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SERIADO X FILME
Bobagem ganha pretensão
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
"Perdidos no Espaço", a série de
TV, era uma bobagem consciente.
"Perdidos no Espaço", o filme, é
estupidez pretensiosa.
O seriado de 35 anos atrás era
como os filmes de Ed Wood: barato e ostensivamente falso (os
monstros deixavam aparecer o zíper de suas fantasias). Mas, talvez
por isso, divertido e curioso.
O filme, que conseguiu desbancar "Titanic" após 15 semanas no
topo dos filmes mais vistos nos
EUA, é como casa de novo-rico:
caro, ostentatório e de extremo
mau gosto.
Se você tem mais de 40 anos e
pretende matar as saudades dos finais de tarde de domingo em que o
Dr. Smith ("Oh dor!"), magistralmente vivido por Jonathan Harris
e dublado por Borges de Barros, o
divertia na TV Record, poupe-se a
desilusão: não vá ao cinema ver
essa suposta recriação.
O único ator que sobrou da série
mostrada pela CBS em 1965 você
não vai reconhecer: é a voz do robô ("Não tem resposta"), feita pelo ator Dick Tufeld. Alguns dos
outros, como a mãe, June Lockhart, aparecem apenas em pontas, como convidados especiais.
Resta apenas a beleza de Mimi
Rogers, que substitui Lockhart.
Mas se seu objetivo é vê-la, vá à
locadora e pegue "Perigo na Noite" ("Someone to Watch Over
Me"): ela está dez anos mais moça,
muito mais sensual, e o filme de
Ridley Scott, embora não seja nenhuma obra-prima, é cem vezes
melhor que essa pataqueira aventura espacial.
Particularmente ridículo é William Hurt no papel do pai, John
Robinson, com pretensões filosóficas ao enfrentar os desafios intergalácticos a bordo da Júpiter 2.
A semelhança entre a série e o
filme se resume ao título, aos nomes dos personagens e ao cerne
do enredo: uma família típica vai
para o espaço em busca de outro
planeta para abrigar os terráqueos
(a Terra está ameaçada de destruição ecológica), mas se perde por
causa de um clandestino a bordo:
o vil psicopata Dr. Smith (que ainda é o melhor personagem, bem
interpretado por Gary Oldman).
O resto do filme são efeitos especiais fantásticos e sem sentido, que
tomaram a maior parte dos US$
75 milhões do orçamento, e um
amontoado de lugares-comuns
mal escritos e mal dirigidos.
Entre as muitas vantagens do seriado estava a de que era fácil se
livrar dele com uma ida ao banheiro ou à cozinha para um gole de
refrigerante ou para anúncios a
cada 15 minutos. No cinema, é
mais difícil conseguir um alívio.
Se você é muito novo para ter
memórias a preservar do seriado e
tiver curiosidade de saber o que
pode ser mais tolo que "Titanic" e
fazer mais dinheiro do que ele
num fim-de-semana nos EUA, então esse filme pode ser opção.
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