São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2001

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TEATRO

Edson Celulari e Cacá Carvalho trocam personagens na peça de Beckett, que estréia para o público hoje, às 21h30

Atores revezam papéis em "Fim do Jogo"

VALMIR SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A equipe de "Fim do Jogo", espetáculo que estréia hoje para o público em geral no recém-inaugurado teatro Folha, leva ao pé da letra o espírito lúdico por trás da peça do irlandês Samuel Beckett (1906-89), adaptada por Millôr Fernandes.
Nos ensaios, havia o jogo da "caixinha do tesouro", no qual os protagonistas Edson Celulari e Cacá Carvalho eram conduzidos a exercícios sensoriais, com olhos vendados, conforme instruções encontradas na tal "caixinha".
Da mesma forma, por sugestão do diretor Francisco Medeiros, os atores eram cúmplices ao experimentar, tanto um quanto o outro, papéis do arbitrário Ham e do seu serviçal Clóvis.
"Sempre que o diretor nos perguntava qual papel queríamos fazer, eu e o Cacá respondíamos, brincando, que seria o da mãe", afirma Celulari, 43.
Ele cita a personagem coadjuvante Nell (Malu Pessin), que habita uma lata de lixo, bem como o marido Nagg (Lafayette Galvão).
As inclinações naturais dos ensaios apontaram para Carvalho o papel do dominador Ham, cego, preso em cadeira que acredita estar no centro do mundo.
Coube a Celulari o personagem oposto, o submisso Clóvis, sempre à disposição, ao menor sinal de um apito, para atender aos queixumes daquele que se traduz também como seu mestre, combustível para a relação de poder que estabelecem.
Foi assim que "Fim do Jogo" começou, em setembro, o "aquecimento" das pré-estréias por cidades como Belém, Manaus, São Luís e Belo Horizonte.
Em São Paulo, porém, a montagem pretende radicalizar a perspectiva do jogo embutida no título. A partir da próxima semana, Carvalho e Celulari vão revezar, de fato, os papéis.
Querem começar devagar, trocando uma noite, duas noites por semana, até assumirem um dos personagens a cada sessão, para surpresa da platéia.
"Eu considero Clóvis um lado de Ham, e vice-versa, eles formam um só. Mais do que o exercício de interpretar, o que nos fascina é o fenômeno da criação no qual se dá o roubo artístico, poético", afirma Carvalho, 49.
O cenógrafo e figurinista Márcio Medina se desdobrou da mesma maneira para corresponder ao jogo de máscaras que, segundo Carvalho, é inerente ao espírito do teatro.
É a terceira vez que os atores contracenam no palco (também já fizeram TV juntos). A primeira foi em "Hamlet" (85), de Shakespeare. A segunda, em "Don Juan" (97), de Molière.
"Temos estradas paralelas, mas quando nos encontramos é sempre uma celebração", afirma Carvalho.


FIM DO JOGO - De: Samuel Beckett. Tradução: Millôr Fernandes. Direção: Francisco Medeiros. Com: Cacá Carvalho, Edson Celulari, Lafayette Galvão e Malu Pessin. Onde: teatro Folha (shopping Pátio Higienópolis -°piso 2; av. Higienópolis, 618, SP, tel. 0/xx/11/3823-2323). Quando: estréia hoje, às 21h30; sex., às 18h e às 21h30; sáb., às 19h e às 22h; dom., às 19h. Quanto: de R$ 40 a R$ 50. Patrocinadores: Grupo Folha e Eletrobras.


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