DA REPORTAGEM LOCAL

Não é só sob os cabelos ruivos de Caramuru que Selton Mello chega hoje às telas. O mineiro de 28 anos também vive o atormentado André, de "Lavoura Arcaica", de Luiz Fernando Carvalho.
"Lavoura" é de 1998 e foi rodado imediatamente anterior a "O Auto da Compadecida", que Mello protagonizou, ao lado de Matheus Nachtergaele. A coincidência das estréias, porém, deu oportunidade para que o ator, cujos mais de 18 anos de carreira se consolidaram principalmente na TV, falasse do preconceito que enxerga contra quem se firma na telinha -como ele, Guel e Carvalho.
"Minha formação é de TV. E tem um preconceito muito grande. Cansei. "Que que esse cara da TV faz?". Não importa. O trabalho do Luiz e do Guel é melhor do que muita coisa que tem em cinema. Falam bem do meu trabalho, mas têm um pé atrás."
E exemplifica: "Senti isso no "Auto". Como era uma dupla com o Matheus, sentia uma distinção quando iam falar dos dois, pelo Matheus ser um ator de teatro, com uma formação diferente da minha". A TV, diz, pode "emburrecer" ou dar "ferramentas fantásticas". "Se você quiser, pode tirar o que há de melhor ali. Sempre tirei e me incomoda a distinção."
Mello diz que trabalhar com Guel em "Auto" o "salvou" de "Lavoura", que afirma ter sido, sem titubear, seu trabalho mais difícil. O filme de Carvalho, conta, obrigou a "trazer à tona fantasmas e conviver com eles", além de um sofrimento físico -teve de emagrecer muito, com remédios.
Pensa, ainda, que poderia ter tido medo de voltar a atuar, temor de não repetir um grande desempenho depois do "mergulho vertical" de "Lavoura". Por isso diz que a comédia foi redentora.
O ator busca um ponto comum para falar dos diretores que, apesar de seguirem caminhos diferentes, são reconhecidos como renovadores da TV nacional, Guel desde "TV Pirata", Carvalho em novelas como "Renascer".
"Tive a impressão que eles são de uma geração que, aos 20 e poucos anos, queria fazer cinema. Era uma época em que não tinha muito cinema no Brasil, estava meio enterrado. Ambos foram para a TV. Na verdade, a coisa do filho pródigo, do "Lavoura", acho que cabe aos dois: eles estão voltando para onde queriam ter ido." (FA)


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