São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2000


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RELÂMPAGOS
A letra roubada

JOÃO GILBERTO NOLL

Naquela manhã passaram a me ver diferente. Ao entrar no Centro de Crédito, veio logo o tratamento de "senhor". Antes, afetação de intimidade. Agora, sobriedade forçada. Pareciam encenar uma infâmia que eu jamais conseguiria acessar com minhas próprias armas. Fariam o trabalho de descortiná-la aos poucos para mim. Sentei, à espera do fim da sessão. Pediram que eu assinasse. Fui assinando como um ancião, trêmulo. As letras iam se desfigurando, alienavam-se do meu traço. Vertiam seu esmalte, já analfabetas. Eu não contava mais com a caligrafia do meu nome.


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