São Paulo, Sexta-feira, 09 de Julho de 1999
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Curtas para lembrar a amarelinha

da Reportagem Local

Hoje em dia, é comum dizer que os apartamentos, a televisão e o computador estão roubando um pouco da traquinagem e da inocência típicas da infância. Pode ser. Mas, na seleção "Curta a Criança", garotos e garotas ainda se divertem com bolas de gude e jogo de amarelinha, e a infância continua a ter o encanto da experimentação e da descoberta.
No primeiro curta, "Coração Conta Diferente", de Jurema de Carvalho, baseado em conto homônimo de Lino de Albergaria, uma aula de tabuada transforma-se na mais singela declaração de amor de Tiago para Adriana. Antes da aula, as garotas brincam de amarelinha no pátio da escola.
O bem produzido "Vila Isabel" (98), de Isabel Diegues, filha de Cacá Diegues e Nara Leão, inspirado no livro "Inventário da Infância", de Aldir Blanc, centra-se na observação muda do pequeno Aldir, 11 anos, dos preparativos de toda a família para ir ao teatro.
A sua exclusão do programa é compensada logo depois, quando seu avô lhe dá um presente muito especial no quintal da casa, numa sequência de grande lirismo, que revela o talento e a sensibilidade promissores da diretora.
Depois, é a vez de passagens da infância de Clarice Lispector inspirar os diretores Beto Normal e Marcelo Gomes, no premiado "Clandestina Felicidade" (98).
Filmado num espetacular preto-e-branco, revela a paixão de Clarice, ainda menina, pelos livros, por meio de sua pequena cruzada para emprestar da amiga rica "As Reinações de Narizinho", o que não a impede de brincar de amarelinha no quintal e de sentir a morte da mãe se aproximar.
Para fechar o programa, foi escolhido o divertido e também premiado "A Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcanti" (96), de Anna Muylaert, com Marisa Orth e André Abujamra. Nele, a descolada Kiki coloca a mãe numa fria ao dar sua peculiar versão, para os amiguinhos do jardim da infância, de como um bebê vai parar na barriga da mãe.
Por meio de seus temas centrais -primeiro amor, curiosidade, dor e fantasia-, e apesar das diferenças técnicas entre eles, os quatro curtas selecionados compõem um retrato reverente, nostálgico e lírico da meninice. Esse, que um singelo jogo de amarelinhas traduz tão bem. (FÁTIMA GIGLIOTTI)


Avaliação:   

O quê: Curta a Criança Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco 4


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