São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2000


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ARTES PLÁSTICAS
Curador-chefe da 50ª edição da mostra afirma que haverá novos espaços na exposição de 2001
Ivo Mesquita adianta novidades da Bienal

JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha


Ivo Mesquita está correndo contra o tempo. São 14 meses até a abertura da 25ª Bienal de São Paulo. O curador-chefe não fala em nomes de artistas que participarão da mostra, mas adianta algumas novidades.
Os 50 anos de Bienal, que se completam em 2001, serão celebrados na mostra com o lançamento de um livro e com a criação de lounges (espaços para o público descansar) ao longo da exposição, encomendados para artistas ou designers, onde haverá pequenos ciclos de Bienais, catálogos e fotos.
Além disso, o perfil do núcleo histórico vai mudar, e a exposição vai ganhar novos espaços. Leia a seguir os principais trechos da entrevista à Folha.

Folha - Como vai ser a inspiração de "Seis Propostas para o Próximo Milênio", do Ítalo Calvino, na Bienal?
Ivo Mesquita -
Na verdade, Calvino propõe seis categorias com as quais ele faz uma prospecção. O que eu estou pegando do livro dele não são as categorias, mas a estratégia, o princípio. O que ele está perguntando é quais seriam as qualidades que possibilitariam que a literatura continuasse funcionando no século 21. Estamos fazendo a mesma pergunta só que para as artes e para a própria Bienal.
Nós estamos definindo alguns motivos, algumas qualidades também, para usar o termo do Calvino. Ainda estamos transitando por campos. A exposição tem três estratégias formais básicas: interdisciplinaridade, a visão em prospectiva e a questão de sair do espaço do prédio, ir para outros espaços na cidade, reais ou virtuais, não importa, inclusive em outras cidades. Então a gente está pensando em fazer eventos paralelos no Rio, em Brasília.

Folha - Que qualidades vocês estão cartografando?
Mesquita -
A gente definiu três grandes campos. Primeiro a questão política. É possível identificar na produção artística hoje uma arte extremamente politizada ou nem um pouco politizada, e nos parece que isso é um sintoma que vale a pena investigar.
Um segundo campo seria a questão da existência de uma quantidade grande de trabalhos cada vez mais interativos. Aí a gente está falando de um campo mais social, da experiência antropológica da arte.
E o outro campo, que é mais cultural, são as formas das novas realidades, dos híbridos, no sentido de que tem trabalhos que expressam a perda da realidade, como essas fotografias construídas, filmes, alteração em computador. E entrariam aí todas as formas de híbridos, seja de linguagem ou de cultura.
Mas são campos muito amplos, só aí são três exposições. Há uma parte do processo que é uma discussão teórica e que ganha forma quando você começa a falar de nomes, que foi uma coisa que a gente evitou. A gente ainda não definiu nomes.

Folha - Que tipo de relação existe entre a Bienal SP e as outras? Elas conversam entre si?
Mesquita -
Quando você pensa que são 37 bienais no mundo, isso está indicando que existe uma economia, tem um sistema do qual a Bienal de São Paulo é parte. Ela pertence a esse circuito do qual é uma das líderes. Todo mundo sabe que o modelo está errado, tem muita crítica, mas elas de fato representam um diálogo, uma possibilidade de conversa num certo território que é o das artes.
O que a gente está fazendo é intensificar esse diálogo com outras áreas, com os próprios países. A gente está mudando o sistema de escolha, estamos nos dispondo a visitar todos os países que queiram participar da Bienal e, junto com eles, escolher uma coisa que faça sentido aqui em São Paulo.

Folha - O que vai ser feito no núcleo histórico?
Mesquita -
Ele vai ter como centro a cidade de Brasília, sendo menos vinculado do que na última Bienal à exposição contemporânea. A gente parte de Brasília para falar daquelas utopias -o título desse segmento vai ser "Histórias do Futuro"- que projetaram ou realizaram cidades neste século.
Acho que Brasília, por ser uma cidade do final dos anos 50, é um bom eixo que corta. Ela é a única utopia que nós temos ou a grande utopia do Brasil neste século, mas ao mesmo tempo é a cidade em que todas as idéias propostas pelas vanguardas estariam de alguma forma contempladas ou informando a realização dela.


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