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VIENA
Museu vira obra de arte para ser sentida
especial para a Folha, em Viena
E a espiral deu um nó. Essa figura geométrica e vegetal converteu-se em marca registrada do artista industrial austríaco Friedensreich Hundertwasser, morto
em 19 de fevereiro no oceano Pacífico, a bordo de seu barco
"Queen Elizabeth 2ª". Coincidente e inadvertidamente, eu visitava
naquele sábado a sua KunstHausWien.
A KunstHaus é uma casa de arte
em Viena, museu fundado em
1991 a partir de um complexo de
escritórios e fábricas de 1892, e
projetado pelo próprio artista.
Coleção
A casa abriga, em dois de seus
andares, a coleção Hundertwasser. Em dois outros, apresenta exposições temporárias (veja ao lado).
Há ainda um café, loja, pátio e
jardim, numa construção que ostenta os slogans "um museu como deveria ser" e "um museu que
faz você se sentir em casa".
É mesmo um museu singular,
fora de clichês e esquadros das réguas arquitetônicas convencionais.
Se, às vezes, a criatividade satura pelo excesso de originalidade é
inegável que pisar no chão desnivelado do museu e passear pelos
espaços planejados torna-se uma
experiência fascinante.
Pedras
A fachada impressiona pelo
mosaico (à la Arp e Miró). Na entrada, a escultura feita com Hans
Muhr: "Panta Rhei - Tudo Flui",
metáfora de sua arte, fonte com
água circulando por mais de 34 tipos de pedras, provenientes de
países como África, Áustria, China, Cuba, Itália, Pérsia, Rússia,
Turquia e Brasil.
Chão desnivelado
Além das paredes (e o que há
nelas) repletas de diversas pastilhas e materiais, outra atração da
KunstHausWien é seu chão irregular e fora de nível, que repele a
norma do chão plano e a regra da
linha reta e acentua o contato com
o solo: imanta as plantas do pé, da
natureza e da arquitetura. Para
Hundertwasser, "melodia para o
andar" é recuperar a harmonia
natural.
Uma frase sua, no início da exposição, avisa: é mais importante
a linha que o visitante traçar com
seu trajeto do que as linhas pintadas nos quadros.
A coleção Hundertwasser exibe
extratos da vasta obra do artista:
pinturas, peças gráficas, desenhos, esboços, tapeçarias, produtos em série, maquetes e projetos
arquitetônicos e ecológicos (como os de uma igreja e um incinerador).
A KunstHausWien orgulha-se
de ser o primeiro museu na Áustria a existir como empreendimento privado, sem qualquer
subsídio público.
Hundertwasser nasceu Friederich Stowasser em 1928, em Viena. Em 53 começou a fazer as espirais e as linhas que transbordam do quadro.
Traços originais que identificam sua dicção pessoal, são como
iluminuras ancestrais, algo entre
as garatujas de um Klimt e um
Klee crivadas de acento místico e
pop.
Ele viveu na Itália, África e Japão. Ultimamente, morava entre
a Áustria e a Nova Zelândia. Famoso e rico, virou grife e até rótulo da água mineral Voslauer.
Para Hundertwasser, "a arte deve ter um propósito e criar valores
duradouros" e "o ato de criação
tem lugar sob a forma de uma espiral".
Emblema do ciclo vital e do processo da morte, "a espiral repousa
no mesmo ponto em que a matéria inanimada se transforma em
vida", diz numa de suas últimas linhas.
(CARLOS ADRIANO)
Museu: KunstHausWien (endereço:
Untere Weissgerberstrasse, 13, Viena, tel. 00 XX 43 1 712 0495)
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