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CINEMA/ESTRÉIA
"A BRUXA DE BLAIR 2"
Continuação da maior surpresa de 1999 custou mais e arrecadou menos que a versão original
Filme separa entretenimento e realidade
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
A pergunta ecoava sem resposta entre os executivos da Artisan:
como fazer a sequência de um fenômeno cultural que custou míseros US$ 35 mil e arrecadou mais
de US$ 140 milhões?
A resposta que vinha da legião
de fãs do primeiro "A Bruxa de
Blair" era simplesmente não fazer. O que esses aficionados não
queriam era dar ao nome "A Bruxa de Blair" qualquer associação
comercial, e a mensagem era clara: o primeiro filme fora suficientemente intrigante e apaixonante,
nada poderia superá-lo.
Mas a Artisan, claro, sentiu-se
no direito de explorar um pouco
mais a histeria coletiva que envolveu "BB1", e fazer ou não "A Bruxa de Blair 2" nunca chegou a ser
uma dúvida, mesmo sabendo que
os criadores do filme original
-Daniel Myrick e Eduardo Sanchez- não estavam dispostos a
perder tempo com isso.
Tanta certeza eles tinham no sucesso de "BB2" que lhe destinaram um orçamento 500 vezes
maior: US$ 15 milhões e apenas
nove meses de prazo.
A solução foi chamar um dos
mais respeitados documentaristas americanos, Joe Berlinger, 37,
que dedicou seus quase 20 anos
de carreira a explorar a vida, os
motivos e os crimes de serial killers nos EUA para abraçar "BB2".
Berlinger, que há muito procurava fazer seu primeiro longa,
aceitou o desafio e, em apenas
cinco semanas, tinha um roteiro.
"Eu estava em uma reunião,
tentando vender meu primeiro
filme para o estúdio", disse ele em
entrevista à Folha em Los Angeles, "quando eles disseram: "Olha,
esse seu filme nós não vamos fazer, mas o que você diria se nós o
convidássemos para escrever e dirigir "BB2'?'"
Berlinger diz que ficou sem fala.
Primeiro porque, como documentarista, havia ficado perturbado com "BB1", não só por causa
da histeria cultural que antecipou
e seguiu-se ao filme, mas porque
os produtores tentaram ludibriar
o público vendendo a idéia como
coisa real. "Havia pessoas que
acreditavam que não se tratava de
um filme, mesmo vendo os atores
principais na capa das principais
revistas especializadas."
Mas, na pele de grande fã de filmes de terror, Berlinger acha que
"BB1" foi uma agradável surpresa. Portanto, o diretor estava dividido e decidiu que só aceitaria a
proposta se pudesse fazer a sequência da forma que bem entendesse; assim, ele fez o que chamou
de uma sequência pós-moderna.
"Decidi fazer um filme sobre a
reação que o primeiro "BB" provocou", disse. "Fico profundamente
perturbado com a falta de discernimento entre realidade e entretenimento e decidi explorar isso em
meu filme", explicou.
O diretor acha que, quando foi
convidado para fazer "BB2", a intenção da Artisan era aproveitar
suas qualidades como documentarista e repetir o formato do primeiro filme de forma ainda mais
grandiosa. Mesmo sabendo disso,
ele quis andar por florestas nunca
antes visitadas.
"Não podia simplesmente chacoalhar a câmera, enganar mais
uma vez o público e revisitar o
primeiro cenário. Até porque, para mim, o diabo tem feições muito
humanas, e não sobrenaturais como "BB1" insinua." Para ele, que lida com serial killers em seus documentários há anos, diabólico e
demoníaco são os homens que
vestem-se de padres e estupram
meninas ou aqueles que dedicam
uma vida a torturar e violentar
outros seres humanos. "O demônio vive entre os homens, e não na
floresta", afirma categoricamente.
Berlinger conta que sempre
soube que a continuação do fenômeno "A Bruxa de Blair" não seria seguida do enorme sucesso do
primeiro. "Não se pode derrubar
o Muro de Berlim duas vezes",
disse. Mas talvez ele não esperasse
é que seu "A Bruxa de Blair" arrecadasse menos de US$ 30 milhões
em bilheteria nos Estados Unidos.
A vontade dele, entretanto, era
fazer um filme ainda menos comercial, com menos sangue, menos violência gráfica e com um final ainda mais aberto do que
aquele que está hoje nas telas, mas
o estúdio não permitiu.
"Sou um grande fã do comportamento degenerado do homem",
explicou ele. "E quem conseguir
entender o filme que fiz, vai perceber que se trata de um documentário satírico sobre o fenômeno cultural e a histeria coletiva
que o primeiro "A Bruxa de Blair"
significou."
Não se pode acusá-lo de falta de
ousadia, é verdade. Porque, ao
tentar demarcar em cores muito
fortes a linha que separa entretenimento e realidade, ele acabou
destruindo aquele que foi o grande diferencial do primeiro filme:
exatamente isso, a falta de distinção entre entretenimento e realidade.
(MILLY LACOMBE)
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