São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2004

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Fernanda Abreu abre estúdio e selo

DA REPORTAGEM LOCAL

Fernanda Abreu, 42, está gripada. Teve de adiar em 24 horas as entrevistas de apresentação de seu novo disco, "Na Paz", porque estava afônica. O tempo é de transição também para ela, que rescindiu contrato com a EMI, agora só distribuidora de seu selo próprio, Garota Sangue Bom.
O momento é conturbado para ela, com a saída, da EMI, de diretoria que conhece desde sua estréia solo, em 90, agora trocada pela liderança de Marcos Maynard, outro dos homens da era dos bilhões-axé dos anos 90.
"Eles me deviam dois discos, consegui a rescisão. Com o que seria o dinheiro de um, construí meu estúdio, com o outro, paguei o marketing de "Na Paz'", conta a agora artista-administradora. Fica tudo zerado a partir de agora.
Diz que o momento nebuloso não implica aumento de insegurança artística. "O artista sempre teve insegurança, nunca teve garantia de que estaria na gravadora para sempre. De repente pode entrar um presidente novo que odeia você, que vai mandar você embora", descreve.
Não foi por razões dessa natureza, segundo Fernanda, mas ela reconhece que "Na Paz" é seu disco mais sombrio, mesmo com as intervenções vibrantes de Martinho da Vila, Jorge Ben Jor, Fausto Fawcett, Ivo Meirelles, Mart'nália.
Localiza isso na temática predominante de "Na Paz": a guerra civil de cidades como seu Rio de Janeiro, que ela quer subverter com as flores que saem dos revólveres da capa e do encarte. "A violência e a perversidade vão se sofisticando, e isso é um desejo, não só uma questão social", filosofa.
"Não tenho por que estar sorrindo e contente, minhas filhas estão crescendo num Rio de Janeiro que é uma merda, num Brasil que podia ser bem melhor", continua, sabendo que ainda assim aposta, em "Na Paz", na afirmação samba-funk de um Brasil brasileiro.
"Não vou dizer que é utópico, mas o CD fala de esperança, desesperança, sonho, ideologia, amor, paz, valores que não estão muito na moda. Hoje o que importa é ter ao menos uma de quatro coisas: dinheiro, fama, sucesso, poder. Me enchi disso", explicita o momento de melancolia.
Fernanda traça uma última reflexão sobre o tempo impreciso: "Não fico desanimada ou deprimida com a crise da indústria, mas sim ansiosa e animada com o fim da estagnação. Acho ótimo não poder ficar acomodada, mesmo que a princípio seja difícil, pareça doloroso". (PAS)



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