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Publicação no Brasil não sofreu ameaças
especial para a Folha
A edição brasileira de "Os Versos Satânicos", de responsabilidade da Companhia das Letras, chegou às livrarias na semana passada
com uma tiragem de 3.000 exemplares. Segundo a editora, a empresa não recebeu qualquer ameaça em virtude da oposição de líderes islâmicos à edição da obra e
nenhuma livraria se recusou a
vender o livro.
A obra foi, progressivamente,
criticada, queimada e banida por
países de maiorias ou significativas minorias muçulmanas. Seu
autor foi atacado, obrigado a se esconder, protegido pela polícia britânica e, finalmente, condenado à
morte pelo líder religioso e político do Irã de então, o aiatolá Khomeini, em 14 de fevereiro de 1989.
Para a condenação de Rushdie deve ter colaborado o fato de uma
das partes do livro, a quarta, retratar um líder muçulmano exilado
na Europa Ocidental que luta para
a derrubada da monarquia no seu
país de origem, uma história semelhante à do próprio Khomeini.
Nos países onde a obra não foi
banida, editores e livreiros foram
pressionados e ameaçados. No
Reino Unido e nos Estados Unidos, a editora de Rushdie (Viking)
recebeu várias ameaças de bomba
e cadeias de livrarias, como Waldenbooks, B.Dalton e Barnes &
Noble, chegaram a anunciar que
não venderiam o livro. Dois tradutores da obra -Ettore Capriolo,
da Itália, e Hitoshi Igarashi, do Japão- foram esfaqueados em julho de 1991.
A evolução política do Oriente
Médio, especialmente do Irã, alterou a importância da sentença. A
vitória dos moderados liderados
pelo presidente Mohammad Khatami na eleição de 1997 jogou a
reaproximação com o Ocidente
para o topo da agenda de Teerã.
Ao mesmo tempo, um conflito
surdo entre liberais e conservadores dividiu o governo, emitindo sinais contraditórios ao exterior.
A irrevogabilidade do decreto
religioso de Khomeini (o "fatwa")
foi reafirmada no dia 13 de fevereiro por Morteza Moqtadaie, procurador-geral da República Islâmica
do Irã. Quase ao mesmo tempo, a
comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Mary Robinson, afirmou no dia 1º de março que as autoridades iranianas
não vão exigir publicamente o
cumprimento do decreto.
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