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Cinema
Crítica/"O Ilusionista"
Novo filme de mágico é tão bom quanto "O Grande Truque"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Há alguma coisa em Edward Norton, um dos
grandes atores americanos de sua geração, que irrita.
Pode ser sua cara de fuinha. Ou
o registro de sua voz, anasalada
e algo metálica. Ou seu primeiro papel no cinema, como o maquiavélico Aaron, de "As Duas
Faces de um Crime" (1996)
Talvez por isso Hollywood
tenha tentando relegá-lo a papéis de vilão, o que ele faz bem,
como os golpistas de "Cartas na
Mesa" (1998) e "A Cartada Final" (2001), em que contracena
com Marlon Brando e Robert
De Niro e não fica nada a dever,
ou o neonazista arrependido de
"A Outra História Americana"
(1998), talvez seu melhor desempenho até hoje.
Mas, vez que outra, Norton
tem a chance de mostrar sua
versatilidade. Foi o caso em "O
Clube da Luta" (1999) e no musical "Todos Dizem Eu Te
Amo" (1996), de Woody Allen,
em que chega mesmo a cantar.
É do segundo time, dos papéis
versáteis, esse "O Ilusionista",
que estréia hoje em São Paulo.
Filmes sobre mágicos
Dirigido pelo talentoso Neil
Burger, que só fez antes o excelente "Interview with the Assassin", em 2002, sobre um hipotético ex-fuzileiro naval que
se diz o tão procurado "segundo atirador" da morte de JFK, o
filme chega à cidade depois da
estréia do semelhante "O Grande Truque", de Christopher
Nolan, o que pode prejudicá-lo.
Seria injustiça. "O Ilusionista" é tão bom quanto aquele.
Mas os paralelos são inevitáveis: enquanto o primeiro centra seu foco na disputa da vida
inteira entre dois mágicos
(Hugh Jackman e Christian Bale) por um truque inatingível, o
segundo fala da luta entre um
mágico plebeu (Norton) e um
herdeiro (Rufus Sewell) pela
mesma mulher (Jessica Biel).
O filme é baseado no conto
"Eisenheim, o Ilusionista", de
Steven Milhauser, que parte de
um fato histórico, envolvendo o
príncipe Rudolf, da Áustria, filho único do imperador Franz
Josef, e sua amante, a baronesa
Mary Vetsera. Se o espectador
não conhece a história, melhor
assistir em ignorância.
Eisenheim (Norton) e Sophie (Jessica) crescem juntos e
se apaixonam. Pela diferença
social, são separados; ele desaparece, mas promete voltar para resgatá-la. É o que faz ao se
tornar o mágico mais famoso
do império. Mas terá de enfrentar antes o herdeiro Rudolf (Sewell), todo seu dinheiro e aparato de segurança (este conduzido por um excelente Paul
Giamatti) e sua própria insegurança, alimentada pelo desprezo de seu pai, o imperador, que
o filho mascara com crueldade.
Além do fato de Norton ter
aprendido a maior parte dos
truques para o papel com o mágico britânico James Freedman, não há grandes pirotecnias nesse filme simples e bem-feito, contado e interpretado,
que surpreenderá em mais de
um sentido quem prestar a
atenção até o final.
De novo, como num truque
bem executado.
O ILUSIONISTA
Direção: Neil Burger
Produção: EUA/República Tcheca, 2006
Com: Edward Norton, Paul Giamatti
Quando: a partir de hoje nos cines Iguatemi Cinemark, Tamboré e circuito
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