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"A MULHER HABITADA"
Nicaraguense une amor e revolução
MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Até publicar "A Mulher
Habitada", em 1989, a nicaraguense Gioconda Belli tinha escrito somente poesia -cinco coletâneas, entre as quais "Linea de
Fuego" (Linha de Fogo), que lhe
valeu o prêmio literário Casa das
Américas de 1978.
Para seu primeiro romance, Belli levou a mesma convicção: a de
que é possível escrever poemas de
amor que sejam também revolucionários, que possam combinar
experiências pessoais com experiências coletivas. Nascida em
Manágua em 9 de dezembro de
1948, Belli estudou na Espanha e
nos EUA antes de voltar para seu
país e se tornar uma militante da
FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional), movimento
guerrilheiro que derrubou Anastasio Somoza em 1979.
Tanto a poesia quanto a prosa
de Belli seguem a melhor tradição
da literatura nicaraguense contemporânea, de forte inspiração
político-revolucionária e calcada
no mítico exército de camponeses
criado por Augusto Sandino, em
1927, para combater as tropas
norte-americanas.
Em seu primeiro texto em prosa, Belli vai mais longe na história.
Tira da invasão espanhola, há 500
anos, Itzá, guerreira que defendia,
ao lado de seu amante Yarince, o
território centro-americano contra os espanhóis. Itzá é também o
ancestral espírito lutador que "habita" (daí o título) a protagonista
Lavínia (alter ego da autora), jovem mulher em busca de um sentido para sua vida. Ao voltar de
uma temporada de estudos na
Europa, Lavínia engaja-se na luta
de guerrilha contra a ditadura militar, com seu namorado, Felipe.
O entrelaçamento das histórias
dessas duas mulheres é que dá
forma à narrativa forte e convincente de Belli.
"Sinto o sangue de Lavínia e me
invade uma plenitude de seiva invernal", diz a Itzá narradora. "De
maneira estranha, é minha criação. Ela não sou eu que voltou para a vida. Não a possuí como espíritos que assustavam os meus antepassados. Mas convivemos no
sangue e a linguagem de minha
história, que também é sua, começou a cantar em suas veias."
Da experiência coletiva para a
pessoal. "A Mulher Habitada" é
também um grande romance de
amor, que aborda com lirismo,
suspense e sensualidade o fundo
político-revolucionário que o ambienta. É o retrato de uma época,
visto pela ótica de duas mulheres
apaixonadas, que questionam a
separação entre guerra e amor,
entre história e indivíduo.
"A quem importava a vida amorosa do Che (Guevara)?", pergunta-se Lavínia. "A história não se
detinha nesses detalhes. Não se
interessava pela vida íntima dos
heróis. Era "coisa de mulher" se
perguntar sempre pelo amor. Por
que seria tão difícil para os homens reconhecer a necessidade, a
importância histórica do amor?"
A Mulher Habitada
La Mujer Habitada
Ótimo
Autora: Gioconda Belli
Tradução: Enrique Boero Baby
Editora: Record
Quanto: R$ 40 (400 págs.)
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