São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2001

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DANÇA

Grupo leva "Pátio dos Milagres", coreografia baseada nas tradições religiosas populares, ao palco do Municipal de SP

Stagium comemora 30 anos de história

ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Com o espetáculo "Pátio dos Milagres (Ex-Votos)", que estréia hoje no Teatro Municipal de São Paulo, o Stagium talvez esteja somando 80 obras ao seu repertório. O número é aproximado, pois Márika Gidali, diretora do grupo com Décio Otero, autor da coreografia, se dá conta que nunca se preocupou com a quantidade exata de criações realizadas nos 30 anos de atividades do grupo.
Para Gidali, o que importa agora é comemorar a trajetória ininterrupta do Stagium durante três décadas. Todo esse tempo, além de representar uma conquista singular na dança brasileira, faz do Stagium uma companhia histórica.
Em 1971, quando foi fundado em São Paulo, o Stagium colocou em prática uma proposta avançada. Rejeitando o elitismo que envolvia os espetáculos de dança, assumiu uma postura de aproximação com o público, que começava durante a entrada dos espectadores nos teatros. De cortinas abertas, os bailarinos expunham-se no palco como pessoas comuns, permitindo que a platéia os observasse durante o aquecimento físico.
Essa informalidade, que hoje é corriqueira, na época significou uma novidade. Para completar, o Stagium conseguia escapar da censura que flagelava o meio teatral durante o regime militar, pelo fato de não lidar com a palavra, mas com a linguagem corporal.
Principalmente nos anos 70, cada estréia do Stagium era um acontecimento cercado de comoção. Voltado para a realidade, o grupo inaugurou nova fase ao levar para os palcos temas relevantes da sociedade brasileira, como a questão do índio em "Kuarup" ou o mundo marginal do dramaturgo Plínio Marcos, cuja peça "Navalha na Carne" inspirou o balé "Quebradas do Mundaréu".
"O segredo da sobrevivência é resistir às marés baixas", ensina Gidali hoje, lembrando que, em seu álbum de memórias, o Stagium possui muitos momentos marcantes, como as apresentações em acampamento indígena.
Falta de coerência é o que não se pode cobrar do Stagium, que difundiu a dança num vasto território. "Pátio dos Milagres", o novo espetáculo, também tem a cultura brasileira como tema. "Nossa fonte inicial de inspiração foram as tradições religiosas do Brasil. Mas, como o atentado terrorista de 11 de setembro nos pegou em meio ao processo de criação, acabamos falando da fé no sentido universal, sem sectarismos."


PÁTIO DOS MILAGRES (EX-VOTOS) - coreografia de Décio Otero e direção teatral de Márika Gidali, com o Ballet Stagium. Quando: de hoje a sáb., às 21h, e dom., às 18h. Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš; tel. 223-3022). Quanto: de R$ 2 a R$ 15.



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