em São
Paulo; o suicídio do pai; os primeiros amantes; a mudança para
o Rio e o início da carreira artística, na TV e no teatro.
O roteiro (de Magalhães e Rita
Buzzar) condensou diversos personagens num só, suprimiu situações, fez um salto temporal e descreveu com uma alegoria o momento em que a atriz abraça o
zen-budismo -experiência posterior a "Eu Nua" e motivo de outras publicações da autora.
"Sacrifiquei o zen-budismo,
porque acho muito difícil filmar a
epifania", diz Magalhães. A diretora conta que, durante muito
tempo, "não tinha um final convincente para o filme". A solução
encontrada, na já citada alegoria,
tem a participação do diretor José
Celso Martinez Corrêa, como
"um homem simples e de muita
compaixão", segundo Magalhães.
As adaptações do roteiro não
incomodaram a biografada. "Como profissional de cinema, sei
que, se dez diretores filmarem o
mesmo livro, serão dez filmes diferentes. Um filme tem de ser estruturado de outra forma, exige
mudanças na história. Não pode
ser totalmente fiel ao livro", diz.
Quando "Lara" ficou pronto,
Odete Lara pediu para assisti-lo
numa sessão em que tivesse só a
companhia da cineasta. "Achava
que aquilo podia mobilizar muitas emoções em mim", conta a
atriz. Não foi o que aconteceu.
"Eu me desidentifiquei do personagem. Não fiquei comovida e
isso me deixou contente. Significa
que os velhos fantasmas não têm
mais poder. Foi um alívio. Torço
para que Ana tenha sucesso, porque ela é uma guerreira como eu."
"Lara" envolve atualmente uma
disputa na Justiça. A atriz Christine Fernandes, uma das intérpretes da protagonista, conseguiu
impedir que Magalhães escalasse
outra atriz para dublar sua voz em
português, como pretendia a cineasta, que está recorrendo da decisão.
(SILVANA ARANTES)
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