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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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LITERATURA

Escritor Gilberto Mendonça Teles é eleito intelectual do ano 2002 pelos ensaios reunidos em "Contramargem"

Poeta ganha Juca Pato com livro teórico

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de Gilberto Mendonça Teles, 72, ter lançado recentemente "Hora Aberta", uma reunião de poemas escritos entre 1950 e 2002, foi a faceta crítica do poeta, representada pelos ensaios de "Contramargem", que o elegeu intelectual do ano 2002 na disputa pelo troféu Juca Pato, concurso promovido pela União Brasileira de Escritores com patrocínio da Folha.
Para o autor, as vertentes teórica e poética de sua produção escrita sempre se entrelaçaram. "O ato da criação poética é duplo. Ele é ao mesmo tempo uma intuição que, para virar poema, precisa passar pelo controle. Esse olhar duplo no ato da criação pode ou permanecer no sentido de se querer poesia ou se tornar cada vez mais lógico e aí passa a enxergar não o próprio texto, mas aquele composto por outro", diz o goiano Teles de sua casa no Rio, onde mora há 30 anos e onde ministra aulas de literatura brasileira e teoria da literatura na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio).
E foi com exercícios desse olhar crítico reunidos no livro "Contramargem", lançado no ano passado, que o autor concorreu ao Juca Pato, disputando a final com a obra poética "Um Calafrio Diário", de Renata Pallottini.
Entre os textos de outros autores observados pela razão de Teles nesse livro, estão desde Machado de Assis, Manuel Bandeira e Oswald de Andrade até Guimarães Rosa, passando pelos poetas Lêdo Ivo e Luís Vaz de Camões. Se o leque de estilos e momentos literários é abrangente, o alcance do título não fica atrás. "Contramargem" faz referência à "margem", uma figura recorrente em todo o trabalho crítico do autor.
"Vejo a literatura como uma atividade à margem da sociedade, mas sem sair dela. A literatura não reflete o social, mas faz parte dele, é uma parte angustiosa, crítica, utópica, que revela o que normalmente não está revelado", diz.
Entre os trabalhos teóricos de Teles, o que teve maior repercussão internacional foi o livro "Drummond°- A Estilística da Repetição", publicado em 1970. Com a obra, o poeta começava a trazer para o espaço de discussão literária nacional a abordagem crítica da forma.
"Com o livro sobre o poeta Carlos Drummond, coloco no Brasil que literatura não é só falar sobre o tema dela, que é de todos. O que faz que a obra seja original de um autor é a maneira que ele a trata, a forma que ele lhe dá. Por exemplo, Guimarães Rosa conta o que todos conhecem, mas de uma maneira que só ele consegue."
A sistematização do pensamento sobre a literatura funciona como um verdadeiro programa para a produção poética de Teles, que começa relendo os moldes dos mais antigos poetas parnasianos até alcançar a visualidade proposta pelo vanguardismo dos concretistas.
"Pode parecer um contrasenso, mas o prêmio de intelectual do ano vai direcionar minha vida daqui para a frente como já vem direcionando desde o início. Chegar ao Juca Pato significou que entrei num projeto literário em que produzia poesia e crítica regularmente. E esse projeto não será modificado, preciso levar esse prestígio do prêmio adiante", afirma Teles, autor de livros como "Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro" (1972) e "Retórica do Silêncio" (1979).
Nascido em Bela Vista de Goiás, Teles começou seus trabalhos teóricos divulgando a regionalidade de seu Estado no livro de ensaios "Goiás e Literatura" e depois em "A Poesia em Goiás", ambos de 1964, e "O Conto Brasileiro em Goiás" (1982). "As universidades precisam assumir sua regionalidade com uma perspectiva de universalizar sua região."
O professor, com uma vasta experiência acadêmica em universidades na Europa, nos EUA e no Uruguai, se dedica agora à organização de um volume com suas entrevistas para a imprensa e ao segundo volume de seu "Contramargem", que deve trazer os artigos que precisaram ser retirados do primeiro devido ao número de páginas do livro e alguns novos estudos publicados em revistas estrangeiras e nacionais.


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