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FESTIVAL DE HAVANA
Cinema produzido em Cuba cede ao marketing do turismo
AMIR LABAKI
enviado especial a Havana
Assim como a economia, também o cinema cubano agora privilegia o turismo. Foram-se os
tempos da euforia revolucionária
dos anos 60, do didatismo dos 70
e 80 e da crítica social destes árduos 90.
Uma inegável promoção do
exotismo marca os quatro representantes de Cuba no corrente 21º
Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana.
Essa produção carrega uma espécie de selo Meliá, a cadeia espanhola de hotéis que domina a
oferta na ilha. Talvez não por
coincidência todos apresentam
espanhóis entre os co-produtores.
"Operación Fangio", o melhor
filme desta safra cubana, traz o
charme único do Malecón e da arquitetura barroca da Habana Vieja. "Un Paraíso Bajo las Estrellas"
é um anúncio em forma de comédia musical do cabaré Tropicana.
"Las Profecías de Amanda"
aposta na história verídica de
uma vidente. Por fim, o épico romântico "Cuba" frisa o calor sanguíneo dos nativos, tanto para o
amor quanto para a política.
De longe, o filme mais interessante do lote é "Operación Fangio", que apresenta a jornalista
brasileira Cláudia Furiatti entre os
roteiristas. O argentino Alberto
Lecchi dirige essa reconstituição
assumidamente livre de uma mítica aventura pré-revolucionária.
Em 1958, um grupo de opositores ao sanguinário presidente Batista sequestra o pentacampeão
Juan Manuel Fangio visando evitar sua participação numa corrida
automobilística em Havana. Lecchi inspira-se nos thrillers de Costa-Gavras para emprestar maiores emoções ao episódio. Infelizmente, escorregadelas cenográficas e certa inconstância de ritmo
reduzem o impacto.
Ainda assim, há algo de fascinante na nostalgia involuntária
emanada pelo filme. A Havana do
final dos anos 50 surge aqui glamourosa e tentadora.
Não que pesem dúvidas sobre a
simpatia dos realizadores pela Revolução. Força-se até uma polêmica simpatia de Fangio pela causa de seus raptores. Mas a nostalgia, queira-se ou não, está lá.
Algo similar acontece em "Paraíso", com um letreiro néon lembrando a existência, desde 1939,
do show de plumas, salsas e mulatas do Tropicana. Gerardo Chijona optou, porém, pela comédia
surreal, envolvendo adultérios,
incestos potenciais e até mesmo
uma ressurreição.
Por sua vez, "Las Profecías de
Amanda" jamais decola nas mãos
do veterano Pastor Vega ("Retrato de Teresa"). Contudo, Daisy
Granados, sua fiel esposa e colaboradora, explora a personagem
até os limites de seus dotes histriônicos. É até aqui a maior performance feminina do festival.
Amir Labaki está em Havana como membro
do júri da crítica
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