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CINEMA "O GRANDE LEBOWSKI"
Filme apresenta as duas faces da
América segundo os irmãos Coen
FÁTIMA GIGLIOTTI
da Reportagem Local
Há duas maneiras de ver "O
Grande Lebowski", novo filme
dos irmãos Coen (Joel, diretor e
roteirista, e Ethan, produtor e roteirista), o primeiro após o sucesso de "Fargo", que lhes deu o Oscar de roteiro original. Como uma
louca, divertida e estilizada viagem psicodélica pelos anos 70 ou
como um retrato crítico e estilizado da sociedade americana dos
anos 90. Ambas são excludentes.
O que as aproxima é o estilo inconfundível dos Coen. A produção cuidadosa e bem-acabada, tão
integrada ao roteiro que mais parece um personagem do filme,
com coisas a dizer; os enquadramentos originais, os movimentos
de câmera surpreendentes, o domínio absoluto da técnica cinematográfica que, mesmo calcada
na tradição do cinema, sempre
parece inédita a quem assiste.
Há em "O Grande Lebowski" os
personagens caricaturescos, com
seus sotaques e bordões característicos, o enredo de sequestro de
"Arizona Nunca Mais" e "Fargo",
a trama fugidia, feita de reviravoltas, marca da filmografia dos
Coen. E algumas ousadias a mais.
A começar pelo anti-herói, Jeff
Lebowski (Jeff Bridges), que prefere ser chamado de Dude e é
apresentado por um narrador
misterioso, que pronuncia Los
Angeles como Los Angueles, como ao símbolo do homem comum, típico morador da cidade.
Dude não trabalha, fuma maconha o dia todo, usa camiseta, calção largo, chinelo e é fissurado
por boliche. Seus únicos amigos
são Walter (John Goodman), um
impulsivo veterano do Vietnã, e
Donny (Steve Buscemi), figura
apática que nunca consegue terminar uma frase sequer.
Pois bem, um certo dia Dude é
confundido com outro Lebowski,
cuja jovem esposa está devendo
fortunas para vários pilantras da
cidade, e brutalmente agredido
pelos seguranças de um desses
credores. Um deles urina no tapete de Dude, "que combina muito
bem com a sala".
Convencido por Walter, Dude
decide tomar satisfações com o
outro Lebowski sobre o tapete e
acaba envolvido no suposto sequestro da devedora, com a filha
dele, a feminista Maude (Julianne
Moore), com um ator pornô com
quem a jovem esposa ganha uma
graninha a mais, com o produtor
dos filmes, fora um garoto que
rouba seu carro e uma maleta
com US$ 1 milhão.
Entre as baforadas de maconha,
uma irritante apatia e as várias
surras, Dude "viaja" em tapetes
voadores, dança num musical
inspirado em Busby Berkeley e
entra numa bola de boliche, em
sequências hilárias.
Quem embarcou na viagem psicodélica já se deu por satisfeito,
deliciado com o humor nonsense
e a inconsequência do filme.
Quem quer a versão ácida e crítica
também está bem servido.
Dude é o tipo acabado do americano ensimesmado, alheio a tudo que se passa a sua volta, inclusive a Guerra do Golfo, cenário
político do momento. Não é à toa
que seu alter ego, o milionário Lebowski, o chama de vagabundo
derrotado, embora ele próprio,
do alto de sua rigidez, se deixe seduzir por uma vagabunda.
Para o alucinado Walter, judeu
por adoção, tudo acaba em Vietnã, uma alusão a um dos maiores
traumas sociais da América. O
apático Donny é tão covarde que
sofre um infarto com a mera
ameaça de levar um soco.
Há ainda Maude, a mulher moderna à procura de um homem
sadio para fecundá-la, e o impagável Jesus (John Turturro), pervertido sexual que transforma o
ato de jogar boliche num verdadeiro coito. É só montar o quadro
da sociedade americana atual.
O escorregão dos irmãos Coen
foi não conseguir tornar compatíveis essas duas perspectivas de "O
Grande Lebowski". Quem embarca na viagem psicodélica regala-se por 40 minutos, quem reconhece a crítica, pelos outros 40
minutos, e ninguém se satisfaz.
Há uma terceira possibilidade,
de os Coen, como o trio de vilões
niilistas de seu novo filme, não estarem nem aí, apenas se divertindo fazendo o que gostam de fazer,
cinema de estilo. Você decide.
Avaliação:
Filme: O Grande Lebowski
Produção: EUA, 1998
Direção: Joel Coen
Com: Jeff Bridges, John Goodman
Quando: a partir de hoje, nos cines Belas
Artes - Carmen Miranda, Cinearte 2 e
Lumière 1
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