São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2004

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CRÍTICA

Humor absurdo tempera filme da Disney

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não chega a ser nenhum segredo que, guardadas as mudanças de cenários e personagens, a Disney sempre contou o mesmo filme. Um evento qualquer perturba o equilíbrio de uma comunidade, que se vê diante de pouquíssimas esperanças até o surgimento de um herói. O mais desajeitado e improvável, melhor.
Aí entram as vacas. Quando o temido Alameda Slim começa a roubar o gado das fazendas da região, o dono da vaca leiteira Maggie fica com uma mão na frente e outra atrás e resolve doar o animal para uma amiga fazendeira.
O problema é que essa fazenda está correndo um sério risco: endividada até o pescoço, Pearl, a fazendeira, pode perder as suas terras, caso não pague o que deve.
Sem nada a perder, a nova vaca convence Calloway e Grace a saírem juntas em busca de uma solução para o impasse -o que inclui participar de um concurso de beleza para animais do campo e da caçada ao lendário ladrão Slim.
Três vacas gordas caçando? Conta outra... O humor absurdo, um pouco na linha da safra recente de séries animadas -alguém falou em "A Vaca e o Frango"?-, é um dos pontos altos do longa.
Bem como o são, com alguns poucos deslizes de estilo, as vozes dos personagens carregadas de sotaque e expressões caipiras que transportam "Nem que a Vaca Tussa" do Meio-Oeste americano direto para o interior de São Paulo ou de Minas Gerais.
Mas, voltando ao início, o fato é que, tirado o couro da vaca, nada sobra que não o mais manjado argumento clássico dos filmes da Disney. Já sabemos onde vai acabar tudo aquilo.
O conservadorismo faz todo o sentido considerando que "Nem que a Vaca Tussa" pode ser, de acordo com os próprios funcionários dos estúdios de animação, a última bala na agulha da companhia no campo da animação tradicional, em 2D.
Daí que ninguém queria errar a mão: aproveita-se a carcaça, mudam-se as aparências e, muitas vezes em prejuízo do próprio ritmo e coerência da narrativa, faz-se de tudo para deixar tudo amarradinho no final.
"Nós vamos capturar esse vilão nem que a vaca tussa." Encaixado mais ou menos nesses termos, só para justificar o título em português, não é exatamente esse o sentido do dito popular, geralmente usado para expressar a impossibilidade de um acontecimento.
Engraçadinho, porém digno de encerrar a carreira outrora brilhante dos clássicos estúdios Disney? Mas nem que a vaca tussa!


Nem que a Vaca Tussa
Home on the Range
  

Direção: Will Finn e John Sanford
Produção: EUA, 2004
Quando: a partir de hoje nos cines
Butantã, Osasco Plaza e circuito




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