São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2000


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MÚSICA
Filho mais velho de Wilson Simonal, artista estréia solo com "Volume 2", regravando o pai, Jorge Ben e Johnny Alf
Simoninha reata herança de bossa e soul

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos poucos, o nome Wilson Simonal vai reaparecendo no vocabulário da música popular brasileira, mesmo que de forma indireta. Depois de Max de Castro, agora é a vez de outro filho do cantor carioca (um dos mais populares no país na virada dos anos 60 aos 70) estrear carreira solo.
Wilson Simoninha, que confirma a herança no nome e na semelhança física com o pai, lança "Volume 2", primeiro trabalho só seu. Antes, participara do projeto "João Marcello Bôscoli & Cia." (95) e do há pouco lançado "Artistas Reunidos", festim em CD ao vivo promovido, entre outros, pelos filhos de Simonal, de Elis Regina e de Jair Rodrigues.
"Já fiz tanta coisa, tanto projeto... Tudo isso era o volume 1 da minha carreira. Agora começa o volume 2", justifica o título inusitado da estréia. Simoninha seria o volume 2 de Simonal?
"A influência musical dele no que faço é muito nítida. Regravei do repertório dele "Nanã" (64), que acho uma obra-prima de afro-samba. Moacir Santos, um dos autores, era um maestro de cor que as pessoas não respeitavam e que acabou se radicando nos EUA. Sou fruto disso, tudo o que é injustiça me incomoda."
Tudo o que Simoninha fez antes se espraia por várias áreas. Sócio de uma produtora de jingles publicitários, já atuou na produção de festivais como o Free Jazz e o Hollywood Rock e integrou, nos anos 80, a Banda do Zé Pretinho de Jorge Ben Jor (então só Ben).
Hoje, além de artista da Trama, é também diretor artístico de uma das subdivisões da gravadora dirigida por João Marcello Bôscoli. Estão sob sua responsabilidade artistas como Baden Powell, Leci Brandão, Demônios da Garoa, Banda de Pífanos de Caruaru, Cláudio Zoli e a filharada de Elis, Jair e Simonal, entre outros.
As atividades colaterais não arriscam marginalizar o artista? "Marvin Gaye e Smokey Robinson tinham atividade de diretores artísticos. Aloysio de Oliveira, na Elenco, também. No Brasil de agora é que isso deixou de acontecer. Mas nunca tive pretensão de ser diretor artístico, nem quero ficar muito tempo nisso. Aceitei para ajudar a Trama na realização de um sonho, para fazer isso sem sujar as mãos. O sistema fonográfico está todo viciado, e estamos numa equipe que não é viciada, que não era do mercado."
Mais: "Sempre tive certeza de que ia ser artista, embora num momento tenha pensado em fazer direito, para entender e me defender do que eu via acontecer ao meu redor".
Ele se refere, indiretamente, ao ostracismo vivido pelo pai, com quem ele não falava ("por problemas familiares") havia oito anos, até, recentemente, Simonal adoecer ("ele foi a primeira pessoa para quem enviei meu disco").
Mais diretamente: "Para mim sempre foi muito claro que ele foi injustiçado. Quando vejo que sou querido, que as pessoas gostam de mim, lembro que muito do que sou foram meu pai e minha mãe que me ensinaram. Aprendi tudo com ele, vivi de perto sua mágoa".
"Volume 2" também homenageia por regravações a bossa nova de Johnny Alf (em "Eu e a Brisa", 67) e o samba esquema novo de Jorge Ben ("Bebete Vãobora", 69).
"Johnny Alf é um gênio, não tem o reconhecimento merecido. Quando era moleque, eu ia com meu pai e o via cantando em piano-bar, as pessoas conversando ao redor. Isso me marcou, não sei se trago a lembrança da injustiça nas minhas escolhas."
Com Jorge Ben (Jor), autor de alguns dos maiores sucessos na voz de Simonal -"País Tropical" (69), "Zazueira" (68)-, a relação é, além de musical, afetiva.
"Tive a felicidade de ajudar na explosão dele em 93, com "W/Brasil". Com toda a sua pureza, de não ter estudado música, descobriu um groove que era só dele. Às vezes, penso por que, com todos meus estudos de harmonia, não consigo fazer uma música tão maravilhosa quanto a dele. Adoraria tê-lo na gravadora, ele sabe disso", seduz o artista/diretor artístico, "Volume 2" a tiracolo.


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