São Paulo, Quinta-feira, 09 de Setembro de 1999
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TRECHO


"Eu também moro nas ruas. Uma ponta de cigarro na orelha e um cinzeiro - na mão. "Você não parece morar nas ruas." Um caco de dente na boca. Naquele instante, edifícios saqueavam sombras, insones, parindo cobras. Ele poderia subitamente ter sacado a faca, na calçada, disseram. Há margens debruadas de luzes. Edifícios cúbicos movendo-se sob arcadas de samaúmas. Esquinas defuntas? E, sob um arco, down town, lâmpadas inchadas medindo o horizonte. Correm vozes em desordem, mudas, e um guincho talvez de guaxanim. De tarde, corvos latindo nas árvores e cacto abrupto da casa. Estradas guiando noites. Quase ao lado do Johnnie's, Coffee Shop, com seu leve jogo de luzes. Paredes não se encolhiam como sono. Acqua & branco. Alba imóvel dentro do quarto."
"031197", poema de "Céu-Eclipse", de Régis Bonvicino


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