São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2006

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Cinema

Crítica/"O Ilusionista"


Novo filme de mágico é tão bom quanto "O Grande Truque"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Há alguma coisa em Edward Norton, um dos grandes atores americanos de sua geração, que irrita. Pode ser sua cara de fuinha. Ou o registro de sua voz, anasalada e algo metálica. Ou seu primeiro papel no cinema, como o maquiavélico Aaron, de "As Duas Faces de um Crime" (1996) Talvez por isso Hollywood tenha tentando relegá-lo a papéis de vilão, o que ele faz bem, como os golpistas de "Cartas na Mesa" (1998) e "A Cartada Final" (2001), em que contracena com Marlon Brando e Robert De Niro e não fica nada a dever, ou o neonazista arrependido de "A Outra História Americana" (1998), talvez seu melhor desempenho até hoje.
Mas, vez que outra, Norton tem a chance de mostrar sua versatilidade. Foi o caso em "O Clube da Luta" (1999) e no musical "Todos Dizem Eu Te Amo" (1996), de Woody Allen, em que chega mesmo a cantar. É do segundo time, dos papéis versáteis, esse "O Ilusionista", que estréia hoje em São Paulo.

Filmes sobre mágicos
Dirigido pelo talentoso Neil Burger, que só fez antes o excelente "Interview with the Assassin", em 2002, sobre um hipotético ex-fuzileiro naval que se diz o tão procurado "segundo atirador" da morte de JFK, o filme chega à cidade depois da estréia do semelhante "O Grande Truque", de Christopher Nolan, o que pode prejudicá-lo.
Seria injustiça. "O Ilusionista" é tão bom quanto aquele. Mas os paralelos são inevitáveis: enquanto o primeiro centra seu foco na disputa da vida inteira entre dois mágicos (Hugh Jackman e Christian Bale) por um truque inatingível, o segundo fala da luta entre um mágico plebeu (Norton) e um herdeiro (Rufus Sewell) pela mesma mulher (Jessica Biel).
O filme é baseado no conto "Eisenheim, o Ilusionista", de Steven Milhauser, que parte de um fato histórico, envolvendo o príncipe Rudolf, da Áustria, filho único do imperador Franz Josef, e sua amante, a baronesa Mary Vetsera. Se o espectador não conhece a história, melhor assistir em ignorância. Eisenheim (Norton) e Sophie (Jessica) crescem juntos e se apaixonam. Pela diferença social, são separados; ele desaparece, mas promete voltar para resgatá-la. É o que faz ao se tornar o mágico mais famoso do império. Mas terá de enfrentar antes o herdeiro Rudolf (Sewell), todo seu dinheiro e aparato de segurança (este conduzido por um excelente Paul Giamatti) e sua própria insegurança, alimentada pelo desprezo de seu pai, o imperador, que o filho mascara com crueldade.
Além do fato de Norton ter aprendido a maior parte dos truques para o papel com o mágico britânico James Freedman, não há grandes pirotecnias nesse filme simples e bem-feito, contado e interpretado, que surpreenderá em mais de um sentido quem prestar a atenção até o final. De novo, como num truque bem executado.


O ILUSIONISTA    
Direção: Neil Burger
Produção: EUA/República Tcheca, 2006
Com: Edward Norton, Paul Giamatti
Quando: a partir de hoje nos cines Iguatemi Cinemark, Tamboré e circuito


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