|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fernanda Abreu abre estúdio e selo
DA REPORTAGEM LOCAL
Fernanda Abreu, 42, está gripada. Teve de adiar em 24 horas as
entrevistas de apresentação de
seu novo disco, "Na Paz", porque
estava afônica. O tempo é de transição também para ela, que rescindiu contrato com a EMI, agora
só distribuidora de seu selo próprio, Garota Sangue Bom.
O momento é conturbado para
ela, com a saída, da EMI, de diretoria que conhece desde sua estréia solo, em 90, agora trocada
pela liderança de Marcos Maynard, outro dos homens da era
dos bilhões-axé dos anos 90.
"Eles me deviam dois discos,
consegui a rescisão. Com o que
seria o dinheiro de um, construí
meu estúdio, com o outro, paguei
o marketing de "Na Paz'", conta a
agora artista-administradora. Fica tudo zerado a partir de agora.
Diz que o momento nebuloso
não implica aumento de insegurança artística. "O artista sempre
teve insegurança, nunca teve garantia de que estaria na gravadora
para sempre. De repente pode entrar um presidente novo que
odeia você, que vai mandar você
embora", descreve.
Não foi por razões dessa natureza, segundo Fernanda, mas ela reconhece que "Na Paz" é seu disco
mais sombrio, mesmo com as intervenções vibrantes de Martinho
da Vila, Jorge Ben Jor, Fausto
Fawcett, Ivo Meirelles, Mart'nália.
Localiza isso na temática predominante de "Na Paz": a guerra civil de cidades como seu Rio de Janeiro, que ela quer subverter com
as flores que saem dos revólveres
da capa e do encarte. "A violência
e a perversidade vão se sofisticando, e isso é um desejo, não só uma
questão social", filosofa.
"Não tenho por que estar sorrindo e contente, minhas filhas estão crescendo num Rio de Janeiro
que é uma merda, num Brasil que
podia ser bem melhor", continua,
sabendo que ainda assim aposta,
em "Na Paz", na afirmação samba-funk de um Brasil brasileiro.
"Não vou dizer que é utópico,
mas o CD fala de esperança, desesperança, sonho, ideologia,
amor, paz, valores que não estão
muito na moda. Hoje o que importa é ter ao menos uma de quatro coisas: dinheiro, fama, sucesso, poder. Me enchi disso", explicita o momento de melancolia.
Fernanda traça uma última reflexão sobre o tempo impreciso:
"Não fico desanimada ou deprimida com a crise da indústria,
mas sim ansiosa e animada com o
fim da estagnação. Acho ótimo
não poder ficar acomodada, mesmo que a princípio seja difícil, pareça doloroso".
(PAS)
Texto Anterior: Ruído: Espanha vive febre de Carlinhos Brown Próximo Texto: Música: Prêmio Tim dá espaço a independentes Índice
|