São Paulo, quinta, 9 de abril de 1998

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Publicação no Brasil não sofreu ameaças

especial para a Folha

A edição brasileira de "Os Versos Satânicos", de responsabilidade da Companhia das Letras, chegou às livrarias na semana passada com uma tiragem de 3.000 exemplares. Segundo a editora, a empresa não recebeu qualquer ameaça em virtude da oposição de líderes islâmicos à edição da obra e nenhuma livraria se recusou a vender o livro.
A obra foi, progressivamente, criticada, queimada e banida por países de maiorias ou significativas minorias muçulmanas. Seu autor foi atacado, obrigado a se esconder, protegido pela polícia britânica e, finalmente, condenado à morte pelo líder religioso e político do Irã de então, o aiatolá Khomeini, em 14 de fevereiro de 1989. Para a condenação de Rushdie deve ter colaborado o fato de uma das partes do livro, a quarta, retratar um líder muçulmano exilado na Europa Ocidental que luta para a derrubada da monarquia no seu país de origem, uma história semelhante à do próprio Khomeini.
Nos países onde a obra não foi banida, editores e livreiros foram pressionados e ameaçados. No Reino Unido e nos Estados Unidos, a editora de Rushdie (Viking) recebeu várias ameaças de bomba e cadeias de livrarias, como Waldenbooks, B.Dalton e Barnes & Noble, chegaram a anunciar que não venderiam o livro. Dois tradutores da obra -Ettore Capriolo, da Itália, e Hitoshi Igarashi, do Japão- foram esfaqueados em julho de 1991.
A evolução política do Oriente Médio, especialmente do Irã, alterou a importância da sentença. A vitória dos moderados liderados pelo presidente Mohammad Khatami na eleição de 1997 jogou a reaproximação com o Ocidente para o topo da agenda de Teerã. Ao mesmo tempo, um conflito surdo entre liberais e conservadores dividiu o governo, emitindo sinais contraditórios ao exterior.
A irrevogabilidade do decreto religioso de Khomeini (o "fatwa") foi reafirmada no dia 13 de fevereiro por Morteza Moqtadaie, procurador-geral da República Islâmica do Irã. Quase ao mesmo tempo, a comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Mary Robinson, afirmou no dia 1º de março que as autoridades iranianas não vão exigir publicamente o cumprimento do decreto.



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