São Paulo, sexta, 10 de abril de 1998

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SERIADO X FILME
Bobagem ganha pretensão

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

"Perdidos no Espaço", a série de TV, era uma bobagem consciente. "Perdidos no Espaço", o filme, é estupidez pretensiosa.
O seriado de 35 anos atrás era como os filmes de Ed Wood: barato e ostensivamente falso (os monstros deixavam aparecer o zíper de suas fantasias). Mas, talvez por isso, divertido e curioso.
O filme, que conseguiu desbancar "Titanic" após 15 semanas no topo dos filmes mais vistos nos EUA, é como casa de novo-rico: caro, ostentatório e de extremo mau gosto.
Se você tem mais de 40 anos e pretende matar as saudades dos finais de tarde de domingo em que o Dr. Smith ("Oh dor!"), magistralmente vivido por Jonathan Harris e dublado por Borges de Barros, o divertia na TV Record, poupe-se a desilusão: não vá ao cinema ver essa suposta recriação.
O único ator que sobrou da série mostrada pela CBS em 1965 você não vai reconhecer: é a voz do robô ("Não tem resposta"), feita pelo ator Dick Tufeld. Alguns dos outros, como a mãe, June Lockhart, aparecem apenas em pontas, como convidados especiais.
Resta apenas a beleza de Mimi Rogers, que substitui Lockhart. Mas se seu objetivo é vê-la, vá à locadora e pegue "Perigo na Noite" ("Someone to Watch Over Me"): ela está dez anos mais moça, muito mais sensual, e o filme de Ridley Scott, embora não seja nenhuma obra-prima, é cem vezes melhor que essa pataqueira aventura espacial.
Particularmente ridículo é William Hurt no papel do pai, John Robinson, com pretensões filosóficas ao enfrentar os desafios intergalácticos a bordo da Júpiter 2.
A semelhança entre a série e o filme se resume ao título, aos nomes dos personagens e ao cerne do enredo: uma família típica vai para o espaço em busca de outro planeta para abrigar os terráqueos (a Terra está ameaçada de destruição ecológica), mas se perde por causa de um clandestino a bordo: o vil psicopata Dr. Smith (que ainda é o melhor personagem, bem interpretado por Gary Oldman).
O resto do filme são efeitos especiais fantásticos e sem sentido, que tomaram a maior parte dos US$ 75 milhões do orçamento, e um amontoado de lugares-comuns mal escritos e mal dirigidos.
Entre as muitas vantagens do seriado estava a de que era fácil se livrar dele com uma ida ao banheiro ou à cozinha para um gole de refrigerante ou para anúncios a cada 15 minutos. No cinema, é mais difícil conseguir um alívio.
Se você é muito novo para ter memórias a preservar do seriado e tiver curiosidade de saber o que pode ser mais tolo que "Titanic" e fazer mais dinheiro do que ele num fim-de-semana nos EUA, então esse filme pode ser opção.



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