São Paulo, sábado, 09 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO

Chega a São Paulo montagem mineira da peça do argentino Aristides Vargas, sob direção de Guilherme Leme

"Idade da Ameixa" põe tempo na gangorra

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As irmãs Eleonora e Celina fiam-se nas lembranças da mãe Francisca, das tias Jacinta e Vitória, da avó Maria, das tias-avós Adriática e Gumercinda e de Branquinha, a criada. Todas passaram pela sombra da ameixeira no quintal da velha casa, árvore que, quando florida, anuncia se o fruto dá vinho ou vinagre, conforme a sábia intuição de seus donos.
Uma espécie de gangorra entre o tempo que avinagra e o tempo que aconchega no peito, "A Idade da Ameixa", peça do argentino Aristides Vargas, ganha montagem mineira que começa temporada a partir de hoje no Tucarena.
A dramaturgia de Vargas, 51, é plena em referências ao realismo mágico que pontuou a literatura latino-americana a partir dos anos 50 (Gabriel García Márquez, Júlio Cortazar etc). Em 2003, Vargas esteve em festivais de Belo Horizonte e São José do Rio Preto com outro texto seu, "Nuestra Señora de las Nubes". Contracena com a mulher María del Rosario Francés, com quem fundou o grupo Malayerba (1979) em Quito, no Equador, onde vivem.
Em 2000, uma montagem argentina de "La Edad de la Ciruela" passou pela mostra paralela do Festival de Curitiba (cia. Sobretabla, dirigida por Walter Neira).
Agora, a versão brasileira de "A Idade da Ameixa" chega por meio dos atores mineiros Ílvio Amaral e Maurício Canguçu, sob direção de Guilherme Leme, ator paulista que mora há 18 anos no Rio.
"Sou um diretor ainda engatinhando", diz Leme, 44. Porém, soma 25 anos como intérprete no teatro, TV e cinema, experiência que espera colocar a favor da encenação. Ele desvia de realismos. Guia-se pelo tom lírico, poético que emana do texto de Vargas.
"Alguma vez você ouviu uma borboleta batendo asas dentro de uma garrafa?", pergunta vó Gumercinda. Em outra passagem, tia Adriática diz que voa do alto da ameixeira feito anjo.
"Nossas avós tinham uma maneira muito particular de se machucarem. Creio que as feridas entre nós viajam em malas, e cada mulher daquela casa tinha sua própria mala", escreve Eleonora a Cecília, conforme tradução de Orlando Ouribe.
A troca de cartas acessa o presente na narrativa. Hoje na melhor idade, as irmãs rememoram através de uma escrita que se transforma em diálogos no passado remoto ou distante, conforme o vai-e-vem de planos da peça.
Os dois atores fazem todos os papéis. Amaral e Canguçu são comediantes, parceiros há 16 anos em Belo Horizonte. Também podem ser vistos no Teatro Folha em "A Saga da Senhora Café", dirigida por Marília Pêra.
Leme aposta que a bagagem cômica serve ao registro mais intimista de "Ameixa". O diretor diz que elege o trabalho de ator como eixo em meio à nostalgia que nem sempre tem sentido.
A equipe inclui a cenografia do artista plástico Fernando Velloso, os figurinos de Teresa Bruzzi e Alexandre Rousset e a iluminação de Pedro Pederneiras, todos ligados ao Grupo Corpo. O músico Ladstom do Nascimento criou a trilha. Dudude Herrmann e Heloisa Domingues cuidaram da preparação corporal.


A Idade da Ameixa
Onde:
Tucarena (r. Monte Alegre, 1.024, Perdizes, tel. 0/XX/11/3670-8453)
Quando: estréia hoje, às 21h; sáb., às 21h; dom., às 19h; até 29/5
Quanto: R$ 12,50 a R$ 25


Texto Anterior: Dança: Quasar deixa o gesto parado no ar
Próximo Texto: Grupo rasga fantasia com Mutarelli
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.