São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2004

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GASTRONOMIA

Chef apresenta cara atual de 220 anos de tradição lusa

COLUNISTA DA FOLHA

Até duas ou três décadas atrás era impossível ao gourmet ir a Portugal pela primeira vez e não visitar o restaurante Tavares Rico, em Lisboa -cujo chef, Luiz Corrêa, apresenta cinco noites de menu-degustação em São Paulo, a partir da próxima terça-feira.
Primeiro, porque era considerado pela crítica como o melhor do país. Segundo, porque -como ainda hoje- é uma instituição veneranda, um palácio que acolhe os clientes numa ambientação que lembra os primórdios dos grandes restaurantes europeus, na passagem do século 18 para o 19, quando eles eram a representação, para a burguesia já rica (mas plebéia), do fausto senhorial dos palacetes aristocráticos.
Hoje, o Tavares não tem estrelas do guia "Michelin". Mas quem tem em Portugal? O "Michelin" talvez não esteja preparado para julgar uma cozinha que é tão diferente da alta gastronomia francesa -é a cozinha que vem dos camponeses e dos burgueses, que trata os ingredientes de forma quase afetiva e menos técnica.
O festival que acontece em São Paulo não se restringe aos pratos mais tradicionais do Tavares. O chef Corrêa mostra também algumas pitadas de modernidade, como se vê em todo restaurante de prestígio hoje em dia (e correspondem ao recente processo de restauro do imóvel). Mas seus ingredientes -bacalhau, pargo, pernil de porco- remetem ainda às épocas de fausto do Tavares.
O Tavares foi aberto em 1784, no mesmo local em que está ainda hoje, tombado pelo patrimônio histórico, ou talvez tenha sido em 1779, a poucos metros dali, num botequim cujo dono cinco anos mais tarde se mudaria para o número 35 da rua da Misericórdia.
E foi em 1823 que, passando a propriedade aos irmão Tavares, ganhou características de restaurante e o nome atual. Com pelo menos 220 anos, foi palco de reuniões importantes de políticos e intelectuais portugueses. De seu personagem Ega (em "Os Maias"), Eça de Queiroz descreve um almoço no Tavares: "O bife era excelente: e depois de uma perdiz fria, dum pouco de doce de ananás, dum café forte, Ega sentiu adelgaçar-se enfim aquele negrume que desde a véspera lhe pesava na alma". (JOSIMAR MELO)


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