São Paulo, domingo, 09 de abril de 2006

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Como o diabo gosta


Em plena TV da Igreja Universal, a novela "Cidadão Brasileiro" é recheada de cenas e diálogos erotizados

DA REPORTAGEM LOCAL

A cena descrita a seguir faz parte do roteiro da novela exibida em plena TV da Igreja Universal:
"Ele a aperta junto ao seu corpo. Os dois voltam a dançar, vagarosamente, saindo da penumbra.
Luiza (Paloma Duarte): [sussurra] Ui... Que é isso?!
Antônio (Gabriel Braga Nunes): A natureza...
Luiza: Natureza... [ri]
Antônio: Foi generosa comigo...
Um tempo, ele a aperta mais contra seu corpo."
O diálogo de "Cidadão Brasileiro" foi reproduzido por colunas de jornal e ganhou tom de polêmica. O autor Lauro César Muniz afirmou à Folha estar "surpreso com a reação da imprensa em relação à cena de envolvimento dos personagens, e não de amasso, como já li". "A cena é de mau gosto? Eu a considero de humor "britânico", modéstia à parte. É preciso ser muito moralista para julgá-la de mau gosto. É biscoito fino. Compare com o erotismo que se encontra a toda hora nos programas de humor da televisão."
Esse não foi o único diálogo erotizado da novela das oito da Record, que já atingiu 15 pontos de audiência (784,5 mil domicílios na Grande SP), um ótimo resultado. Cenas de sexo e conversas sobre o assunto estão presentes em praticamente todos os capítulos. Num deles, os seios de Luiza Tomé ficam à mostra quando ela está na cama com um jovem. Na última segunda-feira, após uma transa, Luiza dizia a Antônio o quanto o achava lindo, e brincou: "Tá precisando burilar...". O moço, assustado: "Burilar?!" Ela o acalmou: "Tô falando do rosto...". Em outra ocasião, no mesmo capítulo, Antônio olhou-a com cara de "más" intenções, ao que Luiza respondeu: "Pára, não me tenta!"
A novela se passa na década de 50. Luiza e Antônio não são nem namorados oficiais. E sexo, numa relação assim, é proibido pelos evangélicos da Universal (como de resto pelos católicos). Camilo (Taumaturgo Ferreira), ex-noivo de Luiza, dava lição de moral no casal, quando ouviu de Antônio: "Se você fosse um corno brasileiro ia querer me quebrar a cara".
Mulherengo, Antônio se encontrou com Carolina (Carla Regina), com quem já rolou muito na mata e de quem tirou a virgindade. "Se ao menos pudesse ver você de vez em quando..." "Você pode", respondeu o moço. Ela foi mais clara: "Se ao menos eu pudesse [frisou] TER você de vez em quando... Você veio num instante e me tornou inteirinha sua, de repente se foi." Ela morde o garfo de forma sensual, enquanto ele faz cara de "não me provoque".
Muniz diz que é seu estilo. "Não há duplo sentido, mas um cuidado para evitar frases grosseiras. Muitas vezes quero me expressar sobre sexo e assuntos delicados para o horário em que a novela vai ao ar e crio expressões como "a natureza foi generosa comigo"."
O autor conta que gosta de "agregar a todos os personagens um forte componente sexual". "Sexo é parte predominante no comportamento humano, muitas vezes determinante. Por que negar aos personagens manifestações sexuais?". Segundo ele, frases de duplo sentido são ditas por personagens de humor na novela. "Essa é uma tradição da comédia brasileira de costumes típica da década de 50." Ele diz não ver "ponte" entre a Universal e a Record. "Minhas declarações [à Folha, em março] sobre minha não-religiosidade não causaram reação. Recebo tratamento respeitoso da cúpula." (LAURA MATTOS)


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