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Como o diabo gosta
Em plena TV da Igreja Universal, a novela "Cidadão Brasileiro" é recheada de cenas e diálogos erotizados
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DA REPORTAGEM LOCAL
A cena descrita a seguir faz parte do roteiro da novela exibida em
plena TV da Igreja Universal:
"Ele a aperta junto ao seu corpo.
Os dois voltam a dançar, vagarosamente, saindo da penumbra.
Luiza (Paloma Duarte): [sussurra] Ui... Que é isso?!
Antônio (Gabriel Braga Nunes):
A natureza...
Luiza: Natureza... [ri]
Antônio: Foi generosa comigo...
Um tempo, ele a aperta mais
contra seu corpo."
O diálogo de "Cidadão Brasileiro" foi reproduzido por colunas
de jornal e ganhou tom de polêmica. O autor Lauro César Muniz
afirmou à Folha estar "surpreso
com a reação da imprensa em relação à cena de envolvimento dos
personagens, e não de amasso,
como já li". "A cena é de mau gosto? Eu a considero de humor "britânico", modéstia à parte. É preciso ser muito moralista para julgá-la de mau gosto. É biscoito fino.
Compare com o erotismo que se
encontra a toda hora nos programas de humor da televisão."
Esse não foi o único diálogo erotizado da novela das oito da Record, que já atingiu 15 pontos de
audiência (784,5 mil domicílios
na Grande SP), um ótimo resultado. Cenas de sexo e conversas sobre o assunto estão presentes em
praticamente todos os capítulos.
Num deles, os seios de Luiza Tomé ficam à mostra quando ela está na cama com um jovem. Na última segunda-feira, após uma
transa, Luiza dizia a Antônio o
quanto o achava lindo, e brincou:
"Tá precisando burilar...". O moço, assustado: "Burilar?!" Ela o
acalmou: "Tô falando do rosto...".
Em outra ocasião, no mesmo capítulo, Antônio olhou-a com cara
de "más" intenções, ao que Luiza
respondeu: "Pára, não me tenta!"
A novela se passa na década de
50. Luiza e Antônio não são nem
namorados oficiais. E sexo, numa
relação assim, é proibido pelos
evangélicos da Universal (como
de resto pelos católicos). Camilo
(Taumaturgo Ferreira), ex-noivo
de Luiza, dava lição de moral no
casal, quando ouviu de Antônio:
"Se você fosse um corno brasileiro ia querer me quebrar a cara".
Mulherengo, Antônio se encontrou com Carolina (Carla Regina), com quem já rolou muito na
mata e de quem tirou a virgindade. "Se ao menos pudesse ver você de vez em quando..." "Você pode", respondeu o moço. Ela foi
mais clara: "Se ao menos eu pudesse [frisou] TER você de vez em
quando... Você veio num instante
e me tornou inteirinha sua, de repente se foi." Ela morde o garfo de
forma sensual, enquanto ele faz
cara de "não me provoque".
Muniz diz que é seu estilo. "Não
há duplo sentido, mas um cuidado para evitar frases grosseiras.
Muitas vezes quero me expressar
sobre sexo e assuntos delicados
para o horário em que a novela
vai ao ar e crio expressões como "a
natureza foi generosa comigo"."
O autor conta que gosta de
"agregar a todos os personagens
um forte componente sexual".
"Sexo é parte predominante no
comportamento humano, muitas
vezes determinante. Por que negar aos personagens manifestações sexuais?". Segundo ele, frases
de duplo sentido são ditas por
personagens de humor na novela.
"Essa é uma tradição da comédia
brasileira de costumes típica da
década de 50." Ele diz não ver
"ponte" entre a Universal e a Record. "Minhas declarações [à Folha, em março] sobre minha não-religiosidade não causaram reação. Recebo tratamento respeitoso da cúpula."
(LAURA MATTOS)
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