SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

A notícia de que o Ministério da Cultura colocará no ar o canal de TV Arte & Cultura, com distribuição por cabo, a partir do próximo mês de abril, publicada anteontem pela Folha, foi recebida com ressalva por produtores e especialistas em televisão.
"Gostaria que a Abpitv -Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão- tivesse sido consultada. Confio que será", diz o vice-presidente da entidade, Nelson Hoineff.
Sócio da produtora gaúcha Casa de Cinema, o montador Giba Assis Brasil questiona o papel do novo canal. "Essa é uma informação absolutamente nova para mim, mas, em tese, sou contra a idéia de elitizar, de reservar um espaço na TV para a cultura brasileira e deixar a baixaria correr solta no restante das emissoras. Será que não era o caso de investir mais nos canais públicos existentes? Será que as TVs educativas, por exemplo, não precisam investir em programação?"
O professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e diretor do Centro Cultural São Paulo, Carlos Augusto Calil, diz que o canal Arte & Cultura "seria importante, se desse exemplo aos similares, por meio da contratação da produção brasileira". Calil diz que "a abertura de espaço para uma real mudança no panorama da produção audiovisual no Brasil seria um gesto político relevante". E afirma que, na hipótese de o Arte & Cultura ser "apenas mais um canal passivo, não trará nenhuma alteração ao processo, mesmo que seja simpático".
O vice-presidente da ABD -Associação Brasileira de Documentaristas-, Paulo Halm, diz que o secretario do Audiovisual, José Álvaro Moisés, já lhe havia informado que "o documentário brasileiro estará contemplado" no novo canal. "Isso para mim é o óbvio. Mas não tenho mais informações. Gostaria de saber os prós e os contras. A princípio sou simpático à existência de um canal que passe produção audiovisual brasileira, já que os existentes são completamente refratários", diz.
O ministro da Cultura, Francisco Weffort, informou que Arte & Cultura entrará no ar com duas horas de transmissão diárias de segunda a sexta e três aos sábados e domingos.
A grade de programação, de acordo com o ministro, não será exclusivamente dedicada à produção nacional, mas incluirá emissões estrangeiras "de boa qualidade".


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