São Paulo, sábado, 10 de março de 2001

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"VIDA DE BEBÊ"

Livro de Paul Reiser não tem a mesma graça

CLÁUDIA COLLUCCI
EDITORA-ASSISTENTE DE TREINAMENTO

"Vou ser totalmente franco. Este não é o tipo de livro que vai ajudar você." O alerta, feito em tom de brincadeira pelo próprio autor, o ator norte-americano Paul Reiser, pode muito bem ser levado ao pé da letra.
"Vida de Bebê" ("Babyhood"), recém-lançado no Brasil, mais parece um roteiro da série "Mad about You", exibida no Brasil com o nome "Louco por Você", pela Sony, em que Reiser é a estrela principal. Só não tem a mesma graça.
Fórmula igual já foi usada por Reiser em seu primeiro livro, "Couplehood" (editado em 1995 e sem tradução para o português), no qual ele relata as vantagens e desvantagens de uma vida a dois.
Com capítulos curtos e recheado de diálogos, "Vida de Bebê" narra a história do próprio Reiser, um desses camaradas que preferia deixar de fazer sexo a ter de fazê-lo com o intuito de procriar.
Até que um dia pensou bem e concluiu que os argumentos para deixar de ter uma criança em casa eram todos superficiais.
"Quando você percebe que está deixando de ter filhos só para puxar um ronco de vez em quando e ter sempre tempo disponível para ver "Batman 6 - A Aposentadoria" no dia de estréia, tem que ser duro consigo mesmo e reconhecer: "Eu sou uma pessoa muito, muito superficial'", diz um trecho do livro.
O texto segue em tom de diário, relatando o cotidiano de um casal desde o momento em que decide virar um trio. Da odisséia pelo mundo encantado da bebezada, percorrendo quilômetros de prateleiras, às alegrias e sustos da primeira risada e do primeiro arroto.
Falta, porém, mais realismo a esse enredo. No mundo cor-de-rosa de Reiser, tudo é resolvido com muito bom humor. Às vezes até em excesso.
Durante a gravidez, por exemplo, ele pergunta à mulher, que reclamava de enjôo após ter comido oito bananas, se teria alguma coisa a fazer por ela. Imediatamente ela dispara: "Tem. Cala a boca e me deixa em paz".
Ele releva, dá a outra face, sob o argumento de que a "chave da sobrevivência" é aceitar o fato de que nada do que fizesse daria certo mesmo. Quantos maridos você conhece que agiriam assim?
Mas o imperdoável mesmo no livro é a tradução para o português de palavras, nomes de pessoas ou situações americanas. A "tropicalização" dessas frases, além de não ter a menor graça, soa muito superficial.
Em um trecho, Reiser sugere à mulher, Paula, um nome televisivo para o filho: "Jô Soares, João Gilberto, Jornal Nacional...". Pior que isso é o nome de um capítulo, que relata as peripécias durante o banho do bebê: "Água de bebê, água de bebê, camará". É de fazer qualquer bebê chorar.
Enfim, "Vida de Bebê" é um tipo de livro que não ajuda, mas também não atrapalha. As pessoas bem-humoradas até conseguem arrancar algumas risadas.
"Mas, se eu tiver que comprar um livro, não deveria comprar um que fosse realmente útil?", questiona o autor na apresentação do livro. É, talvez seja melhor seguir o conselho de Reiser.



Vida de Bebê
Babyhood
  
Autor: Paul Reiser
Tradutor: Rick Goodwin
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 21,90 (211 págs.)




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