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CINEMA
Com "O Homem sem Passado", Finlândia vira uma das favoritas na disputa entre produções estrangeiras do Oscar
Solidão fecha "trilogia da exclusão" de Kaurismäki
DA REDAÇÃO
Desempregados, sem-teto, solitários. Esta será a ordem dos temas da trilogia de Aki Kaurismäki
iniciada em 1996 com "Nuvens
Passageiras", que, em outubro daquele ano, levou o prêmio de público na Mostra Internacional de
Cinema de São Paulo.
"O Homem sem Passado" dá
sequência a essa série com a tentativa de se reerguer de um homem
de meia-idade (Markku Peltola)
que perde a memória, os bens e a
bagagem de toda uma vida. Ele
será ajudado por uma integrante
do Exército de Salvação -organização vinculada a causas humanitárias-, vivida por Kati Outinen (eleita melhor atriz no Festival de Cannes pelo papel).
Aos poucos, a personagem de
Peltola vai emergir da declaração
de óbito -após a internação em
um hospital decorrente de um sério espancamento sem motivo-
até a redescoberta do prazer de
ouvir uma boa música, tomar
uma cerveja com um amigo ou
encontrar um novo amor.
Junto com seu passado, somem
os problemas antigos, mas surgem novos: conseguir um emprego para se sustentar e dinheiro para subornar um guarda e convencê-lo a fazer vista grossa enquanto
ele se abriga num pequeno contêiner à beira da costa, imitando a
moradia de outros excluídos da
riqueza finlandesa.
"Sem contar minhas adaptações
de clássicos [como "Crime e Castigo" (83), "Hamlet Vai à Luta" (87) e
"Juha" (98)" e os filmes que tratam
da banda de rock finlandesa Leningrad Cowboys ["Os Cowboys
de Leningrado Vão para a América" (90)", me concentro em descrever a Finlândia dos proletários
e dos perdedores. Ricos, para
mim, são chatos. Não há nada neles que dê enredo para um filme",
conta o cineasta.
Mesmo fazendo parte dos longas-metragens que retratam a
classe trabalhadora finlandesa, os
membros do Leningrad Cowboys
estão novamente presentes. "Não
pude evitar. Nasci com ritmo no
meu sangue", justifica.
Um pessimista
Assim, Kaurismäki, com um leve toque de Frank Capra, espalha
aos nossos olhos pitadas de humor e críticas à política social da
Finlândia. Ele discorda: "Capra
era um otimista, coisa que nunca
fui. Quis somente contar a história de alguém, enquadrada em algum lugar perto do gênero tragicômico".
O diretor usa todo o material rodado, nunca desperdiçando nenhum take. "Como sou eu mesmo que produzo meus filmes,
aprendi a não filmar nada que não
precise realmente. E quase sempre também faço a edição, portanto sei exatamente do que preciso", afirma ele, sobre seu estilo
econômico.
Favoritismo
A indicação ao Oscar de "O Homem sem Passado" na categoria
de filme estrangeiro elevou a Finlândia a um dos países favoritos
-ao lado de "Hero" (Herói), do
chinês Zhang Yimou- a levar a
estatueta, numa premiação ainda
inédita na história do país.
O melodrama mexicano "O Crime do Padre Amaro", de Carlos
Carrera, corre por fora explorando o gosto da Academia hollywoodiana por tramas latinas, enquanto o alemão "Nowhere in
Africa", de Caroline Link, e o obscuro holandês "Zus & Zo", de
Paula van der Oest, configuram-se como os azarões da premiação
dominical de 23 de março.
(LÚCIA VALENTIM RODRIGUES)
O HOMEM SEM PASSADO - Mies vailla
Menneisyyttä. Finlândia/França/
Alemanha, 2001. Direção: Aki
Kaurismäki. Com: Markku Peltola, Kati
Outinen. Em cartaz nos cinemas de São
Paulo e do Rio.
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