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PELO MUNDO
A sóbria arte de Michel Bras
da Redação
Não é fácil conhecer o restaurante Michel Bras, na França, o
único promovido à cotação máxima -três estrelas- na edição
deste ano do guia Michelin, o
mais respeitado do mundo.
Ele fica longe de Paris, quase
uma hora de avião. Funciona no
campo, na região da Auvergne,
no pequeno hotel do mesmo dono. Que vive lotado, como os hotéis da cidade mais próxima, Laguiole, terra da "fouace" (enorme
pão em forma de rosca) e das lânguidas facas curvilíneas -cuja fábrica principal foi desenhada por
Philip Stark.
A solução: marcar hora no restaurante (um mês de antecedência); pegar um vôo matinal de Paris até Rodez; mais uma hora de
táxi até o restaurante; e depois do
almoço fazer o trajeto inverso para Paris.
Mas vale a pena conhecer a sóbria arte de Michel Bras. Seu hotel
fica numa colina no meio do nada, com traços austeros e modernos de pedra e aço, lembrando
uma nave espacial pousada placidamente entre as vacas da raça local (a Aubrac, mesmo nome da
região).
A sombra do chef projeta-se em
seus pratos -não em sua presença corporal, já que ele tem o perfil
discreto de nunca desfilar pelo salão. Considerado o pai da "escola
das ervas", sua cozinha é a da simplicidade e a dos legumes.
Feitos com ingredientes impecáveis, seus hits são pratos como o
"gargaillou" de pequenos legumes cozidos, fresquíssimos, crocantes, aromatizados de ervas e
flores. Ou o "steak" de tomate, o
legume inteiro levemente assado,
coberto por toques de manjericão, azeitona seca, alcaçuz... Ou
ainda o linguado tenro, cozido à
perfeição, servido sobre uma fina
crosta de pão pincelada com alho-poró.
Se você pensa que não conhece
Michel Bras, veja o menu de sobremesas: ali está, criação de 1981,
a matriz abastardada das tortinhas quentes de chocolate com
recheio líquido que esteve em voga em Nova York, e hoje é moda
no Brasil. Mas Michel Bras não os
faz com o recheio massudo e indigesto, cheio de farinha, como
aqui: os dele, os originais, têm recheio de puro chocolate, envolvidos por uma fina camada de massa, a cada estação com diferentes
sabores.
A perfeição? Não. Madame Bras
e sua equipe podem dar informações erradas no salão (anunciar a
trufa de verão como trufa branca;
e anunciar o prato de carne como
sendo uma peça de dianteiro,
quando o que aparece no prato é
um imperdoável medalhão de filé
mignon -corte absolutamente
dispensável num cardápio três estrelas).
Com vinhos bons, mas nada
abusivos (meia garrafa de Jurançon, uma de Bordeaux Grand-Puy-Lacoste, duas taças de
Champagne), a conta para dois
saiu cerca de US$ 670. Preço correspondente à qualidade -e de
qualquer forma, mais barato que
a passagem de avião.
(JM)
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