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RELÂMPAGOS
A letra
roubada
JOÃO GILBERTO NOLL
Naquela manhã passaram
a me ver diferente. Ao entrar
no Centro de Crédito, veio
logo o tratamento de "senhor". Antes, afetação de intimidade. Agora, sobriedade
forçada. Pareciam encenar
uma infâmia que eu jamais
conseguiria acessar com minhas próprias armas. Fariam o trabalho de descortiná-la aos poucos para mim.
Sentei, à espera do fim da
sessão. Pediram que eu assinasse. Fui assinando como
um ancião, trêmulo. As letras iam se desfigurando,
alienavam-se do meu traço.
Vertiam seu esmalte, já analfabetas. Eu não contava mais
com a caligrafia do meu nome.
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