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MÚSICA
Filho mais velho de Wilson Simonal, artista estréia solo com "Volume 2", regravando o pai, Jorge Ben e Johnny Alf
Simoninha reata herança de bossa e soul
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos poucos, o nome Wilson Simonal vai reaparecendo no vocabulário da música popular brasileira, mesmo que de forma indireta. Depois de Max de Castro, agora é a vez de outro filho do cantor
carioca (um dos mais populares
no país na virada dos anos 60 aos
70) estrear carreira solo.
Wilson Simoninha, que confirma a herança no nome e na semelhança física com o pai, lança
"Volume 2", primeiro trabalho só
seu. Antes, participara do projeto
"João Marcello Bôscoli & Cia."
(95) e do há pouco lançado "Artistas Reunidos", festim em CD ao
vivo promovido, entre outros, pelos filhos de Simonal, de Elis Regina e de Jair Rodrigues.
"Já fiz tanta coisa, tanto projeto... Tudo isso era o volume 1 da
minha carreira. Agora começa o
volume 2", justifica o título inusitado da estréia. Simoninha seria o
volume 2 de Simonal?
"A influência musical dele no
que faço é muito nítida. Regravei
do repertório dele "Nanã" (64),
que acho uma obra-prima de
afro-samba. Moacir Santos, um
dos autores, era um maestro de
cor que as pessoas não respeitavam e que acabou se radicando
nos EUA. Sou fruto disso, tudo o
que é injustiça me incomoda."
Tudo o que Simoninha fez antes
se espraia por várias áreas. Sócio
de uma produtora de jingles publicitários, já atuou na produção
de festivais como o Free Jazz e o
Hollywood Rock e integrou, nos
anos 80, a Banda do Zé Pretinho
de Jorge Ben Jor (então só Ben).
Hoje, além de artista da Trama,
é também diretor artístico de uma
das subdivisões da gravadora dirigida por João Marcello Bôscoli.
Estão sob sua responsabilidade
artistas como Baden Powell, Leci
Brandão, Demônios da Garoa,
Banda de Pífanos de Caruaru,
Cláudio Zoli e a filharada de Elis,
Jair e Simonal, entre outros.
As atividades colaterais não arriscam marginalizar o artista?
"Marvin Gaye e Smokey Robinson tinham atividade de diretores
artísticos. Aloysio de Oliveira, na
Elenco, também. No Brasil de
agora é que isso deixou de acontecer. Mas nunca tive pretensão de
ser diretor artístico, nem quero ficar muito tempo nisso. Aceitei
para ajudar a Trama na realização
de um sonho, para fazer isso sem
sujar as mãos. O sistema fonográfico está todo viciado, e estamos
numa equipe que não é viciada,
que não era do mercado."
Mais: "Sempre tive certeza de
que ia ser artista, embora num
momento tenha pensado em fazer direito, para entender e me defender do que eu via acontecer ao
meu redor".
Ele se refere, indiretamente, ao
ostracismo vivido pelo pai, com
quem ele não falava ("por problemas familiares") havia oito anos,
até, recentemente, Simonal adoecer ("ele foi a primeira pessoa para quem enviei meu disco").
Mais diretamente: "Para mim
sempre foi muito claro que ele foi
injustiçado. Quando vejo que sou
querido, que as pessoas gostam
de mim, lembro que muito do que
sou foram meu pai e minha mãe
que me ensinaram. Aprendi tudo
com ele, vivi de perto sua mágoa".
"Volume 2" também homenageia por regravações a bossa nova
de Johnny Alf (em "Eu e a Brisa",
67) e o samba esquema novo de
Jorge Ben ("Bebete Vãobora", 69).
"Johnny Alf é um gênio, não
tem o reconhecimento merecido.
Quando era moleque, eu ia com
meu pai e o via cantando em piano-bar, as pessoas conversando
ao redor. Isso me marcou, não sei
se trago a lembrança da injustiça
nas minhas escolhas."
Com Jorge Ben (Jor), autor de
alguns dos maiores sucessos na
voz de Simonal -"País Tropical"
(69), "Zazueira" (68)-, a relação
é, além de musical, afetiva.
"Tive a felicidade de ajudar na
explosão dele em 93, com "W/Brasil". Com toda a sua pureza, de não
ter estudado música, descobriu
um groove que era só dele. Às vezes, penso por que, com todos
meus estudos de harmonia, não
consigo fazer uma música tão maravilhosa quanto a dele. Adoraria
tê-lo na gravadora, ele sabe disso", seduz o artista/diretor artístico, "Volume 2" a tiracolo.
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