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MÚSICA
Aos 65, compositor negado pelo "truste" quer "voltar com tudo"
Germano Mathias mostra no Sesc 16 sambas sincopados
especial para a Folha
Germano Mathias mora num
apartamento popular da CDHU
em Vila Brasilândia (zona norte)
com uma linha telefônica de péssima qualidade. Não fatura centavo algum de direito autoral, seus
17 discos estão fora de catálogo,
seus sambas não entraram na antologia paulista de Beth Carvalho.
Mas esse paulistano do Pari, 65,
fez mais pelo gênero na cidade do
que, seguramente, Geraldo Filme,
e, não fosse a disparidade de difusão, talvez Adoniran.
Germano faz apresentação única, hoje, no Sesc Vila Mariana.
"Vou voltar com tudo", afirma,
com sua voz "agudinha", como
ele mesmo define, em entrevista
por telefone.
Acompanhado pelo Regional
do Osvaldo (da Cuíca), ele promete uns 16 números, entre eles
"Não Vou Morrer", inspirado nos
vedas hindus ("Todo mundo
morre/ Eu não vou morrer/ Vou
ficar para semente"), "Bandeira
do Timão", em que a ameaça do
marido de rasgar a bandeira do
Corinthians é respondida pela
mulher com o fim do casamento,
e uma adaptação de "Samba do
Meu Tio", escrito nas calendas
por Caco Velho, agora adaptado
por Germano ("Eu acho Luxemburgo parecido com meu tio/ O Jô
é muito gordo/ Não parece com
meu tio").
Truste
Suas crônicas urbanas, ambientadas em geral numa periferia
paulistana pré-rap, ganham
acompanhamento musical sincopado em que o ritmo -às vezes
apenas percutido em caixa-de-fósforos- está no mesmo tempo
da voz.
"Pode reparar: o acompanhamento chega sempre atrasado em
relação à voz nos sambas de hoje.
Minha divisão não é assim tão
simples. O meu samba é mais gostoso, vibra mais."
Germano não repisa um discurso rancoroso, comum entre deserdados do mercado fonográfico.
Avisa que estará no programa
de estréia do (roqueiro) "Musikaos", da TV Cultura, ainda este
mês -"porque o Gastão é corintiano e gostou da "Bandeira do Timão"'-, que já foi tema de um
"Ensaio", da mesma emissora,
que tem um documentário sobre
ele -"Catedrático do Samba"-,
com exibição programada para
Portugal e Ucrânia, e que sairá
com a Banda Redonda no pré-Carnaval paulistano.
Certo, vê "discriminação" e
"dor-de-cotovelo" da parte do
samba mainstream, acha que Zeca Pagodinho "não interpreta, só
canta" e considera sua ausência
das prateleiras culpa do "truste".
Vez por outra, fala em jamais ter
tido "sorte" na carreira.
Germano já gravou muito Zé
Kéti, fez também vários sambas
"cariocas" ("Amélia não gosta de
passar fome não/ frequenta a
praia do Arpoador/ E gosta de namorar só doutor"), diz que cantava "em qualquer tom". Agora
achou o tom certo, está "muito
melhor".
Só não canta nunca mais, por
medo de represálias, "Minha Nega na Janela", que gravou no "Antologia do Samba Choro", disco
de 1978 de Gilberto Gil, que pediu
para dividi-lo com Germano.
Desta vez, a pedido de Germano, não vou dizer ao que ele comparava a nega.
(PAULO VIEIRA)
Show: Germano Mathias
Onde: Sesc Vila Mariana (rua Pelotas,
141, Vila Mariana, tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quando: hoje, 20h30
Quanto: R$ 4 e R$ 2 (estudantes,
comerciários e pessoas com mais de 65
anos)
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