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LITERATURA
Escritor Gilberto Mendonça Teles é eleito intelectual do ano 2002 pelos ensaios reunidos em "Contramargem"
Poeta ganha Juca Pato com livro teórico
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de Gilberto Mendonça
Teles, 72, ter lançado recentemente "Hora Aberta", uma reunião de
poemas escritos entre 1950 e 2002,
foi a faceta crítica do poeta, representada pelos ensaios de "Contramargem", que o elegeu intelectual
do ano 2002 na disputa pelo troféu Juca Pato, concurso promovido pela União Brasileira de Escritores com patrocínio da Folha.
Para o autor, as vertentes teórica
e poética de sua produção escrita
sempre se entrelaçaram. "O ato
da criação poética é duplo. Ele é
ao mesmo tempo uma intuição
que, para virar poema, precisa
passar pelo controle. Esse olhar
duplo no ato da criação pode ou
permanecer no sentido de se querer poesia ou se tornar cada vez
mais lógico e aí passa a enxergar
não o próprio texto, mas aquele
composto por outro", diz o goiano Teles de sua casa no Rio, onde
mora há 30 anos e onde ministra
aulas de literatura brasileira e teoria da literatura na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio).
E foi com exercícios desse olhar
crítico reunidos no livro "Contramargem", lançado no ano passado, que o autor concorreu ao Juca
Pato, disputando a final com a
obra poética "Um Calafrio Diário", de Renata Pallottini.
Entre os textos de outros autores observados pela razão de Teles
nesse livro, estão desde Machado
de Assis, Manuel Bandeira e Oswald de Andrade até Guimarães
Rosa, passando pelos poetas Lêdo
Ivo e Luís Vaz de Camões. Se o leque de estilos e momentos literários é abrangente, o alcance do título não fica atrás. "Contramargem" faz referência à "margem",
uma figura recorrente em todo o
trabalho crítico do autor.
"Vejo a literatura como uma atividade à margem da sociedade,
mas sem sair dela. A literatura não
reflete o social, mas faz parte dele,
é uma parte angustiosa, crítica,
utópica, que revela o que normalmente não está revelado", diz.
Entre os trabalhos teóricos de
Teles, o que teve maior repercussão internacional foi o livro
"Drummond°- A Estilística da
Repetição", publicado em 1970.
Com a obra, o poeta começava a
trazer para o espaço de discussão
literária nacional a abordagem
crítica da forma.
"Com o livro sobre o poeta Carlos Drummond, coloco no Brasil
que literatura não é só falar sobre
o tema dela, que é de todos. O que
faz que a obra seja original de um
autor é a maneira que ele a trata, a
forma que ele lhe dá. Por exemplo, Guimarães Rosa conta o que
todos conhecem, mas de uma
maneira que só ele consegue."
A sistematização do pensamento sobre a literatura funciona como um verdadeiro programa para a produção poética de Teles,
que começa relendo os moldes
dos mais antigos poetas parnasianos até alcançar a visualidade
proposta pelo vanguardismo dos
concretistas.
"Pode parecer um contrasenso,
mas o prêmio de intelectual do
ano vai direcionar minha vida daqui para a frente como já vem direcionando desde o início. Chegar
ao Juca Pato significou que entrei
num projeto literário em que produzia poesia e crítica regularmente. E esse projeto não será modificado, preciso levar esse prestígio
do prêmio adiante", afirma Teles,
autor de livros como "Vanguarda
Européia e Modernismo Brasileiro" (1972) e "Retórica do Silêncio" (1979).
Nascido em Bela Vista de Goiás,
Teles começou seus trabalhos teóricos divulgando a regionalidade
de seu Estado no livro de ensaios
"Goiás e Literatura" e depois em
"A Poesia em Goiás", ambos de
1964, e "O Conto Brasileiro em
Goiás" (1982). "As universidades
precisam assumir sua regionalidade com uma perspectiva de
universalizar sua região."
O professor, com uma vasta experiência acadêmica em universidades na Europa, nos EUA e no
Uruguai, se dedica agora à organização de um volume com suas entrevistas para a imprensa e ao segundo volume de seu "Contramargem", que deve trazer os artigos que precisaram ser retirados
do primeiro devido ao número de
páginas do livro e alguns novos
estudos publicados em revistas
estrangeiras e nacionais.
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