|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Edson Celulari e Cacá Carvalho trocam personagens na peça de Beckett, que estréia para o público hoje, às 21h30
Atores revezam papéis em "Fim do Jogo"
VALMIR SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A equipe de "Fim do Jogo", espetáculo que estréia hoje para o
público em geral no recém-inaugurado teatro Folha, leva ao pé da
letra o espírito lúdico por trás da
peça do irlandês Samuel Beckett
(1906-89), adaptada por Millôr
Fernandes.
Nos ensaios, havia o jogo da
"caixinha do tesouro", no qual os
protagonistas Edson Celulari e
Cacá Carvalho eram conduzidos a
exercícios sensoriais, com olhos
vendados, conforme instruções
encontradas na tal "caixinha".
Da mesma forma, por sugestão
do diretor Francisco Medeiros, os
atores eram cúmplices ao experimentar, tanto um quanto o outro,
papéis do arbitrário Ham e do seu
serviçal Clóvis.
"Sempre que o diretor nos perguntava qual papel queríamos fazer, eu e o Cacá respondíamos,
brincando, que seria o da mãe",
afirma Celulari, 43.
Ele cita a personagem coadjuvante Nell (Malu Pessin), que habita uma lata de lixo, bem como o
marido Nagg (Lafayette Galvão).
As inclinações naturais dos ensaios apontaram para Carvalho o
papel do dominador Ham, cego,
preso em cadeira que acredita estar no centro do mundo.
Coube a Celulari o personagem
oposto, o submisso Clóvis, sempre à disposição, ao menor sinal
de um apito, para atender aos
queixumes daquele que se traduz
também como seu mestre, combustível para a relação de poder
que estabelecem.
Foi assim que "Fim do Jogo" começou, em setembro, o "aquecimento" das pré-estréias por cidades como Belém, Manaus, São
Luís e Belo Horizonte.
Em São Paulo, porém, a montagem pretende radicalizar a perspectiva do jogo embutida no título. A partir da próxima semana,
Carvalho e Celulari vão revezar,
de fato, os papéis.
Querem começar devagar, trocando uma noite, duas noites por
semana, até assumirem um dos
personagens a cada sessão, para
surpresa da platéia.
"Eu considero Clóvis um lado
de Ham, e vice-versa, eles formam
um só. Mais do que o exercício de
interpretar, o que nos fascina é o
fenômeno da criação no qual se
dá o roubo artístico, poético",
afirma Carvalho, 49.
O cenógrafo e figurinista Márcio Medina se desdobrou da mesma maneira para corresponder ao
jogo de máscaras que, segundo
Carvalho, é inerente ao espírito
do teatro.
É a terceira vez que os atores
contracenam no palco (também
já fizeram TV juntos). A primeira
foi em "Hamlet" (85), de Shakespeare. A segunda, em "Don Juan"
(97), de Molière.
"Temos estradas paralelas, mas
quando nos encontramos é sempre uma celebração", afirma Carvalho.
FIM DO JOGO - De: Samuel Beckett.
Tradução: Millôr Fernandes. Direção:
Francisco Medeiros. Com: Cacá Carvalho,
Edson Celulari, Lafayette Galvão e Malu
Pessin. Onde: teatro Folha (shopping
Pátio Higienópolis -°piso 2; av.
Higienópolis, 618, SP, tel. 0/xx/11/3823-2323). Quando: estréia hoje, às 21h30;
sex., às 18h e às 21h30; sáb., às 19h e às
22h; dom., às 19h. Quanto: de R$ 40 a R$
50. Patrocinadores: Grupo Folha e
Eletrobras.
Texto Anterior: "Legalmente Loira": Comédia questiona falsa moralidade Próximo Texto: Diário do autor guia diretor Índice
|