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"ORGULHO E PRECONCEITO"
Diretor Joe Wright sopra ares novos e tira o pó do filme de época
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Entre as razões para gostar
de um filme, uma bela atriz
está longe de ser o menos aceitável. E a atriz de "Orgulho e Preconceito" é dessas que fazem os
espectadores prometerem a si
mesmos que conseguirão até decorar seu nome: Keira Knightley.
O papel ajuda: sua Elizabeth
Bennett é uma jovem inglesa bela,
inteligente, orgulhosa, cuja língua
ferina a impede de encontrar pretendente; ela não vê homem à sua
altura. Estamos num mundo a
que Jane Austen nos familiarizou.
Mas também no mundo das
adaptações de época britânicas,
normalmente condenadas ao academismo mais sombrio.
É verdade que o plano de abertura induz a prever o pior: um
longo plano-seqüência passando
do exterior de uma casa ao interior e vice-versa. Parece imitação
de Robert Altman. Nos preparamos desde logo para mais um
duelo entre ricos e pobres, mediados por um código de etiqueta paralisante (da ação, em todo caso).
Talvez a diferença entre este filme e outros do gênero esteja no
fato de o diretor Joe Wright não se
apoiar em sua heroína para compor mais uma tardia ode à emancipação feminina ou uma crítica à
aristocracia. Mais inteligente,
Wright busca coisa mais interessante. Temos os ensaios de romance entre Elizabeth e o soturno
Darcy (Mathew MacFadyen), entre Jane (Rosamund Pike), irmã
mais velha de Elizabeth, e o tolo
Charles (Simon Woods).
Bingley, apaixonado por Jane,
afasta-se dela por não se julgar
amado. Já Elizabeth rejeita Darcy
por acreditá-lo mau caráter. A ciranda de equívocos parece não ter
fim: todos se equivocam todo o
tempo, e isso lança uma luz sobre
a etiqueta. A codificação exaustiva do comportamento ali existe
para minimizar o erro, diminuindo a margem de subjetividade dos
atos dos envolvidos, que serão
traídos pelos pensamentos.
Eles pensam, e por isso erram.
Erram porque não são bobos -e
não o inverso. Erram porque, sendo humanos, só podem chegar a
algum tipo de convivência se a
idéia de tolerância não for inteiramente derrotada. Nesse instante
podemos voltar à atriz: o encanto
de Knightley vem em grande parte do fato de que ela pensa em
tempo integral. Ela substitui a etiqueta pelo pensamento, a convenção pelas idéias próprias. Seus
olhos brilham, o sorriso e o choro
são dotados de uma intensidade
que vem das idéias que os perpassam. Ela nos faz esquecer que o
filme tem erros e momentos mortos. Mas se a tolerância impera,
não se deve exigir que Wright
acerte em tudo. Arejar esse gênero empoeirado já não é pouco.
Orgulho e Preconceito
Pride & Prejudice
Produção: França/Reino Unido, 2005
Direção: Joe Wright
Com: Keira Knightley, Mathew
MacFadyen
Quando: a partir de hoje nos cines Morumbi, Shopping D e circuito
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