São Paulo, sexta, 10 de abril de 1998

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CINEMA-ESCOLA
"Balão' volta para seduzir as crianças

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

"O Balão Vermelho" (1956), de Albert Lamorisse (1922-70), clássico absoluto do cinema infantil, está de volta às telas, em cópia nova.
O filme será exibido no Espaço Unibanco de Cinema, em São Paulo, nas manhãs de 13 a 24 de abril, dentro do Projeto Escola no Cinema (leia texto abaixo). Entre 18 e 21 de abril "O Balão Vermelho" terá duas sessões diárias abertas ao público, às 14h e às 15h.
Paralelamente à exibição do filme, será realizada, no saguão do Espaço Unibanco, uma exposição de trabalhos e experimentos do arquiteto e artista plástico Guto Lacaz (leia texto abaixo).
Leveza

Serão desenvolvidas também, junto às crianças das escolas, oficinas de trabalho tendo como tema o elemento ar.
Nada mais apropriado. Afinal, "O Balão Vermelho" pode ser descrito como um filme sobre a leveza. Em 30 minutos e sem diálogos, conta a história de amor entre um menino e um balão de gás que o acompanha pelas ruas de Paris.
Ao fugir dos outros personagens e seguir o garoto por todo canto, o balão vermelho acaba por se assemelhar a um bichinho de estimação, num processo que o crítico francês André Bazin chamou de zoomorfização -em contraste com a antropomorfização ou humanização dos animais, procedimento mais comum nos filmes e desenhos infantis.
Bazin dedicou um capítulo célebre ("Montagem Proibida") de seu "O Que É o Cinema?" à análise de "O Balão Vermelho", comparando-o com os filmes "Crin Blanc, le Cheval Sauvage", do próprio Albert Lamorisse, e "Une Fée pas Comme les Autres", de Jean Tourane.
Para o crítico, o encanto de "O Balão Vermelho" reside no fato de dispensar os recursos da montagem cinematográfica na construção da ilusão de que o balão tem vida própria.
Quer dizer, há truques, lógico ("senão, estaríamos diante de um documentário sobre um milagre", diz Bazin), mas esses nada devem à montagem do filme, ou seja, a seus cortes e elipses.
Como consequência, é como se presenciássemos uma fantasia em estado puro, só que num mundo muito concreto, de becos, bondes, ruas e escolas.
Imaginário infantil
Visto hoje, mais de quatro décadas depois de sua realização, "O Balão Vermelho" mostra-se ainda mais fascinante.
Não acontece no filme nada de excepcional, a não ser o próprio "comportamento" do balão.
Um menino encontra-o enroscado num poste de iluminação, "salva-o" e a partir daí ganha sua amizade e lealdade. Os professores, os parentes, os outros garotos da escola e do bairro, todos tentam se apoderar do balão, mas ele só quer saber de seu amigo.
Os dois brincam de esconder, combinam estratagemas, enganam todo mundo. São cúmplices e companheiros, mais ou menos como os amigos imaginários que costumam fazer companhia às crianças solitárias.
A idéia da amizade incondicional e sem limite, figura recorrente do imaginário infantil, encontra aqui uma representação original e inesquecível.
Para o espectador brasileiro, há uma curiosidade: numa passagem rápida, aparece numa parede de beco um cartaz do filme "O Cangaceiro", de Lima Barreto, então em exibição na França. O detalhe é que a grafia do título está errada: "O Congaceiro".
Nas últimas quatro décadas o mundo mudou um bocado, sobretudo para as crianças.
Hoje é difícil imaginar um menino de oito anos andando sozinho -a pé, de bonde ou bicicleta -pelas ruas de uma grande cidade, a não ser que seja um "menino de rua". Há 40 anos, todo menino era de rua, pelo menos no mundo de Lamorisse, um apaixonado pelo ar livre que inventou um sistema de filmagem em balão (o Melievisien) e morreu num acidente de helicóptero, quando filmava cenas aéreas no Irã.
Resta saber se as crianças de hoje, soterradas por bundas e tiros, terão a paciência suficiente para embarcar nessa viagem.

Filme: O Balão Vermelho Produção: França, 1956, 30 min. Direção: Albert Lamorisse Com: Pascal Lamourisse
Quando: de 13 a 24 de abril, no Espaço Unibanco (r. Augusta, 1.470/1.475)


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