São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISCO - TRILHA SONORA
Air lança segundo CD que não é segundo CD

Reprodução
Jean-Benoit Duckel (esq.) e Nicolas Godin, da dupla francesa Air, que lança o álbum 'The Virgin Suicides'


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local


É moda isso agora: o segundo álbum do Air não é o segundo álbum do Air. Trilha sonora do filme "The Virgin Suicides", não é exatamente a continuação de "Moon Safari" (98), que vendeu 800 mil cópias planeta afora e projetou para o mundo, como um dos mais consistentes produtos dos 90, a dupla francesa de pop retrô eletronizado.
É, antes, um CD "ambiental", desses de servir mesmo de pano de fundo para o filme de destino. Nesse sentido, não pode ser comparado com -nem chega aos pés de- "Moon Safari".
Não é que falte o caldo formulado desde o EP "Premiers Symptomes" (97, relançado em 99, pós-sucesso, com duas faixas a mais) pelos "sexy boys" Jean-Benoit Duckel, ex-professor de física, e Nicolas Godin, ex-arquiteto.
Todo o referencial pop/cinematográfico está impresso no CD (ainda sem lançamento nacional previsto), da música kitsch-chique de Serge Gainsbourg, Françoise Hardy, Henry Mancini, Burt Bacharach e Ennio Morricone às comédias de Jacques Tati.
Saíram fora algumas das marcas retrô resgatadas de um passado já remoto de Beach Boys e análogos: os sintetizadores Moog, os pianos Rhodes, o instrumento marciano Theremin (aquele que vibra à aproximação das mãos, evocando sons siderais), o processador de voz Vocoder. Aqui, são só órgãos, cordas, baixo, algum sax, alguma bateria.
O tema de exceção é a canção "Playground Love", que abre o disco (e volta, intermitente, como tema incidental, com ápice na locução sob fundo dolorido, romântico, lindo, de "Suicide Underground").
Cantada por um tal Gordon Tracks (o Air afirma que não gosta de usar grandes nomes para aveludar suas ambiências, embora já tenha chamado a lenda viva Françoise Hardy para cantar em "Jeanne", presente num single de 98), é amor, veludo, pelúcia.
Menos irônica que "Sexy Boy", tão lírica e amorosa quanto "Kelly Watch the Stars", menos melosa que "All I Need" e menos astronômica que "Le Soleil Est Pres de Moi", é um primor de languidez, promessa de embalar corações como as anteriores já fizeram. Air continua tão mimoso como o gorilinha do clipe de "Sexy Boy".
Diferentona também é "Dead Bodies", um rock'n'roll quase tecno de elaboração instrumental de fazer gosto, uma nave espacial aterrissando, senão decolando.
De resto, as influências dos climas que vão e vêm em "The Virgin Suicides", um CD afinal repetitivo, se concentram num nome, David, e num sobrenome, Bowie.
"Bathroom Girl" tanto pode ser o Bowie de "The Man Who Sold the World" (71) quanto o de "Ziggy Stardust" (72), quanto o de "Station to Station" (76), quanto o de "Heroes" (77), mas "Ghost Song" é, seguramente, o de "Low" (77). É o lado escuro da Lua.
É esse o parquinho de diversões, para enquanto se espera o segundo CD "de verdade", que segundo o Air já está gravado e pode sair a qualquer momento. Por enquanto, só mais um pouco de amor turvado de ceticismo. É o Air.


Avaliação:    


Disco: The Virgin Suicides Grupo: Air Lançamento: Astralwerks (importado) Quanto: R$ 36, em média Onde encomendar: Bizarre (0/xx/11/ 220-7933), Indie (0/xx/11/816-1220), London Calling (0/xx/11/223-5300)


Texto Anterior: Teatro - Em Cartaz: "Apocalipse" dá novo sentido às palavras
Próximo Texto: Vídeo expõe ideologia do duo francês
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.