São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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TRECHO

Pelas vidraças da casa de chá posso ver a fachada maciça da estação de ferro. As cúpulas de cobre estão fora de foco porque a temperatura baixou e o nevoeiro gelado começou a descer. A praça é oval, o pavimento de pedra brilha sob um reflexo instável e o relógio da estação está marcando quatro e meia. É inevitável que daqui a pouco ele soe claro como uma caixa de música holandesa. Não distingo os ponteiros metálicos depois que uma estria de névoa fica flutuando em frente ao mostrador.
Estamos os dois sentados numa mesa vermelha coberta por uma toalha de renda e terminamos de beber o chá.
Acho o lugar confortável só de observar o tempo lá fora e quando vou falar com ela sobre isso noto que a névoa também esconde sua cabeça.
Ela não tirou o casaco azul de gola de pele e parece encolhida de frio a dois passos de uma lareira acesa. Passo a mão direita pelo rosto pálido e desço os dedos até o queixo fino. Ela agradece com um movimento muito leve e eu cubro sua mão esquerda sobre a toalha. Lembro então que temos apenas meia hora para embarcar. A viagem, que devia durar duas horas, chegou a quatro e resta ainda esse intervalo de minutos para tomar o trem de volta. A verdade é que ela havia consultado antes os mapas e se enganado completamente em relação à cidade.

Extraído de "Por Trás dos Vidros", de Modesto Carone


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