São Paulo, sexta, 9 de outubro de 1998

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CINEMA
Para escapar da concorrência das grandes redes de exibição, as salas da cidade apresentam obras fora do "circuitão'
Ribeirão vê alternativos como alternativa

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
da Folha Ribeirão

Assistir filmes cults como "Woody Allen Concert - Wild Man Blues", de Barbara Kopple, "O Quarto Poder", de Costa-Gravas, e "Antes da Revolução", de Bernardo Bertolucci, pagando apenas R$ 6,00 (R$ 3 se você for estudante) em uma antiga sala de cinema do centro da cidade.
O que parece cada vez mais difícil na era das salas multiplex ainda é possível em Ribeirão Preto (a 319 km de SP), pois, para escapar da concorrência das grandes redes, os cinemas Belas Artes 1 e 2 estão apostando nos filmes que tradicionalmente ficam fora do chamado "circuitão" comercial.
Só neste ano foram exibidos nas duas salas pelo menos 40 filmes considerados cults ou raridades, como a versão original de "O Morro dos Ventos Uivantes", de 1939.
"Muitas vezes a decisão de exibir os filmes acaba sendo imposta pelas circunstâncias", diz o empresário João Mello Rodrigues, 38, dono dos dois cinemas, distantes cerca de 500 metros um do outro.
"Não consigo trazer os lançamentos do circuitão e acabo pegando os filmes de arte, que pelo menos agradam a um público determinado", diz ele.
Com isso, preciosidades cinematográficas que quase nunca visitam cidades do interior acabam se intercalando entre reprises do circuito comercial, como "Quem Vai Ficar Com Mary?" e "Titanic".
"Antes da Revolução", por exemplo, que esteve em cartaz no final do mês passado, é o primeiro filme dirigido por Bertolucci. Ainda neste final de semana, uma sala vai exibir "Razão do Meu Afeto".
² Concorrência
Até o final de 99, Ribeirão Preto ganhará 53 salas de cinema do sistema multiplex, em dois novos shoppings. Com isso, para continuar funcionando, Rodrigues afirma que vai buscar apoio da iniciativa privada. "O filme cult tem de contar com apoio, porque o público é seleto, mas pequeno", diz ele, que, além de administrar os negócios, opera os projetores.
Os grandes sucessos de público do Belas Artes foram a reprise de "O Carteiro e o Poeta", que levou 374 pessoas ao cinema em uma semana, e "Razão e Sensibilidade", com 588 pessoas. Juntos, os dois renderam cerca de R$ 4 mil.
Segundo Rodrigues, os nacionais "Canudos" e "Central do Brasil" também garantiram bom público.
Para a arquiteta Maristela Roquette Loures, 26, fã do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, as salas do Belas Artes funcionam como opção para quem quer fugir do padrão americano de produções.
No entanto, ela diz que as salas multiplex são muito mais confortáveis, e isto está fazendo diferença. Se não conseguir "apoio", Rodrigues diz que vai desativar uma de suas salas.



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