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CINEMA
"AMORES PARISIENSES"
Filme de Resnais confirma o lugar do cineasta no panteão dos monstros vivos do cinema
Seis personagens à procura de canções
Divulgação
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Os atores Pierre Arditi e Sabine Azéma em cena do filme "Amores Parisienses", de Alain Resnais |
CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN
Quem canta seus males espanta, já dizia o velho ditado. A partir dessa idéia banal, o veterano Alain Resnais, 80, só
confirma seu lugar no panteão
dos monstros vivos do cinema:
aqueles que, a despeito da idade,
guardam o poder de assombrar.
O autor de obras tão absolutas
como "Hiroshima Meu Amor" e
"O Ano Passado em Marienbad"
compõe, em "Amores Parisienses", aquilo que na linguagem
musical se chama "divertimento".
Para resumir, "Amores Parisienses" é uma ciranda, uma dança em que os pares se formam e se
deformam no ritmo da música.
Portanto, não se engane com o
título brasileiro infame. "Amores
Parisienses" é um quase-musical.
Não chega a ser um musical no
sentido estrito porque não utiliza
a dança como fator de encantamento. Mas chega bem perto de
ser um musical, com toda aquela
artificialidade associada ao gênero, no qual ao menor estímulo os
personagens disparam a cantar.
O curioso aqui é como acontece
a relação entre a situação e a canção. A idéia veio do dramaturgo
britânico Dennis Potter (a quem o
filme é dedicado), em cujas obras
os personagens tinham o hábito
de soltar a voz em conhecidas
canções populares.
"Amores Parisienses" é essa
brincadeira, ou melhor, "divertimento", mas não só. Depois de
desmontar a memória
("Hiroshima Meu Amor") e as camadas do tempo ("O Ano Passado em Marienbad"), de ironizar
os múltiplos níveis da psique
("Meu Tio da América") e de
multiplicar ao infinito as variantes de um ato simples ("Smoking"/"No Smoking"), em "Amores Parisienses" Resnais refaz seu
jogo com as noções de acaso e de
coincidência. Os personagens se
encontram por acaso, coincidências os aproximam. Só que essas
leis da atração adquirem moto
próprio e desencadeiam situações
à beira do absurdo.
Nesses momentos, Resnais
mostra-se a toda como aquilo que
é: um cineasta do improvável. O
que o aproxima de outro mestre,
Luis Buñuel, que soube filmar como se tudo fosse provável. Ambos
grandes monstros capazes de nos
oferecer os mais extraordinários
divertimentos.
Amores Parisienses
On Connaît la Chanson
Produção: França, 1997
Direção: Alain Resnais
Com: Pierre Arditi, Sabine Azéma e
Agnés Jaoui
Quando: a partir de hoje nos cines
Espaço Unibanco, Frei Caneca, Lumière e
Pátio Higienópolis
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