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TEATRO
Chega a São Paulo montagem mineira da peça do argentino Aristides Vargas, sob direção de Guilherme Leme
"Idade da Ameixa" põe tempo na gangorra
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As irmãs Eleonora e Celina
fiam-se nas lembranças da mãe
Francisca, das tias Jacinta e Vitória, da avó Maria, das tias-avós
Adriática e Gumercinda e de
Branquinha, a criada. Todas passaram pela sombra da ameixeira
no quintal da velha casa, árvore
que, quando florida, anuncia se o
fruto dá vinho ou vinagre, conforme a sábia intuição de seus donos.
Uma espécie de gangorra entre
o tempo que avinagra e o tempo
que aconchega no peito, "A Idade
da Ameixa", peça do argentino
Aristides Vargas, ganha montagem mineira que começa temporada a partir de hoje no Tucarena.
A dramaturgia de Vargas, 51, é
plena em referências ao realismo
mágico que pontuou a literatura
latino-americana a partir dos
anos 50 (Gabriel García Márquez,
Júlio Cortazar etc). Em 2003, Vargas esteve em festivais de Belo
Horizonte e São José do Rio Preto
com outro texto seu, "Nuestra Señora de las Nubes". Contracena
com a mulher María del Rosario
Francés, com quem fundou o grupo Malayerba (1979) em Quito, no
Equador, onde vivem.
Em 2000, uma montagem argentina de "La Edad de la Ciruela"
passou pela mostra paralela do
Festival de Curitiba (cia. Sobretabla, dirigida por Walter Neira).
Agora, a versão brasileira de "A
Idade da Ameixa" chega por meio
dos atores mineiros Ílvio Amaral
e Maurício Canguçu, sob direção
de Guilherme Leme, ator paulista
que mora há 18 anos no Rio.
"Sou um diretor ainda engatinhando", diz Leme, 44. Porém,
soma 25 anos como intérprete no
teatro, TV e cinema, experiência
que espera colocar a favor da encenação. Ele desvia de realismos.
Guia-se pelo tom lírico, poético
que emana do texto de Vargas.
"Alguma vez você ouviu uma
borboleta batendo asas dentro de
uma garrafa?", pergunta vó Gumercinda. Em outra passagem, tia
Adriática diz que voa do alto da
ameixeira feito anjo.
"Nossas avós tinham uma maneira muito particular de se machucarem. Creio que as feridas
entre nós viajam em malas, e cada
mulher daquela casa tinha sua
própria mala", escreve Eleonora a
Cecília, conforme tradução de Orlando Ouribe.
A troca de cartas acessa o presente na narrativa. Hoje na melhor idade, as irmãs rememoram
através de uma escrita que se
transforma em diálogos no passado remoto ou distante, conforme
o vai-e-vem de planos da peça.
Os dois atores fazem todos os
papéis. Amaral e Canguçu são comediantes, parceiros há 16 anos
em Belo Horizonte. Também podem ser vistos no Teatro Folha
em "A Saga da Senhora Café", dirigida por Marília Pêra.
Leme aposta que a bagagem cômica serve ao registro mais intimista de "Ameixa". O diretor diz
que elege o trabalho de ator como
eixo em meio à nostalgia que nem
sempre tem sentido.
A equipe inclui a cenografia do
artista plástico Fernando Velloso,
os figurinos de Teresa Bruzzi e
Alexandre Rousset e a iluminação
de Pedro Pederneiras, todos ligados ao Grupo Corpo. O músico
Ladstom do Nascimento criou a
trilha. Dudude Herrmann e Heloisa Domingues cuidaram da
preparação corporal.
A Idade da Ameixa
Onde: Tucarena (r. Monte Alegre, 1.024,
Perdizes, tel. 0/XX/11/3670-8453)
Quando: estréia hoje, às 21h; sáb., às
21h; dom., às 19h; até 29/5
Quanto: R$ 12,50 a R$ 25
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