São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Clement Greenberg e Meyer Schapiro têm perspectivas distintas

Livros ilustram embate crítico

Associated Press
"Guernica', de Picasso, é uma das obras analisadas em "A Unidade da Arte de Picasso', de Schapiro, e "Estética Doméstica', de Greenberg


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

De um lado, Clement Greenberg, para quem a tela "Guernica", de Picasso, é fruto de "uma conspiração para que se diga que se trata de uma das maiores pinturas do século 20". De outro, Meyer Schapiro, que vê em "Guernica" uma "ressurreição das obras anteriores" de Picasso e, portanto, um de seus trabalhos mais representativos.
Tal confronto entre os autores norte-americanos está presente em obras que acabam de chegar às livrarias. Greenberg comparece com "Estética Doméstica", onde a passagem sobre "Guernica" é apenas marginal, resposta a uma das perguntas em um seminário realizado em Bennington (EUA), em 1971, transcrita na publicação.
Já Schapiro surge com "A Unidade da Arte de Picasso", obra dedicada ao pintor espanhol, na qual a tela "Guernica" é analisada minuciosamente em 39 páginas.
Ambos são personalidades fundamentais na história da arte norte-americana. Greenberg (1909-1994) por ter sido, como crítico, o grande incentivador do expressionismo abstrato de Pollock e Rothko. Schapiro (1904-1996) é considerado um dos mais influentes historiadores da arte no século, reconhecido por sua abrangência e generosidade de análise.
"Estética Doméstica", de Greenberg, é uma publicação recente nos Estados Unidos, editada em 99, portanto após sua morte. Ela reúne nove conferências extraídas do seminário proferido pelo crítico no Bennington College, em 1970. Na época, o autor não ficou satisfeito com a abordagem no seminário e aprofundou seus conteúdos em nove ensaios. O livro traz tanto os ensaios como as conferências.
Nele, Greenberg defende a importância da intuição para a experiência estética e levanta problemas como "se os veredictos do gosto são subjetivos ou objetivos". Kantiano até o último fio de cabelo -há citações do filósofo alemão em ao menos um terço do livro-, o crítico centra sua visão na organização formal das obras.
"Greenberg tem limites muito claros, é um grande defensor do expressionismo abstrato nova-iorquino, mas nunca entendeu Marcel Duchamp, que acabou influenciando a pop arte norte-americana, que derrubou as teorias de Greenberg", diz o curador Nelson Aguilar.
Por sua postura destrutiva em relação a artistas que não gostava, especialmente na revista "Partisan", Greenberg ganhou uma imensa coleção de inimigos, entre eles o pintor norte-americano Julian Schnabel. Conta a lenda que certa vez, quando Schnabel viajava na primeira classe de um avião e avistou Greenberg na classe turística, chegou a afirmar: "Nunca me vi tão confortável".
"A Unidade da Arte de Picasso", de Schapiro, é um levantamento, ricamente ilustrado, do processo criativo do artista espanhol. Dividido em três seções, a primeira, que dá o título à publicação, faz uma análise sobre a unidade na obra de Picasso, a segunda, sobre a relação dessa obra com as teorias de Einstein, e a última analisa "Guernica".


A UNIDADE DA ARTE DE PICASSO. De: Meyer Schapiro. Editora: Companhia das Letras. Quanto: R$ 45 (256 págs.).


ESTÉTICA DOMÉSTICA. De: Clement Greenberg. Editora: Companhia das Letras. Quanto: R$ 32 (288 págs.).


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