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GASTRONOMIA
Chef apresenta cara atual de 220 anos de tradição lusa
COLUNISTA DA FOLHA
Até duas ou três décadas atrás
era impossível ao gourmet ir a
Portugal pela primeira vez e não
visitar o restaurante Tavares Rico,
em Lisboa -cujo chef, Luiz Corrêa, apresenta cinco noites de menu-degustação em São Paulo, a
partir da próxima terça-feira.
Primeiro, porque era considerado pela crítica como o melhor do
país. Segundo, porque -como
ainda hoje- é uma instituição
veneranda, um palácio que acolhe
os clientes numa ambientação
que lembra os primórdios dos
grandes restaurantes europeus,
na passagem do século 18 para o
19, quando eles eram a representação, para a burguesia já rica
(mas plebéia), do fausto senhorial
dos palacetes aristocráticos.
Hoje, o Tavares não tem estrelas
do guia "Michelin". Mas quem
tem em Portugal? O "Michelin"
talvez não esteja preparado para
julgar uma cozinha que é tão diferente da alta gastronomia francesa -é a cozinha que vem dos
camponeses e dos burgueses, que
trata os ingredientes de forma
quase afetiva e menos técnica.
O festival que acontece em São
Paulo não se restringe aos pratos
mais tradicionais do Tavares. O
chef Corrêa mostra também algumas pitadas de modernidade, como se vê em todo restaurante de
prestígio hoje em dia (e correspondem ao recente processo de
restauro do imóvel). Mas seus ingredientes -bacalhau, pargo,
pernil de porco- remetem ainda
às épocas de fausto do Tavares.
O Tavares foi aberto em 1784,
no mesmo local em que está ainda
hoje, tombado pelo patrimônio
histórico, ou talvez tenha sido em
1779, a poucos metros dali, num
botequim cujo dono cinco anos
mais tarde se mudaria para o número 35 da rua da Misericórdia.
E foi em 1823 que, passando a
propriedade aos irmão Tavares,
ganhou características de restaurante e o nome atual. Com pelo
menos 220 anos, foi palco de reuniões importantes de políticos e
intelectuais portugueses. De seu
personagem Ega (em "Os
Maias"), Eça de Queiroz descreve
um almoço no Tavares: "O bife
era excelente: e depois de uma
perdiz fria, dum pouco de doce de
ananás, dum café forte, Ega sentiu
adelgaçar-se enfim aquele negrume que desde a véspera lhe pesava
na alma".
(JOSIMAR MELO)
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