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CINEMA-ESCOLA
"Balão' volta
para seduzir
as crianças
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
"O Balão Vermelho" (1956), de
Albert Lamorisse (1922-70), clássico absoluto do cinema infantil,
está de volta às telas, em cópia nova.
O filme será exibido no Espaço
Unibanco de Cinema, em São
Paulo, nas manhãs de 13 a 24 de
abril, dentro do Projeto Escola no
Cinema (leia texto abaixo). Entre
18 e 21 de abril "O Balão Vermelho" terá duas sessões diárias
abertas ao público, às 14h e às 15h.
Paralelamente à exibição do filme, será realizada, no saguão do
Espaço Unibanco, uma exposição
de trabalhos e experimentos do arquiteto e artista plástico Guto Lacaz (leia texto abaixo).
Leveza
Serão desenvolvidas também,
junto às crianças das escolas, oficinas de trabalho tendo como tema
o elemento ar.
Nada mais apropriado. Afinal,
"O Balão Vermelho" pode ser descrito como um filme sobre a leveza. Em 30 minutos e sem diálogos,
conta a história de amor entre um
menino e um balão de gás que o
acompanha pelas ruas de Paris.
Ao fugir dos outros personagens
e seguir o garoto por todo canto, o
balão vermelho acaba por se assemelhar a um bichinho de estimação, num processo que o crítico
francês André Bazin chamou de
zoomorfização -em contraste
com a antropomorfização ou humanização dos animais, procedimento mais comum nos filmes e
desenhos infantis.
Bazin dedicou um capítulo célebre ("Montagem Proibida") de
seu "O Que É o Cinema?" à análise
de "O Balão Vermelho", comparando-o com os filmes "Crin
Blanc, le Cheval Sauvage", do próprio Albert Lamorisse, e "Une Fée
pas Comme les Autres", de Jean
Tourane.
Para o crítico, o encanto de "O
Balão Vermelho" reside no fato de
dispensar os recursos da montagem cinematográfica na construção da ilusão de que o balão tem
vida própria.
Quer dizer, há truques, lógico
("senão, estaríamos diante de um
documentário sobre um milagre",
diz Bazin), mas esses nada devem
à montagem do filme, ou seja, a
seus cortes e elipses.
Como consequência, é como se
presenciássemos uma fantasia em
estado puro, só que num mundo
muito concreto, de becos, bondes,
ruas e escolas.
Imaginário infantil
Visto hoje, mais de quatro décadas depois de sua realização, "O
Balão Vermelho" mostra-se ainda
mais fascinante.
Não acontece no filme nada de
excepcional, a não ser o próprio
"comportamento" do balão.
Um menino encontra-o enroscado num poste de iluminação,
"salva-o" e a partir daí ganha sua
amizade e lealdade. Os professores, os parentes, os outros garotos
da escola e do bairro, todos tentam se apoderar do balão, mas ele
só quer saber de seu amigo.
Os dois brincam de esconder,
combinam estratagemas, enganam todo mundo. São cúmplices e
companheiros, mais ou menos como os amigos imaginários que
costumam fazer companhia às
crianças solitárias.
A idéia da amizade incondicional e sem limite, figura recorrente
do imaginário infantil, encontra
aqui uma representação original e
inesquecível.
Para o espectador brasileiro, há
uma curiosidade: numa passagem
rápida, aparece numa parede de
beco um cartaz do filme "O Cangaceiro", de Lima Barreto, então
em exibição na França. O detalhe é
que a grafia do título está errada:
"O Congaceiro".
Nas últimas quatro décadas o
mundo mudou um bocado, sobretudo para as crianças.
Hoje é difícil imaginar um menino de oito anos andando sozinho
-a pé, de bonde ou bicicleta
-pelas ruas de uma grande cidade, a não ser que seja um "menino
de rua". Há 40 anos, todo menino
era de rua, pelo menos no mundo
de Lamorisse, um apaixonado pelo ar livre que inventou um sistema de filmagem em balão (o Melievisien) e morreu num acidente
de helicóptero, quando filmava
cenas aéreas no Irã.
Resta saber se as crianças de hoje, soterradas por bundas e tiros,
terão a paciência suficiente para
embarcar nessa viagem.
Filme: O Balão Vermelho
Produção: França, 1956, 30 min.
Direção: Albert Lamorisse
Com: Pascal Lamourisse
Quando: de 13 a 24 de abril, no Espaço
Unibanco (r. Augusta, 1.470/1.475)
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