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Clint Eastwood tenta segundo Oscar na direção com "Menina de Ouro"
Touro indomável
BRUNO LESTER
DA IFA
O ator Clint Eastwood fez 74
anos, mas não está apenas curtindo seus dois Oscar -direção e filme- por "Os Imperdoáveis"
(92). Depois de ter refeito sua
imagem diversas vezes, o astro,
que tem no currículo mais de 50
longas como ator e 25 como diretor, continua a ser uma potência.
Seu "Menina de Ouro", que estréia nesta sexta no Brasil, já levou
o Globo de Ouro de melhor direção, no mês passado, e na cerimônia do Oscar, marcada para o dia
27, está entre os favoritos para ganhar sua segunda estatueta
-Martin Scorsese, com "O Aviador", é o único que pode impedir.
Adaptado de livro de contos do
ex-pugilista F.X. Toole, "Menina
de Ouro" mostra a relação entre
Frank (Eastwood), um velho treinador de boxe, e Maggie (Hilary
Swank), a garçonete que, a contragosto, concorda em treinar.
Com direção enxuta, o filme
custou US$ 30 milhões (cerca de
R$ 78 milhões), foi rodado em 38
dias e indicado a sete Oscar.
A carreira de Eastwood decolou
com o seriado de TV "Rawhide",
em 1959. Quando o programa
chegou ao fim, em 1966, se tornou
famoso no cinema estrelando os
westerns spaghetti de Sergio Leone. Nos anos 70, se consolidou
com a franquia "Dirty Harry".
Apesar de sua carreira prolífica
-continua a rodar um filme por
ano, pelo menos-, encontrou
tempo para começar uma nova
família. Sua filha de oito anos,
Morgan, faz sua estréia no cinema
como a menina que acena para a
personagem de Hilary Swank.
Pergunta - Como continua a fazer
cinema por tanto tempo?
Clint Eastwood - Tenho tido sorte. Estou durando mais do que todos, me recusei a ir embora.
Pergunta - Você encontrou sua
expressão aos 60 anos...
Eastwood - É verdade, as pessoas
parecem se surpreender com isso.
Outra noite, Steven Spielberg me
disse: "Você dá esperanças a nós
que estamos vindo depois de você, porque faz seus melhores trabalhos agora, aos 70 anos".
Pergunta - Mesmo assim, parece
que você sempre enfrenta problemas para realizar seus projetos.
Eastwood - Quando levei "Menina de Ouro" para o estúdio [a
Warner Bros.], eles disseram:
"Filmes sobre boxe não vendem".
Pensaram que seria algo como
um "Rocky" feminino. Disse a
eles: "Não é uma história sobre
boxe, é sobre esperanças e sonhos. É uma história de amor. O
boxe apenas está ali". Não adiantou [no final, a Warner arcou com
metade do orçamento; o restante
saiu da independente Lakeshore
Entertainment]. Com "Sobre Meninos e Lobos" foi a mesma coisa.
Tive que implorar por dinheiro,
pedir emprestado e roubar.
Pergunta - Que tipo de projetos
os estúdios esperam?
Eastwood - Estão interessados
em seqüências, remakes ou adaptações de seriados antigos. Não sei
se isso se deve ao ambiente empresarial ou se as pessoas simplesmente andam sem idéias. Daqui a
pouco vão querer fazer um filme
baseado em "Rawhide".
Pergunta - Ainda lhe sugerem
que volte a fazer "Dirty Harry"?
Eastwood - Sim. Quem sabe algum roteirista seja capaz de fazer
algo brilhante com aquilo. Nunca
diga "dessa água não beberei".
Pergunta - O que faz você ter vontade de fazer um filme?
Eastwood - Ainda me sinto instigado quando encontro uma história boa. Posso não dar pulos tão
altos quanto dava antes [risos],
mas ainda sinto vontade de pular.
Estou velho demais para representar um personagem jovem, fazendo coisas em que ninguém
acreditaria. Gosto de heróis que
tenham uma falha pessoal ou um
obstáculo que precisam superar.
Pergunta - Você tem evitado os
papéis de durão?
Eastwood - Representar tiras enfurecidos ou pais vingativos não
me interessa mais. Repetir o que
já fiz no passado não é uma opção. Foi divertido, mas não quero
voltar a ser Dirty Harry.
Pergunta - Quais são as vantagens de envelhecer?
Eastwood - Você pode brincar
de coisas que nunca brincou antes. Mas, para se manter vivo, precisa criar obstáculos a superar.
Pergunta - Você vai se aposentar
como ator?
Eastwood - Em algum momento
vou passar a só dirigir. É bem
mais difícil fazer as duas coisas.
Em um certo ponto direi "chega",
como Cary Grant fez quando estava com uns 60 anos. Acho que
ele concluiu que estava velho para
se ver como um par romântico.
Pergunta - Como diretor, você
trabalha rápido.
Eastwood - Odeio fazer muitos
ensaios e muitas tomadas. Conversei certa vez com um diretor
que gosta de ensaiar as cenas até
elas ficarem ruins e então continuar a ensaiar até elas ficarem
boas novamente. Achei isso uma
maneira estranha de trabalhar.
Gosto de dirigir do jeito que gosto
de ser dirigido, que é: "Deixe-me
ir aí e lhe mostrar o que eu sei fazer". E, se o que eu sei fazer não
serve, então me diga e vamos trabalhar para melhorar. Mas não
diga: "Fique parado ali, diga isso e
vamos repetir isso 25 vezes", senão a cena vai ficar velha, passada.
Pergunta - Sempre dirigiu assim?
Eastwood - Não, isso começou
quando eu estava fazendo "Os
Imperdoáveis". Pedi a Gene
Hackman que repassasse uma cena enquanto eu pensava em onde
colocar a câmera, então ele começou. Ele estava tão perfeito que falei: "Pare, vamos ligar a câmera".
Fiquei desesperado. Estava tão
bom que eu não queria perder o
frescor, a espontaneidade.
Pergunta - Como você descreveria seu estilo de direção?
Eastwood - Não me vejo como
tendo um estilo específico. Eu me
vejo como tendo um estilo que se
adapta ao filme. É a história que
manda. Se você tem um roteiro
realmente bom e gente boa, precisa fazer um esforço muito grande
para conseguir estragar tudo.
Pergunta - Existem coisas que você gostaria de ter feito diferente?
Eastwood - Todo o mundo,
quando olha para sua vida passada, tem coisas que gostaria de ter
feito diferente. Mas toda decisão
que já tomei na vida foi baseada
no conhecimento que eu tinha na
época. Podem não ser as decisões
que eu tomaria hoje, mas não é
possível voltar para trás.
Pergunta - Qual será seu próximo
projeto?
Eastwood - Vou começar a filmar "Flags of Our Fathers" (bandeiras de nossos pais), sobre os
soldados americanos que hastearam a bandeira sobre Iwo Jima na
Segunda Guerra, com produção
de Spielberg. Vai ser difícil e muito diferente. Mas, se trabalharmos
bem, pode sair algo especial.
Tradução Clara Allain
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