São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2000


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MÚSICA
Aos 65, compositor negado pelo "truste" quer "voltar com tudo"
Germano Mathias mostra no Sesc 16 sambas sincopados


especial para a Folha

Germano Mathias mora num apartamento popular da CDHU em Vila Brasilândia (zona norte) com uma linha telefônica de péssima qualidade. Não fatura centavo algum de direito autoral, seus 17 discos estão fora de catálogo, seus sambas não entraram na antologia paulista de Beth Carvalho. Mas esse paulistano do Pari, 65, fez mais pelo gênero na cidade do que, seguramente, Geraldo Filme, e, não fosse a disparidade de difusão, talvez Adoniran.
Germano faz apresentação única, hoje, no Sesc Vila Mariana. "Vou voltar com tudo", afirma, com sua voz "agudinha", como ele mesmo define, em entrevista por telefone.
Acompanhado pelo Regional do Osvaldo (da Cuíca), ele promete uns 16 números, entre eles "Não Vou Morrer", inspirado nos vedas hindus ("Todo mundo morre/ Eu não vou morrer/ Vou ficar para semente"), "Bandeira do Timão", em que a ameaça do marido de rasgar a bandeira do Corinthians é respondida pela mulher com o fim do casamento, e uma adaptação de "Samba do Meu Tio", escrito nas calendas por Caco Velho, agora adaptado por Germano ("Eu acho Luxemburgo parecido com meu tio/ O Jô é muito gordo/ Não parece com meu tio").

Truste
Suas crônicas urbanas, ambientadas em geral numa periferia paulistana pré-rap, ganham acompanhamento musical sincopado em que o ritmo -às vezes apenas percutido em caixa-de-fósforos- está no mesmo tempo da voz.
"Pode reparar: o acompanhamento chega sempre atrasado em relação à voz nos sambas de hoje. Minha divisão não é assim tão simples. O meu samba é mais gostoso, vibra mais."
Germano não repisa um discurso rancoroso, comum entre deserdados do mercado fonográfico.
Avisa que estará no programa de estréia do (roqueiro) "Musikaos", da TV Cultura, ainda este mês -"porque o Gastão é corintiano e gostou da "Bandeira do Timão"'-, que já foi tema de um "Ensaio", da mesma emissora, que tem um documentário sobre ele -"Catedrático do Samba"-, com exibição programada para Portugal e Ucrânia, e que sairá com a Banda Redonda no pré-Carnaval paulistano.
Certo, vê "discriminação" e "dor-de-cotovelo" da parte do samba mainstream, acha que Zeca Pagodinho "não interpreta, só canta" e considera sua ausência das prateleiras culpa do "truste". Vez por outra, fala em jamais ter tido "sorte" na carreira.
Germano já gravou muito Zé Kéti, fez também vários sambas "cariocas" ("Amélia não gosta de passar fome não/ frequenta a praia do Arpoador/ E gosta de namorar só doutor"), diz que cantava "em qualquer tom". Agora achou o tom certo, está "muito melhor".
Só não canta nunca mais, por medo de represálias, "Minha Nega na Janela", que gravou no "Antologia do Samba Choro", disco de 1978 de Gilberto Gil, que pediu para dividi-lo com Germano.
Desta vez, a pedido de Germano, não vou dizer ao que ele comparava a nega. (PAULO VIEIRA)


Show: Germano Mathias Onde: Sesc Vila Mariana (rua Pelotas, 141, Vila Mariana, tel. 0/xx/11/5080-3000) Quando: hoje, 20h30 Quanto: R$ 4 e R$ 2 (estudantes, comerciários e pessoas com mais de 65 anos)

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