São Paulo, segunda, 9 de novembro de 1998

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LIVRO - LANÇAMENTO
Obra relata histórias da imigração síria e libanesa

PAULO DANIEL FARAH
da Redação

O livro "Memórias da Imigração - Libaneses e Sírios em São Paulo", lançado pela Discurso Editorial, retrata um capítulo expressivo das histórias brasileira e árabe.
Há 6,5 milhões de descendentes de libaneses (mais que a população do Líbano: 3,1 milhões) e 3,5 milhões de sírios no país.
A obra, em suas 772 páginas, reúne depoimentos de 69 (37 homens e 32 mulheres) imigrantes do Líbano e da Síria e descendentes, colhidos a partir de 1981.
Resgata, ainda, a experiência de vida dos entrevistados, aspectos econômicos, sociais e políticos do Brasil e do Oriente Médio -no contexto do Império Otomano e da independência desses dois países- e a São Paulo do início deste século.
As autoras são as brasileiras Lina Saigh Maluf, psicanalista, Betty Loeb Greiber, joalheira, formadas em ciências sociais pela USP (Universidade de São Paulo), e Vera Cattini Mattar, que estudou letras no Instituto Sedes Sapientiae.
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Fidelidade aos relatos
Maluf e Mattar (ambas de ascendência libanesa) e Greiber (descendente de húngaros) disseram à Folha que procuraram "jamais mudar uma expressão do entrevistado".
Como exemplo dessa fidelidade ao relato oral, citam a manutenção de "Norte América" nos depoimentos, em vez de "América do Norte".
Na transcrição, as escritoras buscaram um meio termo entre a literalidade total e a correção excessiva. "São entrevistados, não são Rui Barbosa." A intenção era não perder a espontaneidade dos depoimentos. "Não pode ser uma linguagem pasteurizada."
As entrevistas, normalmente feitas em duas ou três sessões, eram conduzidas com o mínimo de interferência possível, a fim de evitar que os depoentes fossem conduzidos durante os testemunhos.
De acordo com Mattar, tentavam "deixar a pessoa desenvolver o tema por si" e intervinham pouco. "O jeito como a pessoa conta é que traz a graça", diz Maluf. "São idéias que só a pessoa tem."
O relacionamento com os entrevistados era tranquilo -José Khoury, que morreu recentemente com 106 anos, era chamado de "namorado" de Greiber, devido à simpatia que nutria por ela (recíproca, segundo Greiber, que considera o relato dele seu preferido).
Ninguém se recusou a ser entrevistado. Uma senhora árabe (Salwa Mahfuz), no entanto, aceitou conversar com as organizadoras sob a condição de que a entrevista não fosse gravada. "Tinha vergonha do sotaque", explicam.
Alguns libaneses tinham sotaque "acaipirado". Nesses, "a mentalidade (do interior) ficou", dizem.
Entre os percalços que enfrentaram para finalizar a obra, as autoras destacam a mudança de editor durante a realização do livro.
Diluídos nas entrevistas, apresentam-se as condições de vida dos imigrantes em seus países de origem, as razões da imigração, a viagem e as condições da chegada,e o trabalho em São Paulo etc.
Notas de rodapé, que incluem a tradução de palavras árabes, esclarecem acontecimentos e termos nem sempre conhecidos.
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Livro: Memórias da Imigração - Libaneses e Sírios em São Paulo Autoras: Lina Saigh Maluf, Betty Loeb Greiber e Vera Cattini Mattar Lançamento: Discurso Editorial Quanto: R$ 75 (772 págs.)


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