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TEATRO
Atriz assume ofício em "Quinze Personagens à Procura de um Papel", com alunos do Célia Helena (SP)
Yáconis, 50 de palco, estréia na direção
da Redação
Desde a primeira atuação no
palco, 50 anos atrás, o acaso converteu-se em coadjuvante na carreira de Cleyde Becker Yáconis.
Em 1950, ela sonhava com medicina, cursava o terceiro ano científico (segundo grau) quando foi
surpreendida com o convite para
substituir Nydia Lícia em "Anjo
de Pedra", de Tennessee Williams. Contracenou de chofre
com a irmã Cacilda. Hoje, aos 76
anos, tampouco imaginava assinar a sua primeira direção teatral.
Tudo por acaso (mas nem tanto).
No próximo sábado, Yáconis
estréia "Quinze Personagens à
Procura de um Papel", um apanhado de textos de grandes dramaturgos: Shakespeare, Tchecov,
Brecht, Strindberg, Eurípedes,
Lorca, Albee etc. Trata-se de fragmentos pinçados pelos próprios
formandos do teatro-escola Célia
Helena, onde ela dá aula.
Convidada pela diretora da instituição, a também atriz Lígia
Cortez, Yáconis fora incumbida
de trabalhar durante três meses
com os estudantes, dando-lhes
subsídios para interpretação. A
direção ficaria a cargo de outra
pessoa. Mas Lígia conseguiu convencê-la a levar o projeto a cabo.
"Não é uma descoberta de vocação a essa altura da vida", descarta
Yáconis. Sentiu-se estimulada pela "safra" de atores (três rapazes,
11 moças -a 15ª não irá atuar por
problema de saúde).
A trajetória artística de Yáconis
contempla também a TV e o cinema (este em menor proporção,
como em "Na Senda do Crime",
1954, dirigido por Flamínio Bollini). A última atuação em novela
foi em "Torre de Babel" (1998), na
qual interpretava Diolinda, que
lhe deu o prêmio de melhor coadjuvante pela crítica, devidamente
ignorado pela atriz ("eu não gosto
de prêmios", simplesmente).
Há 10 anos, Yáconis adotou como residência uma chácara localizada em Jundiaí (60 km a noroeste de São Paulo). Um cômodo
contíguo à sala em que recebeu a
Folha tem suas paredes preenchidas por fotos em preto-e-branco
de Cacilda Becker (1921-69). Até o
figurino e o chapéu-coco de Estragon, o derradeiro papel do mito ("Esperando Godot", Samuel
Beckett) estão lá expostos a um silêncio beckettiano por excelência.
Yáconis mora sozinha. Em casa,
passa boa parte do tempo com os
cães Pipoca e Felipe e com os caseiros. Não teve filhos ("sábia resolução"), casou uma vez ("não
sou romântica, detesto melação"), tem ojeriza a efemérides
("não festejo nem aniversário,
que bobagem!") e se incomoda
quando perguntada sobre sua relação com Cacilda ("vocês acham
que por ser irmã tinha inimizade?"). Leia principais trechos da
sua entrevista.
(VALMIR SANTOS)
A IRMÃ - "Tem Fernanda, Tonia Carrero, por que me perguntam sobre Cacilda? Vocês acham
que por ser irmã tinha inimizade?
Concorrência existe, pois quando
você é uma atriz procura trabalhar para fazer bem o seu papel,
mas não para ofuscar outra atriz.
Eu e Cacilda nos amávamos. A
nossa família era constituída de
paixão. Qualquer estréia da Cacilda matava-me de pavor, de angústia, e a recíproca era verdadeira. Ela queria que eu fizesse o melhor possível, tínhamos loucura
uma pela outra."
A PROFESSORA - "A experiência de dar aulas também é recente. Há cerca de três anos, dei um
curso para os professores do teatro-escola Célia Helena. É a segunda vez que estou lá, agora
com os alunos. Também passei
pela Casa de Artes Laranjeiras
(CAL), no Rio. Eu gosto muito."
A DIRETORA - "É sempre um
começo. Quando você pega um
texto, aos 50 anos de carreira, começa a viver o mesmo medo, a
mesma tortura. Existe um papel
com letras de fôrmas e precisa
transformá-las em seres humanos. A direção é uma incógnita: se
vai dar certo ou errado, só quando estrear vamos saber."
O MÉTODO - "É o resumo do
que aprendi nesses 50 anos, uma
maneira de estudar que é composta de várias experiências, de
atores, diretores que sempre observei. Eu fui juntando. Evidentemente, alguns poderão rejeitar
essa minha maneira de estudar."
AS INFLUÊNCIAS - "Posso citar um ou outro diretor que chegou mais profundamente, mas,
depois de tanto tempo de teatro, é
uma soma de todos: Ziembinski,
Celi, Salce, Bollini, Ratto, Abujamra, Ulysses Cruz etc. Mas gosto mais quando o diretor alia uma
encenação de inventivas com o
ator bem amparado; não pode ser
posto em segundo plano."
A POLÍTICA - "Engajamento é
diferente de conhecimento. O
teatro é uma síntese da sociedade.
Muda conforme o mundo porque joga no palco a síntese da sociedade. Um ator que não saiba o
que acontece no mundo, dificilmente poderá representar numa
peça onde, digamos, o aspecto
político seja importante, ou então
o aspecto moral, ético, religioso.
O ator será um alienado. Eu sou
petista, mas não tenho uma atuação. Nunca fiz campanha, não tenho talento para isso. Mas esperança a gente sempre tem. Mesmo com as falhas, os erros, as divergências, mesmo aos trambolhões, o PT é uma alternativa."
A OPÇÃO - "Para a mulher que
não tem vocação, criança é uma
coisa terrível, é um cansaço, é dificílimo você criar um filho. Eles
são possessivos, querem você inteira, são exigentes. O que se faz
de maldade, de espancamento
por conta da impaciência..."
O ISOLAMENTO - "Sou um bicho do mato, não saio, não vou a
restaurantes. Quando termino de
assistir a um espetáculo, não vou
me despedir no camarim... É da
casa para o trabalho, do trabalho
para a casa, e só. Não vou a casa
de ator, e atores não vêm à minha
casa. Vivo solitária aqui. Tem
gente que precisa de vínculo, como o Falabella, que precisa de 300
pessoas ao redor dele, à sua maneira. Eu, com mais de seis, não
suporto."
OS 50 ANOS - "Não ligo para
essas coisas. Sinto-me uma principiante. Não sei para que festejar
50 anos. Eu não festejo nem aniversário, que bobagem. Eu não
guardo nada, uma crítica, uma
fotografia, o que passou, passou.
Eu não gosto de prêmio, não vou
receber."
"Eu gosto quando abro a cortina e sei que fiz bem e o público
aplaude. É maravilhoso. O oposto, a vaia, é terrível. Não há nada
mais doloroso do que você fazer
um espetáculo e fracassar."
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