São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2000


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VIENA
Museu vira obra de arte para ser sentida

especial para a Folha, em Viena


E a espiral deu um nó. Essa figura geométrica e vegetal converteu-se em marca registrada do artista industrial austríaco Friedensreich Hundertwasser, morto em 19 de fevereiro no oceano Pacífico, a bordo de seu barco "Queen Elizabeth 2ª". Coincidente e inadvertidamente, eu visitava naquele sábado a sua KunstHausWien.
A KunstHaus é uma casa de arte em Viena, museu fundado em 1991 a partir de um complexo de escritórios e fábricas de 1892, e projetado pelo próprio artista.

Coleção
A casa abriga, em dois de seus andares, a coleção Hundertwasser. Em dois outros, apresenta exposições temporárias (veja ao lado).
Há ainda um café, loja, pátio e jardim, numa construção que ostenta os slogans "um museu como deveria ser" e "um museu que faz você se sentir em casa".
É mesmo um museu singular, fora de clichês e esquadros das réguas arquitetônicas convencionais.
Se, às vezes, a criatividade satura pelo excesso de originalidade é inegável que pisar no chão desnivelado do museu e passear pelos espaços planejados torna-se uma experiência fascinante.

Pedras
A fachada impressiona pelo mosaico (à la Arp e Miró). Na entrada, a escultura feita com Hans Muhr: "Panta Rhei - Tudo Flui", metáfora de sua arte, fonte com água circulando por mais de 34 tipos de pedras, provenientes de países como África, Áustria, China, Cuba, Itália, Pérsia, Rússia, Turquia e Brasil.

Chão desnivelado
Além das paredes (e o que há nelas) repletas de diversas pastilhas e materiais, outra atração da KunstHausWien é seu chão irregular e fora de nível, que repele a norma do chão plano e a regra da linha reta e acentua o contato com o solo: imanta as plantas do pé, da natureza e da arquitetura. Para Hundertwasser, "melodia para o andar" é recuperar a harmonia natural.
Uma frase sua, no início da exposição, avisa: é mais importante a linha que o visitante traçar com seu trajeto do que as linhas pintadas nos quadros.
A coleção Hundertwasser exibe extratos da vasta obra do artista: pinturas, peças gráficas, desenhos, esboços, tapeçarias, produtos em série, maquetes e projetos arquitetônicos e ecológicos (como os de uma igreja e um incinerador).
A KunstHausWien orgulha-se de ser o primeiro museu na Áustria a existir como empreendimento privado, sem qualquer subsídio público.
Hundertwasser nasceu Friederich Stowasser em 1928, em Viena. Em 53 começou a fazer as espirais e as linhas que transbordam do quadro.
Traços originais que identificam sua dicção pessoal, são como iluminuras ancestrais, algo entre as garatujas de um Klimt e um Klee crivadas de acento místico e pop.
Ele viveu na Itália, África e Japão. Ultimamente, morava entre a Áustria e a Nova Zelândia. Famoso e rico, virou grife e até rótulo da água mineral Voslauer.
Para Hundertwasser, "a arte deve ter um propósito e criar valores duradouros" e "o ato de criação tem lugar sob a forma de uma espiral".
Emblema do ciclo vital e do processo da morte, "a espiral repousa no mesmo ponto em que a matéria inanimada se transforma em vida", diz numa de suas últimas linhas.
(CARLOS ADRIANO)


Museu: KunstHausWien (endereço: Untere Weissgerberstrasse, 13, Viena, tel. 00 XX 43 1 712 0495)




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