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Curtas para lembrar a amarelinha
da Reportagem Local
Hoje em dia, é comum dizer que
os apartamentos, a televisão e o
computador estão roubando um
pouco da traquinagem e da inocência típicas da infância. Pode
ser. Mas, na seleção "Curta a
Criança", garotos e garotas ainda
se divertem com bolas de gude e
jogo de amarelinha, e a infância
continua a ter o encanto da experimentação e da descoberta.
No primeiro curta, "Coração
Conta Diferente", de Jurema de
Carvalho, baseado em conto homônimo de Lino de Albergaria,
uma aula de tabuada transforma-se na mais singela declaração de
amor de Tiago para Adriana. Antes da aula, as garotas brincam de
amarelinha no pátio da escola.
O bem produzido "Vila Isabel"
(98), de Isabel Diegues, filha de
Cacá Diegues e Nara Leão, inspirado no livro "Inventário da Infância", de Aldir Blanc, centra-se
na observação muda do pequeno
Aldir, 11 anos, dos preparativos de
toda a família para ir ao teatro.
A sua exclusão do programa é
compensada logo depois, quando
seu avô lhe dá um presente muito
especial no quintal da casa, numa
sequência de grande lirismo, que
revela o talento e a sensibilidade
promissores da diretora.
Depois, é a vez de passagens da
infância de Clarice Lispector inspirar os diretores Beto Normal e
Marcelo Gomes, no premiado
"Clandestina Felicidade" (98).
Filmado num espetacular preto-e-branco, revela a paixão de
Clarice, ainda menina, pelos livros, por meio de sua pequena
cruzada para emprestar da amiga
rica "As Reinações de Narizinho",
o que não a impede de brincar de
amarelinha no quintal e de sentir
a morte da mãe se aproximar.
Para fechar o programa, foi escolhido o divertido e também
premiado "A Origem dos Bebês
Segundo Kiki Cavalcanti" (96), de
Anna Muylaert, com Marisa Orth
e André Abujamra. Nele, a descolada Kiki coloca a mãe numa fria
ao dar sua peculiar versão, para os
amiguinhos do jardim da infância, de como um bebê vai parar na
barriga da mãe.
Por meio de seus temas centrais
-primeiro amor, curiosidade,
dor e fantasia-, e apesar das diferenças técnicas entre eles, os quatro curtas selecionados compõem
um retrato reverente, nostálgico e
lírico da meninice. Esse, que um
singelo jogo de amarelinhas traduz tão bem.
(FÁTIMA GIGLIOTTI)
Avaliação:
O quê: Curta a Criança
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco 4
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