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NOVELA/"FERIADO DE MIM MESMO"
Para Nazarian, livro não é diversão
MARÇAL AQUINO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Não se deixe enganar pelo título: "Feriado de Mim Mesmo" é árduo como um dia útil.
Em sua terceira novela, o paulista
Santiago Nazarian se mantém fiel
à idéia de que sua literatura deve
ser espaço para reflexões e questionamentos, nunca fonte de diversão para os leitores. Uma literatura em que a palavra felicidade
não é usada com muita freqüência. Uma espécie de existencialismo pós-moderno, no qual o cinema francês deu lugar à internet.
"Feriado de Mim Mesmo" é um
mergulho radical num cotidiano
de ar viciado, uma estufa mefítica
onde se cultivam flores como a
solidão, o individualismo e, acima
de tudo, a paranóia. Flores destes
nossos tempos. É um mergulho
sem rede, mas o risco não parece
impressionar este jovem autor,
que, ao lado do carioca João Paulo
Cuenca ("Corpo Presente"), é
uma das vozes mais interessantes
entre os novíssimos escritores
surgidos nesta década.
Se tanto seu livro de estréia,
"Olívio" (premiado pela Fundação Conrado Wessel), quanto a
obra seguinte, o contundente "A
Morte Sem Nome", chamaram a
atenção pela linguagem e pela habilidosa construção de tramas a
partir dos personagens, "Feriado
de Mim Mesmo" mostra que Nazarian busca avançar sem temor
com sua proposta. A diferença é
que, neste caso, ele dá voz a um
único personagem, um tradutor
com veleidades de escritor, que
vive trancado num apartamento,
a sós com seus pensamentos, angústias, neuroses e obsessões. Sobre esse universo fechado, hermeticamente blindado contra os alaridos do mundo externo, paira o
tempo inteiro a desconfiança de
que tudo pode não passar de um
processo de degradação mental.
Um território de repetições, tédios e temores, com uma atmosfera tão rarefeita que, às vezes, até
o autor parece perder o fôlego. Isso acontece nos momentos em
que a estratégia de reiterações soa
exagerada e enfraquece e ameaça
tornar enfadonha a narrativa.
Momentos em que a linguagem
serve mais para informar do que
para constituir. O que é agravado
pelos irritantes descuidos da revisão, que deixou passar até mesmo
um "massante" no texto (convenhamos: nada mais maçante, para o autor e os leitores, do que os
cochilos de um revisor).
São problemas que comprometem ritmo e equilíbrio de "Feriado
de Mim Mesmo" e o tornam uma
narrativa irregular. Quem persistir, porém, será recompensado:
em seu terço final, a novela ganha
outra dimensão e vigor inesperado, revelando sua verdadeira natureza. Um thriller claustrofóbico.
Embora não chegue a decepcionar, o livro não tem o mesmo poder de encantamento dos anteriores de Nazarian. A capacidade do
autor em manejar com originalidade um gênero tão pouco afeito
a inovações como o thriller é uma
qualidade inegável do livro. Não a
única. Nazarian se utiliza do "eu"
para lançar pistas falsas e verdadeiras sobre o "outro", exercitando um jogo de identidades fascinante. Afinal, como diz o argentino Ricardo Piglia: "Também os
paranóicos têm inimigos!".
Marçal Aquino é escritor, autor de, entre outros, "Cabeça a Prêmio".
Feriado de Mim Mesmo
Autor: Santiago Nazarian
Editora: Planeta
Quanto: R$ 32 (158 págs.)
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