|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"VIDA DE BEBÊ"
Livro de Paul Reiser não tem a mesma graça
CLÁUDIA COLLUCCI
EDITORA-ASSISTENTE DE TREINAMENTO
"Vou ser totalmente franco. Este não é o tipo de livro que vai ajudar você." O alerta,
feito em tom de brincadeira pelo
próprio autor, o ator norte-americano Paul Reiser, pode muito
bem ser levado ao pé da letra.
"Vida de Bebê" ("Babyhood"),
recém-lançado no Brasil, mais parece um roteiro da série "Mad
about You", exibida no Brasil
com o nome "Louco por Você",
pela Sony, em que Reiser é a estrela principal. Só não tem a mesma
graça.
Fórmula igual já foi usada por
Reiser em seu primeiro livro,
"Couplehood" (editado em 1995 e
sem tradução para o português),
no qual ele relata as vantagens e
desvantagens de uma vida a dois.
Com capítulos curtos e recheado de diálogos, "Vida de Bebê"
narra a história do próprio Reiser,
um desses camaradas que preferia deixar de fazer sexo a ter de fazê-lo com o intuito de procriar.
Até que um dia pensou bem e
concluiu que os argumentos para
deixar de ter uma criança em casa
eram todos superficiais.
"Quando você percebe que está
deixando de ter filhos só para puxar um ronco de vez em quando e
ter sempre tempo disponível para
ver "Batman 6 - A Aposentadoria"
no dia de estréia, tem que ser duro
consigo mesmo e reconhecer: "Eu
sou uma pessoa muito, muito superficial'", diz um trecho do livro.
O texto segue em tom de diário,
relatando o cotidiano de um casal
desde o momento em que decide
virar um trio. Da odisséia pelo
mundo encantado da bebezada,
percorrendo quilômetros de prateleiras, às alegrias e sustos da primeira risada e do primeiro arroto.
Falta, porém, mais realismo a
esse enredo. No mundo cor-de-rosa de Reiser, tudo é resolvido
com muito bom humor. Às vezes
até em excesso.
Durante a gravidez, por exemplo, ele pergunta à mulher, que reclamava de enjôo após ter comido
oito bananas, se teria alguma coisa a fazer por ela. Imediatamente
ela dispara: "Tem. Cala a boca e
me deixa em paz".
Ele releva, dá a outra face, sob o
argumento de que a "chave da sobrevivência" é aceitar o fato de
que nada do que fizesse daria certo mesmo. Quantos maridos você
conhece que agiriam assim?
Mas o imperdoável mesmo no
livro é a tradução para o português de palavras, nomes de pessoas ou situações americanas. A
"tropicalização" dessas frases,
além de não ter a menor graça,
soa muito superficial.
Em um trecho, Reiser sugere à
mulher, Paula, um nome televisivo para o filho: "Jô Soares, João
Gilberto, Jornal Nacional...". Pior
que isso é o nome de um capítulo,
que relata as peripécias durante o
banho do bebê: "Água de bebê,
água de bebê, camará". É de fazer
qualquer bebê chorar.
Enfim, "Vida de Bebê" é um tipo de livro que não ajuda, mas
também não atrapalha. As pessoas bem-humoradas até conseguem arrancar algumas risadas.
"Mas, se eu tiver que comprar
um livro, não deveria comprar
um que fosse realmente útil?",
questiona o autor na apresentação do livro. É, talvez seja melhor
seguir o conselho de Reiser.
Vida de Bebê
Babyhood
Autor: Paul Reiser
Tradutor: Rick Goodwin
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 21,90 (211 págs.)
Texto Anterior: Livros/Lançamentos - "Tiros na Noite" : Coletânea traz contos atípicos Próximo Texto: Resenha da Semana - Bernardo Carvalho: Piada de brasileiro Índice
|