São Paulo, quarta, 9 de dezembro de 1998

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EXPOSIÇÃO
Metropolitan exibe o lado fotógrafo de Edgar Degas

Divulgação
O artista Edgar Degas em auto-retrato ao lado de Zoé Cloisier, foto provavelmente do outono de 1895


Museu de NY promove até janeiro mostra com 40 obras do artista
MARCELO DIEGO
de Nova York

O Metropolitan Museum of Art, em Nova York, está mostrando uma face menos conhecida do pintor impressionista Edgar Degas (1834-1917), ao expor 40 obras suas como fotógrafo.
A exibição "Edgar Degas, Fotógrafo" acontece até o dia 3 de janeiro, reunindo acervos do próprio Metropolitan Museum of Art, do J. Paul Getty Museum, do Musée d'Orsay e da Bibliothèque Nationale de France.
As fotografias de Degas estão sendo acompanhadas por algumas pinturas, gravuras e monotipos, que ajudam a entender a relação entre a produção do artista e sua estética visual.
"Os trabalhos de Degas são estudados e exibidos extensivamente desde sua morte. Mas raramente são mostradas suas fotografias, que permanecem desconhecidas para a maioria. Elas ajudam a enriquecer nosso conhecimento sobre o artista", disse o diretor do museu, Phillippe de Montebello.
Degas começou a se interessar por fotos por volta de 1895, após criar a maioria de seus quadros.
Um dos motivos que o teriam levado a procurar um novo foco de produção foi a morte de sua irmã, Marguerite, uma de suas maiores incentivadoras.
Os temas principais da câmera de Degas eram retratos de amigos e artistas, como o poeta Stéphane Mallarmé. Ele também produziu uma série de retratos de modelos, algumas nuas, explorando as nuances do cenário e os jogos de luzes.
Um dos retratos, mostrando os esforços de uma modelo se contorcendo para secar as costas, serviu de inspiração para uma tela de Degas ("Depois do Banho"), pintada em 1896.
A mostra também traz uma série de três negativos que, devido ao estado precário, não podem mais ser impressos em papel. Eles estão sendo exibidos pela primeira vez.
O trabalho de Degas como fotógrafo se relaciona muito com sua produção na pintura, buscando uma nova estética para a visão dos cenários e dos objetos.
Poucas pessoas sabiam do trabalho de Degas como fotógrafo. Alguns pesquisadores acreditam que parte de seu material tenha se perdido com o tempo.
Degas fotografava com uma câmera Kodak de 1888. Sua preferência era por imagens feitas ao anoitecer, pois ele podia controlar melhor a exposição à luz e brincar com as sombras.
Também aproveitava a luz do dia para criar suas esculturas, no estúdio que mantinha em Paris. "A luz do dia é muito fácil. O que eu quero é a dificuldade -a atmosfera das lâmpadas ou da luz da lua", descreve uma de suas frases destacadas na mostra.
Essa preferência acabou até gerando uma piada, que o museu faz questão de tornar público. Diz que Degas se irritou durante a produção de uma foto, pois não conseguia achar a intensidade de luz ideal. O motivo, segundo o irado pintor, é que a lua não parava de se mexer.
Na saída da exposição, o pintor faz um resumo de sua paixão pela câmera: "Fotografia, eis uma grande paixão que aborrece meus amigos. Fiz boas coisas, não? Eis o que aconteceu: o preto me empurrou para muito longe, o branco nem tanto. Eles se entenderam".



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