JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Todo ano, uma leva de restaurantes abre em São Paulo. Poucos, porém, ultrapassam a marca dos cinco anos. Nesse contexto, a longevidade da Bruno, pizzaria mais antiga em funcionamento, ganha relevo.
Há 70 anos, as primeiras pizzas, de massa grelhada e assada ao mesmo tempo, começaram a sair do então barracão de madeira e teto de zinco, no largo da Matriz, 87, na Freguesia do Ó (tel. 0/xx/11/3932-2261).
"Antes, meu sócio [Bruno Bertucci, já morto] vendia frango com polenta, e o negócio não estava dando certo. Aí, passou um espanhol aqui e sugeriu que ele fizesse pizza, ensinou. E deu certo, pegou", conta João Machado de Siqueira, 88, que juntou todas as economias para entrar na sociedade.
Nascido na Freguesia do Ó, Siqueira conta que o início foi difícil, principalmente durante a Segunda Guerra. "Passamos muito aperto. Não havia farinha de trigo. Desmanchávamos macarrão para fazer a massa."
Com a ajuda dos taxistas, que ganhavam comissão para levar os clientes até lá, a Bruno foi ficando conhecida. Ao contrário de hoje, quando é possível achar lugares que fazem pizza até de ovo de Páscoa, havia apenas dois sabores: mussarela e aliche. Depois, vieram calabresa, atum e a campeã de pedidos: camarão com catupiry.
Quem cuida da pizzaria atualmente é o filho Rui e o neto do antigo sócio. Mas, mesmo aposentado, Siqueira visita a Bruno para "dar uma olhada".
"Não pegamos pizzaiolo prático. É ensinado aqui a fazer a massa da nossa maneira", conta. "Sempre falo para manterem o bom serviço, a mesma qualidade da pizza. É isso que sustenta a casa. Ficou uma freguesia de família, passou de pai para filho. Hoje, são os netos que vêm comer pizza, me conhecem", diz Siqueira, com o orgulho de quem tem uma casa septuagenária.


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