São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2000

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MUNDO DE BACO

Alguns "tops" e excessos do Tio Sam

JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA

Uma degustação realizada 28 de novembro passado no hotel Warwick, em Nova York, e que contou com 14 cabernet sauvignon norte-americanos de ponta, deixou mais uma vez muito claro que, se por um lado das vinícolas californianas estão saindo alguns dos melhores vinhos do planeta, por outro, uma boa parte dos exemplares "top" do país, considerando a sua performance, tem preços para lá de exagerados.
Para aqueles que planejam passar o fim do século na terra do Tio Sam e aproveitar a visita para investir alguns dólares em goles americanos, vão aqui os resultados da prova. O painel foi integrado por três vinhos da safra 96 (Abreu "Madrona Ranch", Harlan Estate e Screaming Eagle) e 11 da colheita 97, considerada entre as melhores do século (Araújo "Eisele Vineyard", Bryant Family, Caymus "Special Selection", Dominus, Etude, Fischer "Lamb Vineyard", Peter Michael "Lês Pavots", Robert Mondavi "Reserve", Joseph Phelps "Insígnia", Pride Mountain "Reserve" e Seavey), que foram servidos às cegas, sem que os participantes soubessem que vinho estava sendo avaliado.
Revelada a identidade das amostras, o Caymus ficou como (nítido) lanterninha. O "Special Selection" 97 (encorpado, com aroma que combina fruta com certo toque animal, um tanto desequilibrado na acidez) é um bom vinho, mas não se mostrou à altura dos cabernet que deram fama a partir do fim da década passada à casa de Napa Valley, muito menos do seu preço (87/100, US$ 175, preços aproximados no mercado norte-americano).
Um pouco acima dele, ficaram o Etude (bom paladar de framboesa e cereja, misturado com couro e torrefação, 89/100, US$ 70) e o Screaming Eagle (baunilha, madeira, frutas), que merece um parágrafo à parte.
Esta é a terceira vez que experimento o badaladíssimo vinho da enóloga Heidi Barrett (sempre bom, mas nada extraordinário) sem conseguir entender por que ganhou tanta fama ou custa tanto. O que acredito ter finalmente descoberto é por que a águia ("eagle", em inglês) estampada no rótulo do vinho está gritando ("screaming"): deve ser de espanto causado pelo preço das garrafas que decora (89/100, US$ 1.000).
O próximo degrau (todos com nota 90/100) foi ocupado pelo Mondavi (bom equilíbrio de fruta e madeira, US$ 100), o Seavey (potente, tânico, fechado ainda, US$ 70), o Harlan (igualmente concentrado e muito novo ainda, de US$ 350 a US$ 695) e o Pride Mountain (outro exemplar muscular, o mais denso do conjunto, US$ 150).
Melhor ainda foi a performance do Dominus, o vinho californiano de Christian Moueix, o dono do Château Petrus (com fortes traços de fruta e torrefação no aroma e paladar e taninos maduros, 91/ 100, US$ 110) e do Bryant (bom perfume que combina fruta e lanolina, paladar equilibrado, 91/ 100, US$ 395).
Na sequência, rumo ao topo, o Araújo (café, frutas vermelhas, paladar aveludado, 93/100, US$ 395) e o Phelps "Insígnia" (framboesa, carvalho, toques defumados, sabor equilibrado e persistente, 93/100, US$ 115).
O pódio acabou sendo ocupado pelo Abreu "Madrona Ranch" (fruta e mais fruta, toques de chocolate e madeira, taninos finos, 94/100, US$ 150), o Peter Michael (paladar denso, cheio de fruta, complexo e longo, 95/100, US$ 150) e, na ponta, o Fischer (potente, com uma concentração de fruta surpreendente, um tinto hedônico de excelente textura e final delicioso, 96/100, US$ 90), um vinho de uma vinícola que começou a ganhar destaque na safra de 94 e que vale a pena "caçar" nas lojas de Manhattan.


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